31 de maio de 2009

19. CORRIDA



Nós chegamos pra o nosso vôo com apenas segundos pra gastar, e então a tortura
começou. O avião ficou inativo no portão enquanto as comissárias de bordo - muito casualmente -
andavam pra cima e pra baixo no corredor, apalpando as bolsas nos compartimentos pra ter
certeza de que elas cabiam. Os pilotos se inclinavam pra fora da cabine, conversando com elas
enquanto elas passavam. A mão de Alice estava dura no meu ombro, me segurando no ascento
enquanto eu saltava ansiosamente pra cima e pra baixo.
- Isso é mais rápido que ir correndo - ela me lembrou em uma voz baixa.
Eu só balancei a cabeça no ritmo dos meus pulos.
Enfim o avião se separava lentamente do portão aumentando a velocidade gradualmente
com uma estabilidade que me torturava ainda mais. Eu esperava sentir alguma espécie de alívio
quando finalmente começamos a decolar, mas o meu frenesí de impaciência não cessou.
Alice levantou o telefone nas costas do ascento na frente dela assim que paramos de subir,
dando as costas para a comissária de bordo que olhou pra ela com um olhar de desaprovação.
Alguma coisa na minha expressão impedia a comissária de vir protestar.
Eu tentei não prestar atenção no que Alice estava murmurando pra Jasper; eu não queria
ouvir as palavras de novo, mas alguma coisa escapou.
- Eu não posso ter certeza, e fico vendo ele fazer coisas diferentes, ele fica mudando de
idéia... Uma matança pela cidade, atacando um guarda, levantando um carro por cima da cabeça
na praça principal... um monte de coisas que poderiam expor eles, ele sabe que essa é a forma
mais rápida de forçar uma reação... Não, você não pode - a voz de Alice baixou até que já estava
quase inaudível, apesar de eu estar sentada a apenas alguns centímetros dela. Contrariada, eu
prestei mais atenção. - Diga a Emmett que não... Bem, vá atrás de Emmett e Rosalie e os traga de
volta... Pense nisso, Jasper. Se ele vir qualquer um de nós, o que você acha que ele vai fazer?
Ela balançou a cabeça. - Exatamente. Eu acho que Bella é a única chance, se houver uma
chance... Eu farei tudo o que puder ser feito, mas prepare Carlisle; as chances não são boas. - Ela
sorriu então, e havia um tom diferente na voz dela. - Eu pensei nisso... Sim, eu prometo - A voz
dela se tornou implorativa. - Não me siga. Eu prometo, Jasper. De um jeito ou de outro, eu me
viro... E eu te amo. Ela desligou, e se inclinou no ascento dela com os olhos fechados. - Eu odeio
mentir pra ele.
- Me diga tudo, Alice - eu implorei. - Eu não entendo. Porque você disse a Jasper pra parar
Emmett, porque eles não podem vir nos ajudar?
- Duas razões - ela cochichou, ainda com os olhos fechados. - A primeira eu disse pra ele.
Nós podemos tentar parar Edward sozinhas, se Emmett colocar as mãos em cima dele, nós
podemos ser capazes de pará-lo por tempo suficiente pra convencê-lo de que você está viva. Mas
não dá pra enganar Edward. Se eles vir qualquer um de nós se aproximando, ele simplesmente vai
agir muito mais rápido. Ele vai jogar um carro contra uma parede ou alguma coisa assim, e os
Volturi vão agarrar ele. E tem a segunda razão é claro, a razão que eu não consegui dizer pra
Jasper. Porque se eles estiverem lá e os Volturi matarem Edward, eles vão lutar com eles. Bella -
ela me encarou e abriu os olhos, suplicando. - Se houvesse alguma chance de nós vencermos... se
houvesse uma forma de nós quatro podermos lutar pra salvar o meu irmão, talvez isso fosse
diferente. Mas nós não podemos, e, Bella, eu não posso perder Japer desse jeito.
Eu me dei conta do porque de os olhos dela estarem implorando pela minha compreensão.
Ela estava protegendo Jasper, á nossas custas, e talvez as custas de Edward também. Eu entendí,
e não pensei mal dela. Eu balancei a cabeça.
- Contudo, será que Edward não poderia ouvir seus pensamentos? - eu perguntei.
- Ele não ia saber, assim que ouvisse seus pensamentos, que eu estou viva, que não havia
necessidade pra isso?
Não que isso fosse uma justificativa, de qualquer jeito. Eu ainda não acreditava que ele fosse
capaz de reagir dessa forma. Isso não fazia nenhum sentido! Eu me lambrava com dolorosa
clareza das suas palavras naquele dia no sofá, enquanto nós assistíamos Romeu e Julieta se
matarem. Eu não ia viver sem você, ele havia dito, como se isso fosse uma coclusão muito óbvia.
Mas as palavras que ele havia dito na floresta quando ele me deixou haviam cancelado essa coisa
toda - forçadamente.
- Se ele estivesse ouvindo - ela explicou. - Mas acredite ou não, é possível mentir em
pensamento. Se você tivesse morrido, eu ainda tentaria impedir ele. E eu estaria pensando 'Ela
está viva, ela está viva' o máximo que eu pudesse. Ele sabe disso.
Eu tranquei os dentes com uma frustração muda.
- Se houvesse uma forma de fazer isso sem você, Bella, eu não estaria te colocando em risco
dessa forma. É muito errado da minha parte.
- Não seja estúpida. Eu sou a última coisa com a qual você deve se preocupar. - Eu balancei
a cabeça impacientemente. - Me diga o que você quis dizer quando disse que odiava mentir pra
Jasper.
Ela deu um sorriso tímido. - Eu prometí a ele que ia me mandar antes que eles me
matassem também. Não é uma coisa que eu posso garantir, não por muito tempo. - Ela ergueu as
sobrancelhas, como se estivesse desejando que eu levasse o perigo mais a sério.
- Quem são esses Volturi? - eu quis saber em um suspiro. - O que os torna tão mais
perigosos do que Emmett, Jasper, Rosalie e você? - era difícil imaginar uma coisa mais
assustadora do que isso.
Ela respirou fundo, e então abruptamente deu uma olhada obscura por cima do meu ombro.
Eu me virei a tempo de ver um homem sentado na poltrona ao lado se virando como se estivesse
nos escutando. Ele aparentava ser um homem de negócios, em um terno escuro e uma gravata
poderosa e um laptop nos joelhos. Enquanto eu o encarava irritada, ele abriu o computador e
muito notavelmente colocou fones de ouvido.
Eu me inclinei pra mais perto de Alice. Os lábios dela estavam no meu ouvido enquanto ela
cochichava a história.
- Eu estava surpresa por você ter reconhecido o nome - ela disse. - Que você tenha
reconhecido tão imediatamente o que ele significava, quando eu disse que ele estava indo para a
Itália. Eu pensei que fosse ter que explicar. O quanto Edward te contou?
- Ele só disse que eles eram uma família antiga, poderosa, como a realeza. Que você não
devia chateá-los a menos que você quisesse... morrer. - Eu sussurrei. Essa última palavra foi difícil
de botar pra fora.
- Você precisa entender - ela disse, com a voz lenta, mais comedida agora. - Nós Cullen
somos únicos em mais maneiras do que você imagina. É... anormal tantos de nós vivendo juntos e
em paz. Isso é o mesmo para a família de Tânia vivendo no norte, e Carlisle especula que a nossa
abstinência facilita a nossa civilização, de forma que os nossos laços são mais de amor do que de
sobrevivência ou de conveniência. Mesmo o pequeno grupo de três de James era
extraordinariamente grande, e você viu como foi fácil pra Laurent abandoná-los. A nossa espécie
viaja sozinha, ou em pares, como se fosse uma regra geral. A família de Carlisle até onde eu sei é
a maior em existência, com uma excessão. Os Volturi. Haviam três deles originalmente, Aro, Caius,
e Marcus.
- Eu ví eles - eu murmurei. - Numa tela na sala de estudos de Carlisle.
Alice balançou a cabeça. - Duas fêmeas se juntaram a eles com o tempo, e eles cinco
formavam a família. Eu não tenho certeza, mas eu acho que é a idade deles que dá a eles a
habilidade de viverem juntos e em paz. Eles todos têm mais de trezentos anos. Ou talvez sejam os
dons deles que os dá tolerância extra. Como Edward e eu, Aro e Marcus são... talentosos.
Ela continuou antes que eu pudesse perguntar. - Ou talvez seja apenas o amor deles por
poder que os mantêm unidos. Realeza é uma descrição apta.
- Mas se só são cinco...
- Cinco que formam a família - ela me corrigiu. - Isso não inclui os guardas.
Eu respirei fundo. - Isso parece... sério.
- Oh, e é - ela me assegurou. - Haviam nove membros da guarda que eram permanentes, da
última vez que ouvimos falar. Os outros são mais... transitórios. Isso muda. E muitos deles tem
dons também, com dons formidáveis, que fazem os meus parecerem um truque de circo. Os
Volturi os escolhem pelas suas habilidades, físicas ou de outra espécie.
Minha boca se abriu, e depois se fechou de novo. Eu acho que não queria muito saber
quanto as nossas chances eram ruins.
Ela balançou a cabeça de novo, como se soubesse exatamente o que eu estava pensando. -
Eles não se envolvem em muitos confrontos. Ninguém é estúpido o suficiente pra se meter com
eles. Eles ficam na cidade deles, e só saem quando o dever os chama.
- O dever? - eu imaginei.
- Edward não te disse o que eles fazem?
- Não - eu disse, sentindo o meu rosto branco como papel.
Alice olhou por cima da minha cabeça de novo, para o homem de negócios, e colocou seus
lábios gelados no meus ouvido de novo.
- Há uma razão pela qual ele os chamou de realeza... as regras de governo. Através do
milênio, eles assumiram a posição de forçar as nossas regras, que na verdade, traduzindo significa
que eles punem os transgressores. Eles cumprem esse dever decisivamente.
Meus olhos se arregalaram com o choque. - Existem regras? - Eu perguntei numa voz que
era alta demais.
- Shh!
- Será que alguém não devia ter mencionado isso pra mim antes? - eu cochichei
raivosamente. - Quer dizer, eu queria ser uma... ser uma de vocês! Será que alguém não devia ter
explicado as regras pra mim?
Alice gargalhou uma vez com a minha reação. - Não é tão complicado, Bella. Só há um
caroço de restrição, e se você pensar nisso, você provavelmente vai descobrir qual é sozinha.
Eu pensei nisso. - Não. Eu não faço idéia.
Ela balançou a cabeça, desapontada. - Talvez seja óbvio demais. Nós só temos que manter a
nossa existência em segredo.
- Oh - eu murmurei. Era óbvio.
- Faz sentido, e a maioria de nós não precisa ser policiada - ela continuou. - Mas, depois de
alguns séculos, ás vezes um de nós fica de saco cheio. Ou louco. Eu não sei. E aí os Volturi se
intrometem antes que comprometam eles, ou o resto de nós...
- Então Edward...
- Está pretendendo desconsiderar isso na cidade deles, a cidade que eles têm protegido
secretamente por trezentos anos, desde o tempo dos etruscos. Eles protegem tanto aquela cidade
que não permitem que haja caça dentro de seus limites. Volterra é provavelmente a cidade mais
segura do mundo, pelo menos de ataques de vampiros.
- Mas você disse que eles não saem. Como é que eles saem?
- Eles não saem. Eles trazem a comida deles de fora, de bem longe as vezes. Isso dá aos
guardas deles alguma coisa pra fazer quando eles não estão aniquilando aves. Ou protegendo
Volterra da exposição...
- De situações como essa, como Edward - eu terminei a frase dela. Era incrivelmente fácil
dizer o nome dele agora. Eu não tinha a certeza de qual era a diferença. Talvez fosse porque eu
não estivesse planejando viver mais muito tempo sem ver ele. Ou sem vê-lo absolutamente, se
fosse tarde demais. Era reconfortante saber que eu podia acabar facilmente com as coisas.
- Eu duvido que eles já tenham tido que lidar com uma situação como essa - ela murmurou,
enojada. - Você não encontra muitos vampiros suicidas por aí.
O som que escapou da minha boca era muito baixo, mas Alice pareceu compreender que era
um choro de dor. Ela passou o seu braço magro, forte ao redor do meus ombros.
- Nós faremos o que pudermos, Bella. Ainda não está acabado.
- Ainda não. - Eu deixei ela me confortar, apesar de saber o quanto as chances eram
pequenas. - E os Volturi vão nos pegar se estrarmos as coisas.
Alice enrigeceu. - Você diz isso como se fosse uma coisa boa.
Eu levantei os ombros.
- Sai dessa, Bella, se não a gente desce em Nova York e eu te levo de volta pra Forks.
- O que?
- Você sabe o que. Se chegarmos tarde demais pra Edward, eu vou fazer o máximo que
puder pra te levar de volta pra Charlie, e eu não quero ter problemas com você. Você entendeu
isso?
- Claro, Alice.
Ela se afalstou um pouquinho pra que pudesse me olhar. - Nada de problemas.
- Palavras de escoteira - eu murmurei.
Ela revirou os olhos.
- Deixe eu me concentrar, agora. Eu estou tentando ver o que ele está planejando.
Ela deixou o braço ao meu redor, mas a cabeça dela encostou no ascento e ela fechou os
olhos. Ela pressionou a mão livre no lado do rosto, esfregando as pontas dos dedos nas têmporas.
Eu observei ela fascinadamente por algum tempo.
Eventualmente, ela ficou extremamente imóvel, o rosto dela parecia uma escultura de
mármore. Os minutos se passaram, e se eu não soubesse melhor, eu acharia que ela havia pego
no sono. Eu não me atrevi a interrompê-la pra perguntar o que estava acontecendo.
Eu desejei que houvesse uma coisa segura pra eu pensar. Eu não podia me permitir a
pensar nos horrores que estavam á frente, ou, mais horroroso ainda, na chance de que
pudessemos falhar, eu não podia pensar nisso se quisesse me impedir de gritar.
Eu também não podia antecipar nada. Talvez, se tivessemos muita, muita, muita sorte, nós
seriamos de alguma forma capazes de salvar Edward. Mas eu não era tão estúpida a ponto de
pensar que salvar ele significava que eu ficaria com ele. Isso não era diferente, nenhum pouco
mais especial do que era antes. Não havia nenhum motivo pra ele me querer agora. Ver ele e
perdê-lo de novo...
Eu lutei contra a dor. Esse era o preço que eu tinha que pagar para salvar a vida dele. E eu
ia pagar.
Eles passaram um filme, e o meu vizinho colocou os fones. As vezes eu olhava as figuras se
movendo na pequena tela, mas eu nem podia dizer se o filme era de romance ou de terror.
Depois de uma eternidade, o avião começou a descer na direção da cidade de Nova York.
Alice permaneceu no seu transe. Eu me arrepiei, me aproximando para tocá-la, só pra colocar
minha mão de volta. Isso aconteceu uma dúzia de vezes antes que o avião tocasse o chão com
um leve impacto.
- Alice - eu finalmente disse. - Alice, temos que ir.
Eu toquei o braço dela.
Seus olhos se abriram muito lentamente. Ela balançou a cabeça lentamente de um lado pro
outro por um momento.
- Algo novo? - eu perguntei numa voz baixa, consciente do homem que estava ouvindo do
meu lado.
- Não extamente - ela respirou numa voz que eu mal conseguí entender. - Ele está chegando
perto. Ele está decidindo como vai pedir.
Nós tivemos que correr pra pegar o próximo vôo, mas isso foi bom - melhor que ter que
esperar.
Assim que o avião estava no ar, Alice fechou os olhos e deslizou para aquele mesmo estado
de letargia de antes. Eu esperei tão pacientemente quanto pude. Quando já estava escuro de
novo, eu abri a janela pra olhar pra o escuro lá fora que não era nenhum pouco melhor do que
quando a janela estava fechada.
Eu estava agradecida por ter tido tanto tempo pra praticar com os controles dos meus
pensamentos. Ao invés de duelar com as horríveis possibilidades de que, não importava o que
Alice disesse, eu não ia sobreviver, eu me concentrei em problemas menores. Como, o que eu ia
dizer pra Charlie quando eu voltasse. Isso era problemático o suficiente pra me ocupar algumas
horas. E Jacob? Ele havia prometido esperar por mim, mas será que essa promessa ainda estava
de pé? Será que eu ia acabar sozinha em minha casa em Forks, sem absolutamente ninguém?
Talvez eu não quisesse sobreviver, independente do que acontecesse.
Parecia que só haviam se passado alguns segundos quando Alice balançou num ombro - eu
não me dei conta de que havia caído no sono.
- Bella - ela assobiou, a voz dela um pouco alta demais numa cabine escura cheia de
humanos adormecidos.
Eu não estava desorientada - eu não estive dormindo por tempo suficiente pra isso.
- Qual o problema?
Os olhos de Alice brilhavam na luz fraca de uma luz acesa na fileira atrás da nossa.
- Não é errado - ela sorriu impetuosamente. - Eles estão deliberando, mas eles decidiram
dizer não.
- Os Volturi? - eu murmurei, confusa.
- É claro, Bella, me acompanhe. Eu consigo ver o que eles vão dizer.
- Me diga.
Um atendente veio na ponta dos pés pelo corredor até nós. - Posso pegar um travesseiro
para as senhoritas? - ele disse com um cochicho que era uma repreensão em comparação com a
nossa conversa alta.
- Não, obrigada - Alice brilhou pra ele, com um sorriso chocantemente amável. A expressão
do atendente estava deslumbrada quando ele se virou e foi tropeçando de volta para o seu lugar.
- Me diga - eu respirei quase silenciosamente.
Ela sussurrou no meu ouvido. - Eles estão interessados nele, eles acham que o talento dele
pode ser útil. Eles vão oferecê-lo um lugar com eles.
- O que ele vai dizer?
- Isso eu ainda não sei dizer, mas eu aposto que vai ser mal educada - ela riu de novo. -
Essas são as primeiras boas notícias, o primeiro intervalo. Eles estão intrigados; eles realmente
não querem destruí-lo, 'desperdício' essa é a palavra que Aro vai usar, e isso deve ser o suficiente
pra forçá-lo a ser criativo. Quanto mais tempo ele gastar em seus planos, melhor pra nós.
Isso não era o suficiente pra me deixar esperançosa, pra me fazer sentir o alívio que ela
obviamente sentia. Ainda existem tantas formas de nós atrasarmos. E se eu não conseguisse
entrar na cidade dos Volturi, eu não seria capaz de impedir que Alice me arrastasse de volta pra
casa.
- Alice?
- O que?
- Eu estou confusa. Como é que você está vendo isso tão claramente? E depois outras vezes,
você vê coisas tão distantes, coisas que não acontecem.
Os olhos dela se estreitaram. Eu me perguntei se ela havia adivinhado o que eu estava
pensando.
- É claro porque é próximo e imediato, e eu realmente estou me concentrando. As coisas
mais distantes que acontecem por sí próprias, essas são só suposições, menos talvez. Além do
mais, eu enxergo a minha espécie muito mais claramente do que a sua. Edward é mais fácil
porque eu estou tão ligada a ele.
- Você me vê as vezes - eu lembrei ela.
Ela balançou a cabeça. - Não tão claramente.
Eu suspirei.
- Eu realmente queria que você estivesse certa sobre mim. No começo, quando você viu
coisas sobre mim, mesmo antes de termos nos conhecido...
- O que você quer dizer?
- Você viu eu me tornar uma de vocês - eu mal murmurei as palavras.
Ela suspirou. - Era uma possibilidade naquela época.
- Naquela época - eu repetí.
- Na verdade, Bella - ela hesitou, e depois pareceu fazer uma escolha. -Honestamente, eu
acho que isso é mais que ridículo. Eu estou debatendo a idéia de eu mesma transformar você.
Eu olhei pra ela, congelada pelo choque. Instantemente, minha mente registrou as palavras
dela. Eu não podia me dar ao luxo de ter esperanças caso ela mudasse de idéia.
- Eu te assustei? - ela imaginou. - Eu pensei que era isso que você queria.
- Eu quero! - eu asfixiei. - Oh, Alice, faça isso agora! Eu podia te ajudar tanto, e assim eu
não ia te atrapalhar. Me morda!
- Shh! - ela precaviu. O atendente estava olhando na nossa direção de novo.
- Tente ser razoável - ela sussurrou. - Nós não temos tempo suficiente. Nós temos que
chegar em Volterra até amanhã. Você ficaria se contorcendo de dor por dias. - Ela fez uma cara. -
E eu não acho que os outros passageiros iam reagir bem.
Eu mordí meu lábio. - Se você não fizer isso agora, você vai mudar de idéia.
- Não - ela fez uma carranca, a expressão infeliz. - Eu não acho que vou. Ele vai ficar
furioso, mas o que é que ele vai poder fazer?
Meu coração bateu mais rápido. - Absolutamente nada.
Ela sorriu baixinho, e depois suspirou. - Você tem muita fé em mim, Bella. Eu não tenho
muita certeza de que posso. Eu provavelmente vou acabar te matando.
- Eu vou me arriscar.
- Você é muito bizarra, mesmo pra uma humana.
- Obrigada.
- Oh bem, isso é puramente hipotético até esse ponto, afinal. Primeiro nós temos que
sobreviver a amanhã.
- Bem lembrado. - Mas pelo menos eu podia ter esperança de alguma coisa se
sobrevivêssemos.
Se Alice cumprisse a sua promessa - e não acabasse me matando - então Edward poderia
correr atrás de suas distrações o quanto ele quisesse, e eu poderia seguir. Eu não deixaria ele se
distrair. Talvez, quando eu fosse linda e forte, ele nem quisesse distrações.
- Volte a dormir - ela me encorajou. - Eu te acordo quando houver algo novo.
- Certo - eu rosnei, certa de que dormir era uma causa perdida agora.
Alice puxou as pernas pra cima do ascento, agarrando elas com os braços e encostando a
testa nos joelhos. Ela se balançava pra frente e pra trás enquanto se concentrava.
Eu descansei minha cabeça no ascento, observando ela, e a próxima coisa que eu soube, ela
estava fechando cortina para o leve brilho do sol lá fora.
- O que está acontecendo? - eu murmurei.
- Eles disseram não pra ele - ela disse baixinho. Eu notei que todo o seu entusiasmo havia
desaparecido.
Minha voz ficou estrangulada na minha garganta com o pânico. - O que ele vai fazer?
- Era muito caótico no início. Eu só estava pegando umas partes, ele estava mudando de
plano tão rapidamente.
- Que tipo de planos? - eu pressionei.
- Houve uma hora ruim - ela sussurrou. - Ele decidiu que ia caçar.
Ela olhou pra mim, vendo a compreensão nos meus olhos.
- Na cidade - ela explicou. - Ele chegou muito perto. Ele mudou de idéia no último minuto.
- Ele não ia querer desapontar Carlisle - eu murmurei. Não no final.
- Provavelmente - ela concordou.
- Vai haver tempo suficiente? - Enquanto eu falava, houve uma mudança na pressão da
cabine. Eu podia sentia o avião se preparando pra aterissar.
- Eu estou esperando que sim, se ele continuar com a última decisão, pode ser.
- O que foi?
- Ele vai se manter simples. Ele só vai caminhar no sol.
Só caminhar no sol. Isso era tudo.
Isso seria o suficiente. A imagem de Edward na clareira - brilhando, cintilando como se a
pele dele fosse feita de milhões de diamantes - estava gravada na minha memória. Nenhum
humano que visse aquilo iria esquecer. Os Volturi não iam permitir isso.
Não se eles quisessem manter a cidade acima de qualquer suspeita.
Eu olhei para o leve brilho cinza que brilhava através das janelas abertas. - Chegaremos
tarde demais - eu sussurrei, minha garganta se fechando de pânico.
Ela balançou a cabeça. - Nesse momento, ele está se inclinando para o melodrama. Ele quer
o maior público possível, então ele vai escolher a praça principal, embaixo da torre do relógio. As
paredes de lá são altas. Ele vai esperar para que o sol esteja bem centrado.
- Então temos até o meio dia?
- Se tivermos sorte. Se ele permanecer com essa decisão.
O piloto apareceu no intercomunicador, anunciando, primeiro em Francês, depois em Inglês,
a nossa aterissagem eminente. As luzes dos avisos dos cintos de segurança tocaram e piscaram.
- Qual é a distância entre Florença e Volterra?
- Isso depende da velocidade que você dirige... Bella?
- Sim?
Ela me olhou especulativamente. - O quanto você se opõe a roubar um carro?
Um Porshe amarelo brilhante nos chamou a atenção á alguns passos de onde estávamos. A
palavra TURBO estava pregada em letras prateadas na parte de trás. Todo mundo além de mim
na calçada cheia do aeroporto parou pra olhar.
- Corre, Bella! - Alice gritou impacientemente pela janela aberta do passageiro.
Eu corrí para a porta e me joguei pra dentro, sentindo que eu podia muito bem estar usando
uma meia calça preta na cabeça.
- Nossa, Alice - eu reclamei. - Será que você poderia escolher um carro mais suspeito pra
roubar?
O interior era de couro preto, e as janelas eram de fumê escuro. Eu me sentí mais segura do
lado de dentro, como se fosse noite.
Alice já estava se movendo, rápido demais, pelo engarrafamento no aeroporto - passando
por espaços muito pequenos enquanto eu me procurava e apertava o meu cinto de segurança.
- A pergunta importante - ela corrigiu. - É se eu não podia ter roubado um carro mais rápido,
e eu não acho que poderia. Eu tive sorte.
- Eu tenho certeza de que ele será muito confortável se houver algum obstáculo na estrada.
Ela vibrou com uma risada. - Confie em mim, Bella. Se alguem colocar algum obstáculo na
pista, será depois que passarmos. - Ela pisou no acelerador nessa hora, como se fosse pra provar
a teoria dela.
Eu provavelmente devia ter olhado pela janela pra ver as cidades de Florença e depois de
Toscana passavam por nós com uma velocidade incrível. Essa era a minha primeira visita aqui, e
talvez fosse a última também. Mas Alice na direção me assustava, apesar do fato de eu saber que
podia confiar nela atrás do volante.
Eu estava muito torturada com a ansiedade pra realmente ver as colinas ou as cidades
amuradas que pareciam com castelos á distância.
- Você vê algo mais?
- Tem alguma coisa acontecendo - Alice murmurou. - Algum tipo de festival. As ruas estão
cheias de pessoas e bandeiras vermelhas. Que data é hoje?
Eu não tinha inteiramente certeza. - Dezenove, talvez?
- Bem, isso é irônico. Hoje é dia de São Marcos.
- Que significa?
Ela gargalhou obscuramente. - A cidade faz uma celebração todo ano. Até onde a lenda
conta, um Cristão missionário, um Padre Marcus - Marcus de Voltun, na verdade - expulsou os
vampiros de Volterra a quinhentos anos atrás. A história diz que ele virou mártir na Romênia,
ainda tentando expulsar a corja dos vampiros. É claro que isso é tudo bobagem, ele nunca deixou
a cidade. Mas é daí que vêm as superstições sobre cruzes e alho. O Padre Marcus usou eles e teve
tanto sucesso. E os vampiros não incomodam Volterra, então eles devem funcionar - o sorriso dela
sardônico. - Isso se tornou uma celebração para a cidade, e ganhou o reconhecimento da força
policial, afinal, Volterra é uma cidade extremamente segura. É a polícia quem leva o crédito.
Eu estava me dando conta do que ela quis dizer quando disse irônico. - Eles não vão ficar
muito felizes se Edward estragar a coisa toda do Dia de São Marcus, vão?
Ela balançou a cabeça, sua expressão severa. - Não. Eles vão agir rapidamente.
Eu desviei os olhos, lutando contra os meus dentes quando eles começaram a tentar
arrebentar a pele do meu lábio inferior. Sangrar não era a melhor idéia agora.
O sol estava aterrorizadamente alto, no pálido céu azul.
- Ele ainda está no plano de meio dia? - eu chequei.
- Sim. Ele deciciu esperar. E eles estão esperando por ele.
- Me diga o que eu tenho que fazer.
Ela manteve os olhos na estrada - a agulha do medidor de velocidade já estava alcansando o
máximo da capacidade.
- Você não tem que fazer nada. Ele só tem que ver você antes de andar para a luz. E ele
tem que ver você antes que ele me veja.
- Como é que vamos fazer isso?
Um pequeno carro vermelho parecia estar andando pra trás quando Alice o ultrapassou.
- Eu vou te levar até o mais próximo possível, e depois você vai correr na direção que eu te
apontar.
Eu balancei a cabeça.
- Tente não tropeçar - ela adicionou. - Nós não temos tempo para uma concussão hoje.
Eu gemí. Isso seria a minha cara - arruinar tudo, destruir o mundo, em um momento de
trapalhadas.
O sol continuou a subir no céu enquanto Alice corria contra ele. Ele estava brilhando demais,
e isso me fez entrar em pânico. Talvez no fim das contas ele não visse necessidade em esperar até
o meio dia.
- Ali - Alice disse abruptamente, apontando para o castelo no topo da colina mais próxima.
Eu olhei pra ele, sentindo a primeira pontada do meu novo tipo de medo. Todos os minutos
desde ontem de manhã - parecia ter se passado uma semana - quando Alice falou o nome dele no
pé da escada, só houve um medo. E ainda assim, agora, enquanto eu olhava para aquelas paredes
ansiãs e para as torres se equilibrando no topo das colinas, eu sentí outro, uma espécie mais
egoísta de alegria passou por mim.
Eu achei que a cidade era muito bonita. Isso me deixou aterrorizada.
- Volterra - Alice disse numa voz vazia, gelada.

30 de maio de 2009

18. O ENTERRO



Eu voei pelas escadas abaixo e abri a porta.
Era Jacob, é claro. Mesmo cega, Alice não era lenta.
Ele estava parado á uns dois metros da porta, o nariz contorcido de desgosto, mas de outras
formas o seu rosto estava suave - uma máscara. Ele não me inganou; eu podia ver as mãos dele
tremendo fracamente.
A hostilidade rolava nele como ondas. Ela parecia trazer de volta aquela horrivel tarde
quando ele havia preferido Sam a mim, e eu senti o meu queixo se erguer defensivamente em
resposta.
O Rabbit de Jacob estava parado perto da esquina com Jared atrás de uma das rodas e
Embry no banco do passageiro. Eu entendí o que isso queria dizer: eles estavam com medo de
deixar ele vir sozinho. Isso me deixou triste, e um pouco aborrecida. Os Cullen não eram daquele
jeito.
- Oi - eu finalmente disse quando ele não falou.
Jake torceu os lábios, ainda permanecendo longe da porta. Os olhos dele estavam revistando
a frente da casa.
Eu tranquei os dentes. - Ela não está aqui. Você precisa de alguma coisa?
Ele hesitou. - Você está sozinha?
- Sim - eu suspirei.
- Eu posso falar com você por um minuto?
- É claro que você pode, Jacob. Entre.
Jacob olhou por cima do ombro para os seus amigos no carro. Eu ví Embry balançar a
cabeça só um pouquinho. Por alguma razão, isso me incomodou imensamente.
Meus dentes se apertaram de novo. "Covarde", eu murmurei por baixo do meu fôlego.
Os olhos de Jake voltaram pra mim, as suas sobrancelhas grossa, pretas se juntando num
ângulo furioso em cima dos seus olhos fundos.
A mandíbula dele se apertou e ele marchou - não há outro jeito de descrever o jeito que ele
se moveu - pela calçada e levantou os ombros pra passar por mim e entrar na casa.
Eu prendi o olhar primeiro com Jared e depois com Embry - eu não gostava do jeito como
eles me olhavam; será que eles realmente achavam que eu ia deixar alguma coisa machucar
Jacob? - antes de fechar a porta pra eles.
Jacob estava na sala atrás de mim, olhando para a bagunça de lençóis na sala de estar.
- Festa do pijama? - ele perguntou, seu tom sarcástico.
- É - eu respondi no mesmo tom de voz ácido. Eu não gostava quando Jacob agia dessa
forma. - O que você tem com isso?
Ele torceu o nariz de novo e cheirou alguma coisa desagradável. - Onde está a sua 'amiga'? -
eu podia ouvir o tom o tom de citação na voz dele.
- Ela foi dar uma corrida sem rumo. Olha, Jacob, o que você quer?
Alguma coisa na sala pareceu deixar ele mais nervoso - seus longos braços estavam
tremendo. Ele não respondeu a minha pergunta. Ao invés disso ele foi até a cozinha, seus olhos se
mexiam por todo lugar sem descanso.
Eu segui ele. Ele andou pra cima e pra baixo pelo pequeno balcão.
- Ei - eu disse me colocando no caminho dele. Ele parou de caminhar e olhou pra mim. -
Qual é o seu problema?
- Eu não gosto de ter que estar aqui.
Essa doeu. Eu estremecí e os olhos dele se apertaram.
- Então eu lamento que você tivesse que vir - eu murmurei. - Porque você não me diz o que
você precisa pra que aí você possa ir embora?
- Eu só tenho que te perguntar algumas coisas. Não vai demorar muito. Nós temos que
voltar para o funeral.
- Ok. Então acabe logo com isso - eu provavelmente estava exagerando no antagonismo,
mas eu não queria que ele visse o quanto isso estava doendo. Eu sabia que não estava sendo
justa. Afinal, eu havia escolhido a sugadora de sangue a ele na noite passada.
Eu havia machucado ele primeiro.
Ele respirou fundo, e de repente seus dedos tremendo estavam parados. O rosto dele se
suavisou e se transformou numa máscara de serenidade.
- Um dos Cullen está ficando aqui com você - ele declarou.
- Sim. Alice Cullen.
Ele balançou a cabeça pensativo. - Por quanto tempo ela vai ficar?
- Até quando ela quiser ficar. - A beligerância ainda estava no meu tom. - É um convite em
aberto.
- Será que você acha que podia... por favor... explicar pra ela sobre aquela outra, Victória?
Eu fiquei pálida. - Eu contei pra ela.
Ele balançou a cabeça. - Você já deve saber que nós só podemos vigiar as nossas terras com
um Cullen aqui. Você só vai estar a salvo em La Push. Eu não posso mais te proteger aqui.
- Ok - eu disse com uma voz pequena.
Nessa hora ele desviou o olhar, pra fora pelas janelas. Ele não continuou.
- Isso é tudo?
Ele continuou com os olhos no vidro enquanto respondeu. - Só mais uma coisa.
Eu esperei, mas ele não continuou. - Sim - eu finalmente incitei.
- O resto deles também vai voltar agora? - ele perguntou numa voz gelada, quieta. Isso me
lembrou do jeito calmo de Sam. Jacob estava ficando mais parecido com Sam... eu me perguntei
porque isso me incomodava tanto.
Agora eu não falei. Ele olhou de volta pro meu rosto com olhos provadores.
- Bem? - ele perguntou. Ele lutou pra conciliar a tensão atrás da sua expressão serena.
- Não - eu disse finalmente. Mal humorada. - Eles não vão voltar.
A expressão dele não mudou. - Tudo bem. Isso é tudo.
Eu olhei pra ele, minha irritação cintilando. - Bem, pode correr agora. Pode ir dizer pra Sam
que os monstros assustadores não vão vir pegar vocês.
- Tudo bem - ele repetiu, ainda calmo.
Isso parecia ser tudo. Jacob caminhou rapidamente saindo da cozinha.
Eu esperei pra ouvir a porta da frente, mas eu não ouví nada. Eu podia ouvir o tique taque
do relógio na parede, e fiquei mais uma vez impressionada de ver o quanto ele havia ficado
silincioso.
Que desastre. Como é que eu posso ter alienado ele tão completamente num espaço tão
curto de tempo?
Será que ele ia me perdoar quando Alice fosse embora? E se ele não perdoasse?
Eu me joguei no balcão e coloquei o rosto nas mãos. Como é que eu tinha bagunçado tudo
desse jeito? Mas o que eu podia ter feito diferente? Mesmo olhando para a situação, eu não vejo
uma saida melhor, em nenhum dos caminhos da situação.
- Bella...? - Jacob perguntou com uma voz perturbada.
Eu tirei o meu rosto das mãos pra ver Jacob hesitante na porta da cozinha; ele não havia ido
embora como eu pensei.
Foi só quando eu ví as gotas claras pingando nas minhas mãos que eu ví que eu percebí que
estava chorando.
A expressão calma de Jacob havia desaparecido; o rosto dele estava ansioso e incerto. Ele
caminhou silenciosamente de volta e ficou na minha frente, abaixando a cabeça pra que seus
olhos ficassem na mesma altura dos meus.
- Eu fiz de novo, não fiz?
- Fez o que? - eu perguntei, minha voz falhando.
- Quebrei minha promessa. Desculpe.
- Tudo bem - eu murmurei. - Fui eu quem começou dessa vez.
O rosto dele se torceu. - Eu sabia como você se sentia em relação a eles. Isso não devia ter
me pego de surpresa desse jeito.
Eu podia ver a repulsa nos olhos dele. Eu queria explicar como Alice realmente era, pra
defender ela do julgamento que ele fazia, mas alguma coisa me avisou que essa não era a hora.
Então eu só disse – Desculpa - de novo.
- Não vamos nos preocupar com isso, tá bom? Ela só está visitando, certo? Ela vai embora, e
as coisas vão voltar ao normal.
- Será que eu não posso ser amiga dos dois ao mesmo tempo? - eu perguntei, minha voz
não escondia a dor que eu sentia.
Ele balançou a cabeça lentamente. - Não, eu não acho que pode.
Eu respirei e olhei para os pés grandes dele. - Mas você vai esperar, certo? Você ainda vai
ser meu amigo, mesmo que eu ame Alice também?
Eu não olhei pra cima, com medo de ver o que ele pensaria sobre essa última parte. Ele
levou um minuto pra responder, então eu provavelmente estava certa por não olhar.
- É, eu sempre vou ser seu amigo - ele disse mal humorado. - Não importa o que você ame.
- Promete?
- Prometo.
Eu senti os braços dele ao meu redor, e eu me inclinei para o peito dele, ainda inalando. -
Isso é uma droga.
- É - então ele cheirou o meu cabelo e disse, - Eca.
- O que? - eu quis saber. Eu olhei pra cima pra ver que o nariz dele estava torcido de novo. -
Porque que todo mundo fica fazendo isso? Eu não cheiro mal!
Ele sorriu um pouquinho. - Cheira sim, você cheira como eles. Eca. Muito doce, doentemente
doce. E... gelada. Queima meu nariz.
- Mesmo? - Isso era estranho. Alice tinha um cheiro inacreditavelmente maravilhoso. Pra um
humano, pelo menos. - Mas, porque Alice achou que eu estava cheirando mal também?
Isso levou o sorriso dele embora. - Huh. Talvez eu também não cheire muito bem pra ela.
Huh.
- Bem, vocês dois cheiram bem pra mim - eu descansei a minha cabeça nele de novo. Eu ia
sentir terrivelmente a falta dele quando ele saisse pela porta. Eu era uma péssima pessoa, por um
lado, eu queria que Alice ficasse pra sempre. Eu ia morrer, metaforicamente, quando ela fosse
embora. Mas como era que eu podia ficar sem ver Jake por qualquer espaço de tempo? Que
bagunça, eu pensei de novo.
- Eu vou sentir sua falta - Jacob cochichou, ecoando os meus pensamentos. - A cada minuto.
Eu espero que ela vá embora logo.
- Isso realmente não precisa ser desse jeito, Jake.
Ele suspirou. - Sim. Tem sim. Bella. Você... ama ela. Então é melhor eu não chegar nem
perto dela. Eu não tenho certeza de que sou controlado o suficiente pra lidar com isso. Sam ficaria
louco se eu quebrasse o acordo, e - a voz dele ficou sarcástica - você provavelmente não ia gostar
muito de mim se eu matasse a sua amiga.
Eu me apartei dele quando ele disse isso, mas ele me apertou mais forte, se recusando a me
deixar escapar. - Não há necessidade de esconder a verdade. As coisas são do jeito que são, Bells.
- Eu não gosto do jeito que elas são.
Jacob me soltou com um braço pra que ele pudesse usar a mão pra levantar o meu queixo
pra me fazer olhar pra ele. - É. Era mais fácil quando nós dois eramos humanos, não era?
Eu suspirei.
Nós olhamos um pra o outro por um longo momento. A mão dele queimava na minha pele.
No meu rosto, eu sabia que não havia nada além de uma tristeza saudosa, eu não queria ter que
dizer adeus agora, não importava por quão pouco tempo fosse. No início o rosto dele refletia o
meu, mas depois, quando nenhum de nós desviou o olhar, a expressão dele mudou.
Ele me soltou, usando a outra mão pra alisar a minha bochecha com a pontas dos dedos,
trilhando com eles até a minha mandíbula. Eu podia sentir os dedos dele tremendo, dessa vez não
era com raiva.
Ele pressionou a palma na minha bochecha, pra que assim o meu rosto ficasse preso entre
suas mãos que pegavam fogo.
- Bella - ele sussurrou.
Eu estava congelada.
Não! Eu ainda não havia tomado essa decisão. Eu não sabia se poderia fazer isso, e agora
eu estava sem tempo pra pensar nisso. Mas eu seria uma boba se eu pensasse que rejeitá-lo não
teria nenhuma consequência.
Eu encarei ele de volta. Ele não era o meu Jacob, mas ele podia ser. O rosto dele era familiar
e amado. De muitas maneiras verdadeiras, eu amava ele. Ele era meu conforto, meu porto seguro.
Agora mesmo, eu podia escolher que ele pertenceria a mim.
Alice estava de volta por um momento, mas isso não mudava nada. O amor verdadeiro
estava perdido pra sempre. O príncipe nunca mais ia voltar pra me beijar e me acordar do meu
sono encantado. Eu não era uma princesa, afinal. Então qual era o protocolo dos contos de fadas
contra outros beijos? Ele eram de uma espécie mundana que não quebravam nenhum feitiço?
Talvez isso fosse fácil - como segurar a mão dele ou sentir os braços dele ao meu redor.
Talvez fosse uma sensação boa. Talvez eu não me sentisse como uma traidora. Além do mais,
quem eu estava traindo, afinal? Só eu mesma.
Mantendo os olhos dele nos meus, Jacob começou a inclinar seu rosto na direção de meu. E
eu estava absolutamente indecisa.
O toque estridente do telefone fez a gente pular, mas isso não quebrou a concentração dele.
Ele tirou a mão dele que estava em baixo do meu queixo e alcançou pra pegar o aparelho, mas ele
ainda segurava o meu rosto seguramente com uma das mãos em minha bochecha. Os olhos
escuros dele não libertaram os meus. Eu estava confusa demais pra reagir, mesmo pra tomar
vantagem da distração.
- Residência dos Swan - Jacob disse, sua voz rouca estava baixa e intensa.
Alguém respondeu, e Jacob se alterou num instante. Ele se enrigeceu, e a mão dele caiu do
meu rosto. Os olhos dele ficaram vazios, o rosto dele ficou branco, e eu podia apostar qualquer
coisa de que era Alice.
Eu me recuperei e estiquei minha mão pra pegar o telefone. Jacob me ignorou.
- Ele não está aqui - Jacob disse, e as palavras eram ameaçadoras.
Houve uma resposta muito curta, pareceu ser um pedido de mais informação, porque ele
respondeu sem vontade. - Ele está no funeral.
Então Jacob desligou o telefone. - Sugador de sangue sujo - ele murmurou por baixo do
fôlego. O rosto dele havia voltado para aquela máscara azeda de novo.
- Com quem foi que você acabou de falar? - eu asfixiei, furiosa. - Na minha casa, no meu
telefone?
- Calma! Ele desligou na minha cara!
- Ele? Quem era?!
Ele zombou do título. - Dr. Carlisle Cullen.
- Porque você não me deixou falar com ele?!
- Ele não perguntou por você - Jacob disse friamente. O rosto dele estava suave, sem
expressão, mas mãos dele estavam tremendo. - Ele perguntou onde Charlie estava e eu disse. Eu
não quebrei nenhuma regra de etiqueta.
- Me escute aqui, Jacob Black...
Mas ele obviamente não estava me escutando, ele olhou rapidamente por cima do ombro,
como se alguém tivesse chamado o nome dele na outra sala. Os dele ficaram arregalados e o
corpo dele ficou rígido, e aí ele começou a tremer. Eu escutei também, automaticamente, mas eu
não ouvia nada.
- Tchau, Bells - ele soltou, e se virou na direção da porta da frente.
Eu corrí atrás dele. - O que foi?
E aí eu esbarrei nele, quando ele se virou nos calcanhares, xingando por baixo do fôlego. Ele
girou de novo, me colocando de lado. Eu me prendi e caí no chão, minhas pernas entrelaçadas
com as dele.
- Droga, ow! - eu protestei enquanto ele rapidamente desentrelaçava as suas pernas das
minhas.
Eu lutei pra me colocar de pé enquanto ele se apressava para a porta da frente; de repente
ele congelou de novo.
Alice ficou imóvel no pé das escadas.
- Bella - ela gaguejou.
Eu me atrapalhei ficando de pé e corrí para o lado dela. Os olhos dela estavam confusos e
distantes, o rosto dela estava cansado e mais branco que osso. O pequeno corpo dela tremia
como se houve um redemoinho dentro dela.
- Alice, qual é o problema? - eu perguntei. Eu coloquei minhas mãos no rosto dela, tentando
acalmá-la.
Os olhos dela se focaram nos meus abruptamente, arregalados de dor.
- Edward - ela sussurrou.
O meu corpo reagiu mais rápido do que a minha mente foi capaz de captar as implicações
das palavras dela.
No começo eu não entendia porque a sala estava rodando ou de de onde o zumbido vazio
dos meus ouvidos estava vindo.
Minha mente trabalhou, incapaz de tirar um sentido do rosto esbranquiçado de Alice e o que
Edward poderia ter a ver com isso, enquanto meu corpo já estava balançando, procurando o alívio
na inconsciencia antes mesmo que ela me encontrasse.
As escadas ficaram num ângulo estranho.
A voz furiosa de Jacob de repente estava no meu ouvido, soltando uma fileira de palavras
profanas. Eu sentí uma vaga desaprovação. Os novos amigos dele claramente eram uma má
influência.
Eu estava no sofá sem entender como havia chegado lá, e Jacob ainda estava xingando.
Eu podia sentir que estava havendo um terremoto - o sofá estava tremendo embaixo de
mim.
- O que você disse pra ela? - ele quis saber.
Alice ignorou ele. - Bella? Bella, sai dessa. Nós temos que nos apressar.
- Afaste-se - Jacob avisou.
- Acalme-se, Jacob Black - Alice ordenou. - Você não quer fazer isso tão perto dela.
- Eu não acho que vou ter nenhum problema pra encontrar meu alvo - ele respondeu, mas a
voz dele parecia um pouco mais calma.
- Alice? - minha voz estava fraca. - O que aconteceu? - eu perguntei, mesmo sem querer
ouvir a resposta.
- Eu não sei - ela gemeu de repente. - O que ele está pensando?!
Eu trabalhei pra me colocar de pé apesar da tontura. Eu me dei conta de que era no braço
de Jacob que eu estava me agarrando pra ter apoio. Era ele quem estava tremendo, não o sofá.
Alice estava tirando um pequeno celular prateado da bolsa quando eu a relocalizei. Os dedos
dela discaram os numeros tão rapidamente que eram só um vulto.
- Rose, eu preciso falar com Carlisle agora - a voz dela chicoteava as palavras. - Tá, assim
que ele estiver de volta. Não, eu vou estar num avião. Olha, você tiveram alguma notícia de
Edward?
Alice pausou agora, escutando com uma expressão que ficava mais e mais pasma a cada
segundo. A boca dela se abriu em um pequeno O de tão horrorizada, e o telefone tremia na mão
dela.
- Porque? - ela asfixiou. - Porque você faria isso, Rosalie?
Qualquer que tenha sido a resposta, ela fez a mandíbula dela trincar de raiva. Os olhos dela
brilharam e se estreitaram.
- Bem, no entanto, você está errada nas duas situações, Rosalie, então isso deve ser um
problema, você não acha? - ela perguntou acidamente. - Sim, é isso mesmo. Ela está
absolutamente bem, eu estava errada... É uma longa história... Mas você está errada nessa parte
também, foi por isso que eu liguei... Sim, foi exatamente isso o que eu ví.
A voz de Alice estava muito dura e seus lábios estavam curvados em cima dos dentes. - É
um pouco tarde demais pra isso, Rose. Guarde o seu remorso pra alguém que acredite nele. -
Alice fechou o telefone com um rápido movimento dos dedos.
Os olhos dela estavam torturados quando ela olhou pro meu rosto.
- Alice - eu soltei rapidamente. Eu não podia deixar ela falar ainda. Eu precisava de mais
alguns segundos antes que ela falasse e as palavras dela destruíssem o que havia restado da
minha vida.
- Alice, mas Carlisle está de volta. Ele acabou de ligar antes de...
Ela olhou pra mim com um olhar vazio. - A quanto tempo? - ela perguntou com uma voz
confusa.
- Meio minuto antes de você aparecer.
- O que foi que ele disse? - Ela realmente estava prestando atenção agora, esperando pela
minha resposta.
- Eu não falei com ele - meus olhos voaram pra Jacob.
Alice virou o seu olhar penetrante pra ele. Ele tremeu, mas continuou sentado ao meu lado.
Ele sentou de um jeito estranho, quase como se fosse usar seu corpo como um escudo pra
mim.
- Ele perguntou por Charlie, e eu disse que Charlie não estava aqui - Jacob murmurou
resentido.
- Isso é tudo? - Alice quis saber, a voz dela era como gelo.
- Depois ele desligou na minha cara - Jacob mandou de volta. Um tremor desceu a espinha
dele, me fazendo tremer junto.
- Você disse pra ele que Charlie estava no funeral - eu lembrei ele.
Alice jogou a cabeça dela de volta pra mim. - Quais foram as palavras exatas dele?
- Ele disse 'Ele não está aqui' e Carlisle perguntou onde Charlie estava, Jacob disse 'No
funeral'.
Alice gemeu e caiu e joelhos.
- Me conte Alice - eu sussurrei.
- Aquele não era Carlisle no telefone - ela disse desesperançosa.
- Você está me chamando de mentiroso? - Jacob rosnou do meu lado.
Alice ignorou ele, focando em meu rosto desnorteado.
- Era Edward - as palavras eram só um soluço sussurrado. - Ele acha que você está morta.
Minha mente começou a trabalhar de novo. Essas não eram as palavras que eu estava
esperando, e o alívio clareou minha cabeça.
- Rosalie disse a ele que eu me matei, não disse? - eu perguntei, suspirando enquanto
relaxava.
- Sim - Alice admitiu, seus olhos brilhavam duramente de novo. - Em defesa dela, ela
realmente pensava isso. Eles confiam demais nas minhas visões pra uma coisa que funciona tão
imperfeitamente. Mas pra fazer ela rastrear ele desse jeito! Será que ele não se dava conta... ou
se importa...? - A voz dela desapareceu de horror.
- E quando Edward ligou pra cá, ele pensou que Jacob estava se referindo ao meu funeral -
eu me dei conta. Me machucou saber o quanto eu estive perto, a apenas alguns centímetros da
voz dele. As minhas unhas cravaram no braço de Jacob, mas ele nem se mexeu.
Alice olhou pra mim estranhamente. - Você não está triste - ela sussurrou.
- Bem, esse não é um senso de timing muito bom, mas tudo vai se esclarecer. Da próxima
vez que ele ligar, alguém vai dizer pra ele... o que... realmente - minha voz falhou.
O olhar dela estrangulou as palavras na minha garganta.
Porque ela estava tão apavorada? Porque o rosto dela estava se torcendo com piedade e
com horror? O que foi isso que ela havia acabado de dizer á Rosalie no telefone? Alguma coisa
relacionada ao que ela viu... e o remorso de Rosalie; Rosalie jamais sentiria remorso por alguma
coisa que acontecesse comigo. Mas se ela machucasse a sua família, o seu irmão...
- Bella - Alice cochichou. - Edward não vai ligar de novo. Ele acreditou nela.
- Eu. Não. Entendo - minha boca formou cada palavra silenciosamente. Eu não conseguia
soltar o ar pra realmente dizer as palavras e fazer ela me explicar.
- Ele vai para a Itália.
Me levou a velocidade de um pulsar do meu coração pra entender.
Quando a voz de Edward voltou na minha cabeça agora, ela não era a perfeita imitação das
minhas ilusões. Era só o tom fraco, vazio, das minhas memórias. Mas só as palavras já foram
suficientes pra atingir o meu peito e fazê-lo se abrir de novo. Palavras de um tempo quando eu
podia ter apostado tudo o que eu tinha e tudo que podia pegar emprestado no fato de que ele me
amava.
Bem, eu não ia viver sem você, ele disse enquanto assistíamos Romeu e Julieta juntos, aqui
nessa mesma sala. Mas eu não tinha certeza de como fazer isso... eu sabia que Emmett e Jasper
jamais iriam me ajudar... então eu pensei que talvez eu pudesse ir para a Itália e fazer alguma
coisa pra provocar os Volturi... Você não deve irritá-los. Não a menos que você queira morrer.
Não a menos que você queira morrer.
- NÃO! - Essa negação meio gritada foi tão alta, depois das palavras sussurradas, que fez
todo mundo pular. Eu sentí o sangue correndo para o meu rosto enquanto me dava conta do que
ela havia visto.
- Não! Não, não, não! Ele não pode! Ele não pode fazer isso!
- Ele se convenceu assim que o seu amigo o convenceu que era tarde demais pra te salvar.
- Mas ele... ele foi embora! Ele não me queria mais! Que diferença isso faz agora? Ele sabia
que eu ia morrer alguma hora!
- Eu não acho que ele estava planejando viver muito mais que você - Alice disse baixinho.
- Como ele se atreve! - eu gritei. Agora eu estava de pé, e Jacob se levantou sem muita
certeza pra se colocar entre Alice e eu.
- Oh, saia do caminho, Jacob! - eu acotovelei o seu corpo tremendo com uma ansiosidade
desesperada. - O que nós faremos? - eu implorei pra Alice. Tinha que haver alguma coisa. - Não
podemos ligar pra ele? Ligar pra Carlisle?
Ela estava balançando a cabeça. - Essa foi a primeira coisa que eu tentei. Ele deixou o
telefone numa lata de lixo no Rio, Alguém atendeu... - ela cochichou.
- Você disse antes que tínhamos que nos apressar. Apressar como? Vamos fazer isso, seja lá
o que for!
- Bella eu, eu não acho que posso te pedir pra... - Ela parou indecisa.
- Me peça! - eu comandei.
Ela colocou a mão no meu ombro, me segurando no lugar, seus dedos se flexionavam
esporádicamente pra dar ênfase ás suas palavras. - Nós podemos já estar atrasadas. Eu ví ele indo
para os Volturi... e pedindo pra morrer. - Nós duas vacilamos, e meus olhos ficaram cegos de
repente. Eu pisquei fervorosamente com as lágrimas.
- Tudo depende do que eles escolherem. Eu não posso ver isso até que eles tomem a
decisão. Mas se eles disserem não, e eles podem fazer isso, Aro sente afeição por Carlisle, e não ia
querer ofendê-lo, Edward tem um plano reserva. Eles são muito protetores de sua cidade. Se
Edward fizer alguma coisa pra perturbar a paz, ele acha que isso vai fazer eles o pararem. E ele
está certo. Eles vão.
Eu encarei ela com a mandíbula apertada de frustração. Eu ainda não tinha ouvido nada que
explicasse porque ainda estávamos aqui.
- Então se eles concordarem em acatar o seu pedido, nós chegaremos tarde. Se eles
disserem não, e ele inventar um plano que os aborreça rápido o suficiente, chegaremos tarde. Se
ele começar a se deixar levar pelas suas tendências mais teatrais... podemos ter tempo.
- Vamos logo!
- Escute, Bella! Chegando em tempo ou não, estaremos no coração da cidade dos Volturi. Eu
vou ser considerada cúmplisse dele se ele conseguir o que quer. Você será uma humana que não
apenas sabe demais, como também cheira bem demais. Há uma chance muito boa de eles
eliminarem todos nós, apesar de no seu caso o castigo não durar mais que a hora do jantar.
- É isso que ainda tá segurando a gente aqui? - eu perguntei sem acreditar. - Eu vou sozinha
se você estiver com medo. - Eu mentalmente contabilizei o dinheiro que ainda havia na minha
conta, e me perguntei se Alice me emprestaria o resto.
- Eu só estou com medo que você acabe morta.
Eu bufei de desgosto. - Eu quase me mato todos os dias! Me diga o que eu tenho que fazer!
- Escreva um bilhete pra Charlie. Eu vou ligar para a compania de vôo.
- Charlie - eu asfixiei.
Não que a minha presença aqui estivesse protegendo ele, mas eu não podia deixá-lo aqui
pra encarar...
- Eu não vou deixar nada acontecer com Charlie - a voz baixa de Jacob estava mal humorada
e com raiva. - Dane-se o acordo.
Eu olhei pra ele e ele fez escárnio com a minha expressão assustada.
- Se apresse, Bella! - Alice interrompeu urgentemente.
Eu corrí para a cozinha, arrancando as gavetas dos armários e jogando tudo que havia
dentro delas no chão enquanto eu procurava uma caneta. Uma mão macia, marrom, passou uma
pra mim.
- Obrigada - eu murmurei, arrancando o bocal com os dentes. Ele silenciosamente me
passou o bloco de papéis no qual eu escreví o meu bilhete. Eu arranquei a capa e a joguei por
cima do meu ombro.
Pai, eu escreví. Eu estou com Alice. Edward está com problemas. Você pode me colocar de
castigo quando eu voltar pra casa. Eu sei que é uma má hora. Lamento muito. Te amo demais.
Bella.
- Não vá - Jacob cochichou. A raiva havia desaparecido agora que Alice estava fora de vista.
Eu não ia perder meu tempo discutindo isso com ele. - Por favor, por favor, por favor tome
conta de Charlie - eu disse enquanto corria de volta para a porta da frente.
Alice estava esperando na porta com uma mala no ombro.
- Pegue a sua carteira, vamos precisar da sua identidade. Por favor me diga que você tem
um passaporte. Eu não tenho tempo pra falsificar um agora.
Eu balancei a cabeça e corrí lá pra cima, meus joelhos fracos de gratidão por minha mãe ter
tido vontade de se casar com Phil numa praia no México.
É claro, como todos os planos dela, esse não deu certo. Mas não antes que eu tivesse tempo
de lidar com todos os preparativos práticos pra ela.
Eu invadí meu quarto. Eu enfiei minha carteira velha, uma camiseta limpa, e uma calças na
minha mochila, e depois joguei a minha escova de dentes no topo. Eu corri lá pra baixo. A
sensação de deja vu já estava me batendo nesse ponto. Pelo menos, diferente da última vez -
quando eu tive que fugir de Forks pra escapar de vampiros e não pra encontrá-los - eu não teria
que me despedir de Charlie pessoalmente.
Jacob e Alice estavam presos em alguma espécie de confrontação na frente da porta aberta, tão
distantes um do outro que eu não podia presumir no início que eles estavam tendo uma conversa.
Nenhum dos dois pareceu reparar na minha aparição barulhenta.
- Você pode se controlar na ocasião, mas esses sanguessugas pra quem você está a levando
- Jacob estava a acusando furiosamente.
- Sim. Você está certo. Cachorro. - Alice estava rosnando também. - Os Volturi são a
verdadeira ecênssia da nossa espécie eles são a razão pela qual os cabelos do seu braço se
arrepiam quando você me cheira. Eles são a substância dos seus pesadelos, o pavor por trás dos
seus instintos. Eu não estou mal informada nesse aspecto.
- E você leva ela até eles como se fosse uma garrafa de vinho para um festa! - ele gritou.
- Você acha que seria melhor se eu deixasse ela aqui sozinha, com Victória perseguindo ela?
- Nós podemos cuidar da ruiva.
- Então porque é que ela ainda está caçando?
Jacob rosnou, e um estremecimento passou pelo seu tórax.
- Parem com isso! - eu gritei para os dois, com uma impaciência selvagem. - Discutam
quando nós voltarmos, vamos!
Alice se virou para o carro, desaparecendo na sua pressa. Eu corrí atrás dela, parando
automaticamente pra trancar a porta.
Jacob agarrou meu braço com a mão tremendo.
- Por favor, Bella. Eu estou implorando.
Os olhos escuros dele estavam brilhando com lágrimas. Um caroço preencheu minha
garganta.
- Jake, eu preciso...
- Mas você não precisa. Você realmente não precisa. Você podia ficar aqui comigo. Você
podia ficar viva. Por Charlie. Por mim.
O motor da Mercedes de Carlisle ronronou; o ritmo do ronco se intensificou quando Alice
acelerou impacientemente.
Eu balancei minha cabeça, lágrimas saltando dos meus olhos com uma emoção devastadora.
Eu puxei meu braço, e ele não lutou comigo.
- Não morra, Bella - ele gaguejou. - Não vá. Não.
E se eu nunca mais visse ele?
O pensamento me afastou das lágrimas silenciosas, um soluço escapou do meu peito. Eu
joguei meus braços ao redor do seu tórax e o abracei por um momento curto demais, enterrando
o meu rosto molhado de lágrimas no peito dele. Ele colocou sua mão grande na parte de trás do
meu cabelo, como que pra me segurar lá.
- Adeus, Jake. - Eu tirei a mão dele do meu cabelo, e beijei a palma dele. Eu não consegui
olhar para o rosto dele. - Me desculpe - eu cochichei.
Então eu me virei e corri para o carro. A porta do lado do passageiro estava aberta e me
esperando. Eu joguei minha mochila por cima do encosto de cabeça e entrei, batendo a porta
atrás de mim.
- Tome conta de Charlie - eu me virei pra gritar pela janela, mas Jacob não estava em
nenhum lugar á vista. Enquanto Alice acelerava e, com os pneus cantando como se fossem gritos
humanos, nos virava pra o lado da estrada, eu ví um pedaço de trapo perto de onde começavam
as árvores.
Um pedaço de sapato.

25 de maio de 2009

13. ASSASSINO


Se fosse qualquer um menos Jacob, eu pensei comigo mesma, balançando a cabeça
enquanto dirigia pela pista cercada de floresta á caminho de La Push.
Eu não tinha certeza que estava fazendo a coisa certa, mas eu fiz uma compromisso comigo
mesma.
Eu não podia condenar o que Jacob e os seus amigos, o seu bando, estavam fazendo. Eu
entendia agora o que ele havia dito na noite passada - que eu podia nunca querer vê-lo de novo -
e eu podia ligá-lo como ele sugeriu, mas isso parecia covarde.
Eu devia a ele uma conversa cara a cara, pelo menos. Eu ia dizer na cara dele que não faria
vista grossa para o que estava acontecendo. Eu não podia ser amiga de um assassino e não dizer
nada, deixar a matança continuar... Isso me faria uma monstro também.
Mas eu também não podia não avisá-lo. Eu tinha que fazer o que podia para protegê-lo.
Eu parei na frente da casa dos Black com os lábios pressionados numa linha dura. Já era
ruim o suficiente que meu melhor amigo era um lobisomem. Será que ele tinha que ser um
monstro, também?
A casa estava escura, não haviam luzes nas janelas, mas eu não me importava de acordálos.
Meu punho bateu na porta com a energia da raiva; o som ecoava nas paredes.
- Pode entrar - eu ouví Billy chamar depois de um minuto, e uma luz se acendeu. Eu girei a
maçaneta; ela estava destrancada. Billy estava inclinado na abertura de uma porta bem do lado de
fora da cozinha, um roupão de banho nos ombros, ainda não estava na sua cadeira. Quando ele
viu quem era, seus olhos se arregalaram brevemente, e depois seu rosto ficou estóico.
- Bem, bom dia, Bella. O que é que você está fazendo acordada tão cedo?
- Oi, Billy. Eu preciso falar com Jake - onde ele está?
- Umm... eu realmente não sei - ele mentiu, a cara dura.
- Você sabe o que Charlie está fazendo essa manhã? - eu quis saber, doente com tanta
enrrolação.
- Eu devia?
- Ele e metade dos homens na cidade estão na floresta com armas, caçando lobos gigantes.
A expressão de Billy mudou, e depois ficou vazia.
- Então eu gostaria de falar com o Jake sobre isso, se você não se importa - eu continuei.
Billy apertou seus lábios finos por um longo momento. - Eu aposto que ele ainda está
dormindo - ele finalmente disse, acenando com a cabeça em direção ao pequeno corredor fora da
sala. - Ele tem ficado fora até tarde esses dias. O garoto precisa de descanso, provavelmente você
não devia acordar ele.
- É minha vez - eu murmurei por baixo do fôlego enquanto me mandava pelo corredor. Billy
suspirou.
O pequeno armário que era o quarto de Jacob era o único quarto que havia no corredor. Eu
não me importei de bater. Eu abri a porta; ela bateu na parede com um estrondo.
Jacob - ainda usando apenas as calças pretas que estava usando na noite passada - estava
jogado na diagonal no beliche que tomava todo o espaço no seu quarto deixando apenas alguns
centímetros sobrando nas paredes. Mesmo sendo grande, ela não era grande o suficiente; os pés
dele ficavam de fora de um lado e a cabeça ficava de fora do outro. Ele estava dormindo pesado,
roncando suavemente com a boca aberta.
O som da porta não fez nem ele se mexer.
O rosto dele estava em paz com o sono pesado, todas as linhas de raiva haviam se
suavizado. Haviam círculos embaixo dos olhos dele que eu não havia notado antes. A despeito de
seu tamanho ridículo, ele parecia muito jovem agora, e muito cansado. A piedade me chocou.
Eu dei um passou pra trás, e fechei a porta silenciosamente atrás de mim.
Billy me encarou com olhos curiosos, guardados enquanto eu caminhava lentamente de volta
pra sala de frente.
- Eu acho que vou deixar ele descansar.
Billy balançou a cabeça, e então ficamos olhando um para o outro por um longo momento.
Eu estava morrendo pra perguntar qual era parte dele em tudo isso.
O que ele achava que o filho dele havia se tornado? Mas eu sabia como ele defendia Sam
desde o início, então eu achava que os assassinatos não incomodavam ele. Como ele justificava
isso pra sí mesmo eu não tinha idéia.
Eu podia ver muitas perguntas pra mim nos seus olhos escuros, mas ele não fez nenhuma.
- Olha - eu disse, quebrando o silêncio perturbador. - Eu vou ficar na praia por um tempo.
Quando ele acordar, diga que eu estou esperando por ele, Ok?
- Claro, claro - Billy concordou.
Eu me perguntei se ele realmente diria. Bom, se ele não disesse, eu tentei, não foi?
Eu dirigi até a praia e estacionei no estacionamento vazio e sujo.
Ainda estava escuro - o pré- nascer do sol de um dia nebuloso - e quando eu desliguei os
faróis ficou difícil de enxergar. Eu deixei meus olhos se ajustarem antes de poder encontrar a trilha
que guiava pela alta cerca de ervas. Estava frio lá, com o vento vindo das ondas pretas, e eu
afundei minhas mãos no fundo dos bolsos da minha jaqueta de inverno. Pelo menos a chuva havia
parado.
Eu caminhei na praia no caminho da parede marinha do norte. Eu não conseguia ver St.
James e nem as outras ilhas, só a vaga forma da beira da água. Eu segui o meu caminho
cuidadosamente pelas rochas, prestando atenção em alguma onda que pudesse me durrubar.
Eu encontrei o que estava procurando antes que eu me desse conta de que estava
procurando. Eu materializei por entre a neblina quando estava a apenas alguns metros de
distância: Uma longa árvore de salgueiro branca feito osso que estava enfiada no fundo das
rochas.
As raízes se entrelaçavam no mar, com centenas de pequenos tentáculos. Eu não podia ter
certeza de que essa era a mesma árvore onde Jacob e eu havíamos tido a nossa primeira conversa
- uma conversa que havia iniciado tantas linhas diferentes, enroladas da minha vida - mas parecia
ser o mesmo lugar. Eu sentei onde havia me sentado antes, e olhei para o mar invisível.
Ver Jacob daquele jeito - inocente e vulnerável quando dormia - havia roubado toda a minha
repulsa, dissolvido toda a minha raiva.
Eu ainda não podia me fingir de cega para o que estava acontecendo, como Billy parecia
fazer, mas eu também não podia condenar Jacob por isso. O amor não funciona desse jeito, eu
decidi.
Quando você se importa com uma pessoa, você já não podia mais pensar nela usando a
lógica.
Jacob era meu amigo quer ele matasse pessoas ou não. E eu não sabia o que ia fazer em
relação a isso.
Quando eu imaginei ele dormindo tão em paz, eu senti uma necessidade dominante de
proteger ele. Completamente ilógico.
Lógico ou não, eu pensei nas imagens dele dormindo, tentando imaginar alguma resposta,
alguma forma de proteger ele, enquanto o céu lentamente ia ficando cinza.
- Oi, Bella.
A voz de Jacob vinda da escuridão me fez pular. Ele estava macia, quase tímida, mas eu
estava esperando alguma espécie de som nas rochas que me servisse como aviso, e então isso me
assustou.
Eu podia ver a silhueta dele vindo na diração contrária á do sol - ele parecia enorme.
- Jake?
Ele ficou a vários passos de distância, mudando seu peso de um pé para o outro
ansiosamente.
- Billy me disse que você apareceu, não te levou muito tempo, não foi? Eu sabia que você ia
descobrir.
- É, eu me lembro da história certa agora - eu sussurrei.
Tudo ficou quieto por um longo momento, e mesmo estava escuro demais pra ver o seu
rosto direito, minha pele fez cócegas com se ele estivesse vasculhando o meu rosto. Devia haver
luz suficiente pra ele ler a minha expressão, porque quando ele falou de novo, sua voz estava
repentinamente ácida.
- Você devia só ter ligado - ele disse duramente.
Eu balancei a cabeça. - Eu sei.
Jacob começou a andar pelas rochas. Se eu prestasse bastante atenção, eu podia ouvir o
leve som dos pés dele se arrastando nas rochas por trás do som das ondas. As rochas de batiam
como castanholas comigo.
- Porque você veio? - ele quis saber, sem parar a sua caminhada raivosa.
- Eu achei que um cara a cara seria melhor.
Ele bufou. - Oh, muito melhor.
- Jacob, eu tenho que te avisar...
- Sobre os patrulheiros e os caçadores? Não se preocupe com isso. Nós já sabemos.
- Não se preocupe com isso? - eu quis saber sem acreditar. - Jake, ele estão armados! Eles
estão plantando armadilhas e oferecendo recompensas e...
- Nós podemos cuidar de nós mesmos - ele grunhiu, ainda andando. - Eles não vão pegar
nada. Eles só estão dificultando as coisas, eles vão começar a desaparecer logo logo também.
- Jake! - eu gritei.
- O que? É só um fato.
Minha voz estava pálida de revolta. - Como é que você pode... se sentir assim? Você
conhece essas pessoas. Charlie está lá! - Esse pensamento fez meu estômago revirar.
Ele parou abruptamente. - O que mais podemos fazer? - ele retorquiu.
O sol deixou as nuvens com uma cor rosa acinzentada acima de nós. Eu podia ver a
expressão dele agora; ele era de raiva, frustração, de traição.
- Você podia... bem tentar não ser um lobisomem? - eu sugerí com um sussurro.
Ele jogou as mãos para o ar. - Como se eu pudesse escolher! - ele gritou. - E como se isso
ajudasse em alguma coisa, se você está preocupada com as pessoas que estão desaparecendo.
- Eu não te entendo.
Ele olhou pra mim, os olhos se apertando e a se contorcendo em um rugido. - Você sabe o
que me deixa com tanta raiva que me dá vontade de cuspir?
Eu virei a cabeça da expressão hostil dele. Ele parecia estar esperando uma resposta, então
eu balancei minha cabeça.
- Você é uma hipócrita, Bella, aí está você, aterrorizada de medo de mim! Como é que isso
pode ser justo? - As mãos dele tremiam de raiva.
- Hipócrita? Como é que ter medo de um monstro me transforma numa hipócrita?
- Ugh! - Ele rugiu, pressionando os punhos nas têmporas e fechando os olhos com força. -
Será que dá pra você se escutar?
- O que?
Ele deu dois passos na minha direção, se inclinando pra mim e brilhando de fúria. - Bem, eu
lamento que não posso ser o tipo certo de monstro pra você, Bella. Eu acho que não sou tão bom
quanto um bebedor de sangue, sou?
Eu pulei pra ficar de pé e encarei de volta. - Não, você não é! - eu gritei. - Não é o que você
é, seu estúpido, é o que você faz!
- O que é que isso significa? - Ele grunhiu, todo o seu corpo tremendo de raiva.
Eu fui pega inteiramente de surpresa pela voz de aviso de Edward.
- Tome cuidado, Bella - sua voz aveludada me preveniu. - Não o pressione demais. Você
precisa fazê-lo se acalmar.
Nem a voz na minha cabeça estava fazendo sentido hoje.
No entanto, eu ouví ele. Eu faria qualquer coisa por aquela voz.
- Jacob - eu implorei, fazendo o tom da minha voz macio e uniforme. - É realmente
necessário matar as pessoas, Jacob? Não há outro jeito? Quer dizer, se até os vampiros
conseguiram encontrar uma maneira de sobreviver sem matar as pessoas, você podia tentar, não
é?
Ele se estendeu com um impulso, como se as minhas palavras tivessem mandando uma
corrente eletrica pelo corpo dele. As sobrancelhas dele pularam pra cima, e ele me encarou com
os olhos arregalados.
- Matar pessoas? - ele quis saber.
- Do que você pensava que estávamos falando?
Ele já não estava mais tremendo. Ele olhou pra mim com uma descrença meio esperançosa.
- Eu pensei que estávamos falando sobre o seu desgosto por lobisomens.
- Não, Jake, não. Não é que você é um... lobo. Com isso tudo bem - eu prometí, eu eu sabia
enquanto falava as palavras que eu estava falando sério. Eu não me importava se ele havia se
tornado um lobo grande, ele ainda era Jacob. - Se você pudesse apenas encontrar um jeito de não
machucar as pessoas... é isso que me aborrece. Essas pessoas são inocentes, Jake pessoas como
Charlie, e eu não posso simplesmente olhar para o outro lado enquanto você...
- É só isso? Mesmo? - ele me interrompeu, um sorriso brotando no seu rosto. - Você só está
assustada porque eu sou um assassino? Essa é a única razão?
- E não é razão suficiente?
Ele começou a rir.
- Jacob Black, isso não é muito engraçado.
- Claro, claro - ele concordou, ainda sorrindo.
Ele deu um longo passo e me agarrou em outro apertado abraço de urso.
- Você realmente, honestamente não se importa que eu me transforme num cachorro
gigante? - ele perguntou, a sua voz estava alegre no meu ouvido.
- Não - eu asfixiei. – Não, consigo respirar, Jake!
Ele me soltou, mas segurou minhas duas mãos. - Eu não sou um assassino, Bella.
Eu estudei o rosto dele, e estava claro que era verdade. O alívio pulsou pelo meu corpo.
- Mesmo? - eu perguntei.
- Mesmo - ele prometeu solenemente.
Eu joguei meus braços ao redor dele. Isso me lembrou dequele primeiro dia com as motos -
porém, ele estava maior, e eu me sentia mais como uma criança agora.
Como daquela outra vez, ele alisou meu cabelo.
- Me perdoe por ter te chamado de hipócrita - ele se desculpou.
- Me desculpe por ter te chamado de assassino.
Ele riu.
Nessa hora eu pensei em uma coisa, e me apartei dele pra poder ver o seu rosto. Minhas
sobrabcelhas se estreitaram de ansiedade. - E quanto á Sam? E quanto aos outros?
Ele balançou a cabeça, sorrindo como se um grande peso tivesse sido tirado dos seus
ombros. - É claro que não. Você lembra do que nós nos chamamos?
A memória estava clara - eu estive pensando naquilo nesse mesmo dia.
- Protetores?
- Exatamente.
- Mas eu não entendo. O que está acontecendo na floresta? Os mochileiros desaparecendo,
o sangue?
O rosto dele ficou sério, preocupado na hora. - Nós estamos tentando fazer o nosso
trabalho, Bella. Nós estamos tentando protegê-los, mas estamos sempre um pouco atrasados.
- Protegê-los do que? Há mesmo um urso lá também?
- Bella, querida, nós só protegemos as pessoas de uma coisa - o nosso único inimigo. Essa é
a razão pela qual existimos - porque eles existem.
Eu o encarei com uma expressão vazia até que eu entendí. Então o sangue foi drenado do
meu rosto com um choro de horror sem palavras, fino que saiu pelos meus lábios.
Ele balançou a cabeça. - Eu pensei que você, entre todas as pessoas, entenderia o que está
acontecendo.
- Laurent - eu cochichei. - Ele ainda está aqui.
Jacob piscou duas vezes, e deixou sua cabeça cair pro lado. - Quem é Laurent?
Eu tentei dissolver o caos na minha cabeça pra poder responder. - Você sabe, você o viu na
clareira. Você estava lá...
As palavras saíram em um tom de imaginação enquanto as palavras começavam a fazer
sentido. - Você estava lá, e você o impediu de me matar...
- Oh, a sanguessuga de cabelo preto? - ele sorriu, um sorriso apertado e largo. - Esse era o
nome dele?
Eu tremí. - O que você estava pensando? - eu sussurrei. - Ele podia ter te matado! Jake,
você não entende o quanto é perigoso...
Outra risada me interrompeu. - Bella, um vampiro só não é problema pra um bando grande
como o nosso. Foi tão fácil, quase nem foi divertido!
- O que foi tão fácil?
- Matar o bebedor de sangue que queria matar você. Agora, eu não conto isso como aquela
coisa de assassino - ele adicionou rapidamente. - Vampiros não contam como pessoas.
Eu só consegui mexer os lábios. - Você... matou... Laurent?
Ele balançou a cabeça. - Bem, foi um esforço de equipe - ele qualificou.
- Laurent está morto? - eu cochichei.
A expressão dele mudou. - Você não está aborrecida com isso, está? Ele ia matar você, ele
havia saído pra matar, Bella, nós tinhamos certeza disso antes que ele atacasse. Você sabe disso,
não é?
- Eu sei disso. Não, eu não estou aborrecida, eu estou... - eu tive que me sentar. Eu dei um
passo pra trás até que sentí o salgueiro nos meus calcanhares, e então eu sentei nele. - Laurent
está morto. Ele não vai voltar por mim.
- Você não está com raiva? Ele não era um dos seus amigos ou algo assim, era?
- Meu amigo? - eu olhei pra ele, confusa e tonta de alívio. Eu comecei a tagarelar, meus
olhos ficando úmidos. - Não Jake. Eu estou... tão aliviada. Eu pensei que ele fosse me encontrar,
eu estive esperando por ele todas as noites, só rezando pra que ele me encotrasse e deixasse
Charlie em paz. Eu estava tão assustada, Jacob... mas como? Ele era um vampiro! Como você
matou ele? Ele era tão forte, tão duro, como o mármore...
Ele se sentou perto de mim e colocou um braço no meu ombro me confortando. - É pra isso
que somos feitos, Bella. Nós somos fortes também. Eu queria que você tivesse me dito que estava
com tanto medo. Você não precisava.
- Você não estava por perto - eu murmurei, perdida em pensamentos.
- Oh, certo.
- Espere, Jake, contudo, eu pensei que você soubesse. Na noite passada você disse que não
era seguro você estar no meu quarto. Eu pensei que você soubesse que um vampiro podia estar
vindo. Não era sobre isso que você estava falando?
Ele pareceu confuso por um minuto, e então abaixou a cabeça. - Não, não era sobre isso
que eu estava falando.
- Então porque você pensava que não seria seguro estar lá?
Ele olhou pra mim com olhos livres de culpa. - Eu não disse que não era seguro pra mim. Eu
estava pensando em você.
- O que você quer dizer?
Ele olhou pra baixo e chutou uma pedra. - Há mais de uma razão pela qual eu não devia me
aproximar de você, Bella. Eu não podia te contar o nosso segredo, pra começar, mas a outra parte
é que não era seguro pra você. Se eu fico bravo demais... muito aborrecido... você pode se
machucar.
Eu pensei nisso cuidadosamente. - Quando você estava bravo antes... quando eu estava
gritando com você... e você estava tremendo...?
- É - o rosto dele foi ainda mais pra baixo. - Aquilo foi bem estúpido da minha parte. Eu
tenho que aprender a me segurar melhor. Eu jurei que não ia ficar bravo, não importava o que
você me disesse. Mas... eu comecei a ficar aborrecido demais porque ia perder você... porque
você não conseguia lidar com o que eu sou.
- O que aconteceria... se você ficasse bravo demais? - eu sussurrei.
- Eu ia me transformar num lobo - ele sussurrou de volta.
- Você não precisa de uma lua cheia.
Ele rolou os olhos. - A versão de Hollywood não é muito verdadeira. - Então ele suspirou,
sério de novo. - Você não precisa ficar tão estressada, Bells. Nós vamos cuidar disso. E vamos
manter os olhos especialmente em Charlie e nos outros, não vamos deixar nada acontecer com
eles. Confie em mim.
Havia algo muito, muito óbvio que eu devia ter reparado na hora, mas eu estava tão
destraída com a idéia de Jacob e seus amigos brigando com Laurent que eu deixei passar na hora.
Isso me ocorreu agora, quando Jacob usou o tempo presente de novo.
Nos vamos cuidar disso.
Não estava acabado.
- Laurent está morto - eu asfixiei, todo o meu corpo ficou frio feito gelo.
- Bella? - Jacob perguntou ansiosamente, tocando a minha bochecha cinzenta.
- Se Laurent morreu... a uma semana atrás... então outra pessoa está matando as pessoas
agora.
Jacob acenou com a cabeça, seus dentes trincados, e ele falou por entre eles. - Haviam dois
deles. Nós achamos que a parceira dele ia querer lutar com a gente, nas nossas histórias, eles
geralmente ficam fora de sério quando matam os parceiros deles, mas ela só fica correndo da
gente, e depois volta de novo. Se nós pudessemos descobrir o que ela está procurando, seria
muito mais fácil de rastreá-la. Ela fica escapando pelas beiradas, como se estivesse testando as
nossas defesas, procurando por um jeito de entrar, mas entrar onde? Onde é que ela quer ir? Sam
acha que ela está tentando nos separar, pra ter uma chance melhor...
A voz dele foi sumindo até que ficou parecendo que ele estava falando de dentro de um
túnel; eu não conseguia mais individualizar as palavras. Minha testa grudava com o suor e o meu
estômago girava como se eu estivesse com a doença do estômago de novo. Era exatamente como
se eu estivesse doente.
Eu me virei pra longe dele rapidamente, e me inclinei no tronco da árvore. Meu corpo estava
sofrendo convulsões com suspiros inúteis, meu estômago vazio se contraía com uma náusea
aterrorizante, apesar de não haver nada nele pra botar pra fora.
Victoria estava aqui. Procurando por mim. Matando estranhos na floresta. A floresta onde
Charlie estava procurando...
Minha cabeça revirou doentemente.
As mãos de Jacob agarraram meus ombros - me impedindo de rolar nas rochas. Eu podia
sentir o hálito quente dele na minha bochecha. - Bella! Qual é o problema?
- Victória - eu asfixiei assim que consegui juntar ar suficiente entre os meus espasmos de
náusea.
Na minha cabeça, a voz de Edward rosnou furiosa pelo nome.
Eu sentí Jacob me levantar do meu banco. Ele me jogou estranhamente no colo, colocando
minha cabeça sem vida no ombro dele. Ele estava lutando pra me equilibrar, pra me impedir de
escorregar, de um jeito ou de outro. Ele tirou o cabelo molhado de suor do meu rosto.
- Quem? - Jacob perguntou. - Você consegue me ouvir, Bella? Bella?
- Ela não era parceira de Laurent - eu gemí no ombro dele. - Eles só eram velhos amigos...
- Você precisa de água. De um médico? Me diga o que fazer - ele pediu, frenético.
- Eu não estou doente, eu estou assustada - eu expliquei num sussurro. A palavra assustada
não parecia explicar direito.
Jacob deu uns tapinhas nas minhas costas. - Com medo dessa Victória?
Eu balancei a cabeça, tremendo.
- Victória é a fêmea de cabelos vermelhos? - Eu tremí de novo e me arrepiei.
- Sim.
- Como é que você sabe que ela não era a parceira dele?
- Laurent me disse que James era o parceiro dela - eu automaticamente flexionei a mão com
a cicatriz.
Ele segurou meu rosto, segurando firmemente na sua mão grande. Ele me olhou
atentamente nos olhos. - Ele te disse mais alguma coisa, Bella? Isso é importante. Você sabe o
que ela quer?
- É claro - eu cochichei. - Ela quer a mim. - Os olhos dele se arregalaram, e depois se
estreitaram.
- Porque? - ele quis saber.
- Edward matou James - eu sussurrei. Jacob estava me segurando tão apertado que não
havia necessidade de segurar o buraco, ele me manteve inteira. - Ela realmente ficou... fora de
sério. Mas Laurent disse que ela achava que era mais justo matar a mim do que a Edward.
Parceiro por parceiro. Ela não sabia, ela ainda não sabe, eu acho, que... que... - eu engolí seco. -
Que as coisas não são mais assim. Pelo menos, não pra Edward.
Jacob ficou distraído com isso, o rosto dele dividido entre várias expressões. - Foi isso que
aconteceu? Por isso os Cullen foram embora?
- No fim das contas, eu não passo de uma humana. Nada especial. - eu expliquei, tremendo
fracamente.
Algo como um rosnado - não um rosnado de verdade, só um som humano que se
aproximava disso - estrondou no peito de Jacob embaixo do meu ouvido. - Se aquele bebedor de
sangue idiota é honestamente estúpido o suficiente...
- Por favor - eu gemí. - Por favor. Não.
Jacob hesitou, e então balançou a cabeça uma vez.
- Isso é importante - ele disse de novo, seu rosto era todo negócios agora. - Isso é
exatamente o que precisamos saber. Nós precisamos contar pro outros imediatamente.
Ele se levantou, me colocando de pé. Ele manteve as duas mãos na minha cintura até que
tivesse certeza de que eu não ia cair.
- Eu estou bem - eu mentí.
Ele ficou segurando a minha cintura com uma das mãos. - Vamos lá.
Ele me levou em direção á caminhonete.
- Pra onde estamos indo? - eu perguntei.
- Eu ainda não tenho certeza - ele admitiu. - Eu vou convocar uma reunião. Ei, espere aqui
só um minuto, está bem? - ele me colocou no lado da caminhonete e soltou minha mão.
- Onde você tá indo?
- Eu volto logo - ele prometeu. Depois ele se virou e correu pelo estacionamento, atravessou
a rua, e entrou na floresta. Ele se enfiltrou entre as árvores, rápido e brilhante, como um veado.
- Jacob! - eu gritei atrás dele com a voz rouca, mas ele já tinha desaparecido.
Não era um bom momento pra ser deixada sozinha. Segundos depois que Jacob saiu de
vista, eu estava hiperventilando. Eu me arrastei pra dentro da caminhonete, e coloquei as travas
pra baixo imediatamente.
Isso não fez eu me sentir melhor.
Victória já estava me caçando. Eu apenas tinha sorte que ela ainda não havia me encontrado
- sorte e cinco lobisomens adolescentes.
Eu exalei ríspidamente. Não me importava o que Jacob dizia, o pensamento dele chegando
em algum lugar próximo de Victória era aterrorizante. Eu não me importava com o que ele podia
virar quando estava com raiva. Eu podia ver ela na minha cabeça, seu rosto selvagem, seu cabelo
que parecia feito de chamas, letal, indestrutível...
Mas, de acordo com Jacob, Laurent estava morto. Isso era realmente possível?
Edward - eu me apertei automaticamente ao meu peito - havia me dito uma vez que era
muito difícil matar um vampiro. Somente outro vampiro podia fazer o trabalho. Ainda assim Jake
dizia que os lobisomens haviam sido feitos pra isso...
Ele disse que eles manteriam um olho especialmente em Charlie - que eu devia confiar nos
lobisomens pra manter meu pai a salvo. Como eu podia confiar nisso? Nenhum de nós estava a
salvo! Jacob muito menos que todos, se ele ia tentar ficar no meio do caminho entre Victoria e
Charlie... entre Victoria e eu.
Eu sentí que estava prestes a vomitar de novo.
Um ruído agudo na janela da caminhonete me fez gritar de terror - mas era só Jacob, que já
estava de volta. Eu destranquei a porta com dedos tremendo, agradecidos.
- Você realmente está com medo, não está? - ele perguntou enquanto deslizava pra dentro.
Eu balancei a cabeça.
- Não fique. Nós vamos tomar conta de você, e de Charlie também. Eu prometo.
- A idéia de Victória encontrando você me assusta mais do que a idéia de ela me encontrar -
eu sussurrei.
Ele riu. - Você precisa confiar em nós um pouco mais do que isso. É insultante.
Eu só balancei a cabeça. Eu já tinha visto muitos vampiros em ação.
- Onde é que você foi agora? - eu perguntei.
Ele torceu os lábios e não disse nada.
- O que? É segredo?
Ele fez uma careta. - Na verdade não. Contudo, é meio estranho. Eu não quero te assustar.
- Eu já estou meio confusa nesse ponto, sabe. - Eu tentei sorrir sem muito sucesso.
Jacob sorriu de volta facilmente. - Eu acho que você tinha que estar. Ok. Veja, quando nós
somos lobos, nós podemos... ouvir um ao outro.
Minhas sobrancelhas se baixaram confusas.
- Não ouvir sons - ele continuou. - Mas nós podemos ouvir...pensamentos, uns dos outros
pelo menos, não importa a distância que estamos um do outro. Ajuda muito quando estamos
caçando, mas de outra forma atrapalha muito. É embaraçoso, não ter segredos desse jeito.
Esquisito, né?
- Foi isso que você quis dizer na noite passada, quando disse que teria que dizer para eles
onde estava, mesmo sem querer?
- Você é rápida.
- Obrigada.
- Você também é muito boa lidando com o estranho. Eu achei que isso ia te incomodar.
- Não é... bem, você não é primeira pessoa que eu conheço que pode fazer isso. Então isso
não me parece tão estranho.
- Mesmo?... Espere, você está falando dos bebedores de sangue?
- Eu queria que você parasse de chamá-los assim.
Ele riu. - Que seja. Os Cullen, então?
- Só... Só Edward - eu passei o braço rapidamente ao redor do meu tórax.
Jacob pareceu surpreso, e não pareceu feliz. - Eu pensei que eram só histórias. Eu já tinha
ouvido lendas sobre vampiros que podiam fazer... coisas extras, mas eu pensei que fossem só
mitos.
- Será que ainda existe alguma coisa que seja só mito? - eu o perguntei cautelosamente.
Ele bufou. - Acho que não. Ok, nós vamos encontrar Sam e os outros nos lugar onde
costumávamos andar com as nossas motos.
Eu liguei a caminhonete e comecei a voltar para a estrada.
Jacob balançou a cabeça parecendo envergonhado. - Eu tentei encurtar as coisas - eu pensei
não pensar em você pra que eles não soubessem o que está acontecendo. Eu estava com medo
que Sam me disesse pra não trazer você.
- Isso não teria me impedido. - Eu não conseguia me livrar da imagem de Sam como um
cara mal. Meus dentes se tricavam toda vez que eu ouvia o nome dele.
- Bem, isso teria me impedido. - Jacob disse, sombrio agora. - Se lembra como ou
simplesmente não conseguia terminar as frases ontem? De como eu simplesmente não conseguia
te contar a história toda?
- É. Você parecia estar engasgando com alguma coisa.
Ele gargalhou sombriamente. - Bem perto. Sam me disse que eu não podia te contar. Ele é...
o cabeça do bando, sabe. Ele é o Alpha. Quando ele nos diz pra fazer uma coisa, ou pra não fazer
alguma coisa, quando ele fala sério, bem, nós não podemos simplesmente ignorá-lo.
- Esquisito - eu murmurei.
- Muito - ele concordou. - É uma coisa de lobos.
- Huh - foi a melhor resposta que eu conseguí dar.
- É, tem um monte de coisas assim, coisas de lobo. Eu ainda estou aprendendo. Eu não
consigo imaginar como foi pra Sam, tentando lidar com isso sozinho. Já é ruim o suficiente ter que
passar por isso com um bando inteiro te apoiando.
- Sam estava sozinho?
- É - a voz de Jacob baixou. - Quando eu me transformei foi a coisa mais... horrível, a coisa
mais aterrorizante pela qual eu já passei, pior que qualquer coisa que eu podia ter imaginado. Mas
eu não estava sozinho, haviam as vozes lá, em minha cabeça, me dizendo o que havia acontecido
e o que eu tinha que fazer. Isso me ajudou a não perder a cabeça, eu acho. Mas Sam... - ele
balançou a cabeça. - Sam não teve ajuda.
Isso ia precisar de alguns ajustes. Quando Jacob explicava isso assim, era difícil não sentir
compaixão por Sam. Eu tive que continuar dizendo pra mim mesma que já haviam mais motivos
pra odiá-lo.
- Eles vão ficar com raiva se eu estiver com você? - eu perguntei.
Ele fez uma cara. - Provavelmente.
- Talvez eu não devesse...
- Não, está tudo bem - ele me assegurou. - Você sabe uma tonelada de coisas que podem
nos ajudar. Você não é como uma outra humana ignorante. Você é como uma... eu não sei, espiã,
ou uma coisa assim. Você esteve atrás das linhas inimigas.
Eu fiz uma carranca pra mim mesma. Era isso que Jacob queria de mim?
Informações de dentro pra destruir seus inimigos? Porém, eu não era uma espiã. Eu não
estava colocando esse tipo de informação. De qualquer forma, as palavras dele já me faziam sentir
uma traidora.
Mas eu queria que ele parasse Victória, não queria?
Não.
Eu queria que Victória fosse parada, preferivelmente antes que ela me torturasse até a
morte ou esbarrasse em Charlie ou matasse outro estranho. Eu só não queria que fosse Jacob a
matá-la, ou pelo menos tentar. Eu não queria Jacob a menos de cem metros dela.
- Como aquela história do bebedor de sangue que lê mentes - ele continuou, incosciente do
meu devaneio. - Aquele é o tipo de coisas que precisamos saber. Realmente é um saco que
aquelas histórias sejam verdadeiras. Isso torna tudo mais complicado. Ei, você acha que essa
Victoria tem alguma coisa especial?
- Eu acho que não - eu hesitei, e depois suspirei. - Ele nunca mencionou nada sobre isso.
- Ele? Oh, você quer dizer Edward, oops, desculpa. Eu esqueci. Você não gosta de dizer o
nome dele. Ou de ouvir.
Eu apertei o meu centro, tentando ignorar a palpitação nas beiras do meu peito. - Não, na
verdade.
- Desculpa.
- Como é que você me conhece tão bem, Jacob? As vezes parece que você consegue ler a
minha mente.
- Não. Eu só presto atenção.
Nós estávamos na pequena estrada de terra onde Jacob havia me ensinado a andar de
moto.
- Tão bem assim?
- Claro, claro.
Eu encostei e desliguei o motor.
- Você ainda está bem infeliz, não é? - ele perguntou.
Eu balancei a cabeça, olhando para a floresta obscura sem ver nada.
- Você acha que um dia... que talvez... você vai superar?
Eu inalei lentamente, e depois deixei a respiração sair. - Não.
- Porque ele não era o melhor...
- Jacob, por favor - eu interrompí, implorando com um sussurro. - Será que podemos não
falar nisso, por favor? Eu não posso aguentar.
- Ok - ele respirou fundo. - Eu lamento ter dito alguma coisa.
- Não se sinta mal. Se as coisas fossem diferentes, seria bom finalmente poder falar sobre
isso com alguém.
Ele balançou a cabeça. - É, eu passei por dificuldades escondendo o meu segredo de você
por duas semanas. Deve ter sido um inferno pra você não poder falar sobre isso com ninguém.
- Um inferno - eu concordei.
Jacob sugou o ar com um som cortante. - Eles estão aqui. Vamos lá.
- Você tem certeza? - eu perguntei enquanto ele abria a sua porta. - Talvez eu não devesse
estar aqui.
- Eles vão saber lidar com isso - ele disse, e depois deu uma risada. - Quem é que tem medo
de um lobo grande e mal?
- Ha Há - eu disse. Mas eu saí da caminhonete, ma apressando pela frente pra ficar perto de
Jacob. Eu me lembrei rápido demais dos monstros gigantes da clareira.
As minhas mãos estavam tremendo como as de Jacob haviam estado antes, mas com medo
ao invés de raiva.
Jake pegou minha mão e a apertou. - Aqui vamos nós.

24 de maio de 2009

12 - Invasão

Meus olhos se abriram com o medo, apesar de eu estar tão exausta e confusa, que eu nem
tinha certeza se estava acordada ou dormindo.
Alguma coisa arranhou a minha janela de novo com o mesmo barulho alto, fino. Confusa e
lerda com o sono, eu me arrastei pra fora da cama e fui para a janela, piscando no caminho com
as lágrimas que permaneceram nos meus olhos.
Uma enorme sombra escura se moveu erraticamente do lado de fora da minha janela, se
lançando na minha diração como se fosse se jogar pra dentro. Eu me inclinei pra trás,
aterrorizada, minha garganta se preparando pra gritar.
Victória.
Ela veio pra me pegar.
Eu estava morta.
Charlie também não!
Eu engolí o grito. Eu teria que me manter quieta ao passar por isso.
De alguma forma. Eu tinha que evitar que Charlie viesse investigar...
E aí uma voz familiar, rouca chamou vinda da figura escura.
- Bella - ele assobiou. - Ouch! Droga, abra a janela! OUCH!
Eu levei dois segundos pra me livrar do horror antes de conseguir me mexer, mas depois eu
corri para a janela e abri o vidro. As nuvens deixava uma luz fraca passar por entre elas, luz
suficiente pra que eu pudesse identificar as formas.
- O que é que você está fazendo? - eu asfixiei.
Jacob estava se pendurando cuidadosamente no topo da árvore que crescia no meio do
pequeno quintal na frente da casa de Charlie.
O peso dele havia feito a árvore se curvar na direção da casa e agora ele estava se
balançando - as suas pernas estavam se balançando a vinte metros do chão - a menos de um
metro de mim.
Os galhos finos no topo da árvore arranharam o lado da casa de novo fazendo um barulho
agudo.
- Eu estou tentando manter - ele bufou, inclinando seu peso enquanto o topo da árvore
balançava com ele - minha promessa.
Eu pisquei com os meus olhos molhados e turvos, e de repente eu tinha certeza de que
estava sonhando.
- Quando foi que você prometeu se matar caindo de uma árvore na frente da casa de
Charlie?
Ele bufou, sem se diveritir, balançando as pernas pra manter o equilibrio.
- Saia do caminho - ele ordenou.
- Como é?
Ele balançou as pernas de novo, pra frente e pra trás, aumentando o ritmo. Foi aí que eu me
dei conta do que ele estava tentando fazer.
- Não, Jake!
Mas eu me desviei para o lado, porque já era tarde demais.
Com um grunhido, ele se lançou em direção a minha janela aberta.
Outro grito se construiu na minha garganta enquanto eu esperava que ele caísse para a
morte - ou pelo menos que ele se machucasse quando caísse. Pra meu choque, ele se balançou
agilmente pra dentro do meu quarto, aterrisando nos calcanhares com um estrondo baixo.
Nós dois olhamos para a porta automaticamente, segurando a respiração, esperando pra ver
se o barulho havia acordado Charlie.
Mais um breve momento se passou em silêncio, e depois nós ouvimos o som abafado do
ronco de Charlie.
Um grande sorriso atravessou o rosto de Jacob; ele parecia extremamente agradado consigo
mesmo. Aquele não era o sorriso que eu conhecia e amava - era um sorriso novo, um que era
mais uma piada ácida da sua antiga sinceridade, no novo rosto que pertencia a Sam.
Isso era um pouco demais pra mim.
Eu chorei até dormir por causa desse garoto. A rejeição dura dele havia feito um novo
buraco no que ainda restava do meu peito. Ele deixou um novo pesadelo pra trás dele, como uma
infecção num inchaço - um insulto depois do ultraje. E agora ele estava aqui no meu quarto,
sorrindo pra mim como se nada tivesse acontecido. Pior que isso, mesmo a chegada dele tendo
sido estranha e barulhenta, ela me lambrou do jeito como Edward costumava se enfiar pela minha
janela de noite, e essa lembrança cutucou maldosamente nas minhas feridas não curadas.
Tudo isso, acumulado ao fato de que eu estava cansada feito um cão, não me deixou com
um homor muito amigável.
- Se manda! - eu assobiei, colocando tanto veneno no sussurro quanto pude.
Ele piscou, o rosto dele ficando apático com a surpresa.
- Não - ele protestou. - Eu vim pra me desculpar.
- Eu não aceito.
Eu tentei empurrá-lo de volta para a janela - afinal, se aquilo era um sonho, ele não ia se
machucar. Porém, foi inútil. Eu não o moví nem um centímetro. Eu baixei as mãos rapidamente e
me afastei dele.
Ele não estava usando uma camisa, apesar do vento que soprava pela janela ser frio o
suficiente pra me fazer tremer, eu não me senti cinfortável colocando as minhas mãos no peito nu
dele. A pele dele estava queimando de tão quente, como a sua cabeça estava da última vez que
eu o toquei. Como se ele ainda estivesse com febre.
Ele não parecia doente. Ele parecia enorme. Ele se inclinou pra mim, tão grande que ele
bloqueou a janela, com a língua presa pela minha reação furiosa.
De repente a coisa toda era mais do que eu podia aguentar - era como se todas as noites
que eu fiquei sem dormir estivessem se jogando em cima de mim juntas. Eu estava tão
brutalmente cansada que eu pensei que podia cair bem alí no chão. Eu balançava instável, e
lutava pra manter meus olhos abertos.
- Bella? - Jacob sussurrou ansiosamente. Ele agarrou meu cotovelo quando eu balancei de
novo, e me guiou de volta para a cama. Minhas pernas desistiram quando eu alcansei a beira, e eu
me deixei cair com tudo no colchão.
- Ei, você tá bem? - Jacob perguntou, a preocupação começou a crescer no rosto dele.
Eu olhei pra ele, as lágrimas ainda não haviam secado nas minhas bochechas.
- Por que motivo eu estaria bem, Jacob?
A angústia foi substituída por um pouco de acidez no rosto dele.
- Certo - ele concordou, e respirou fundo. - Merda. Bem... Eu- Eu lamento muito, Bella. - As
desculpas foram sinceras, sem dúvida, apesar de ainda haverem algumas pontas de raiva
espalhadas pelo rosto dele.
- Porque você veio aqui? Eu não quero desculpas de você, Jake.
- Eu sei - ele cochichou. - Mas eu não podia deixar as coisas do jeito que estavam essa
tarde. Aquilo foi horrível. Me desculpe.
Eu balancei minha cabeça cautelosamente. - Eu não entendo nada.
- Eu sei. Eu quero explicar - Ele parou de repente, quase como se alguma coisa tivesse
cortado o ar dele. Então ele sugou o ar com força. - Mas eu não posso explicar - ele disse ainda
com raiva. - Eu queria poder.
Eu deixei minha cabeça cair nos meus braços. Minha pergunta saiu abafada pelo meu braço.
- Porque?
Ele ficou quieto por um momento. Eu virei minha cabeça para o lado - cansada demais pra
segurá-la pra cima - pra ver a expressão dele.
Ela me surpreendeu. Os olhos dele estavam apertados, seus dentes trincados, a testa dele
enrrugada com o esforço.
- Qual o problema? - eu perguntei.
Ele exalou pesadamente, e eu me dei conta de que ele estava segurando a respiração
também. - Eu não posso fazer isso - ele murmurou, frustrado.
- Fazer o que?
Ele ignorou minha pergunta. - Olha, Bella, será que você nunca teve um segredo que não
podia contar pra ninguém?
Ele olhou pra mim com olhos sábios, e os meus pensamentos pularam imediatamente para
os Cullen. Eu esperava que a minha expressão não estivesse muito culpada.
- Alguma coisa que você sentia que tinha que esconder de Charlie, da sua mãe...? - ele
pressionou. - Uma coisa que você não falaria nem comigo? Nem mesmo agora?
Eu sentí meus olhos se estreitarem. Eu não respondí a pergunta dele, apesar de saber que
ele consideraria isso uma confirmação.
- Será que você pode entender que talvez eu esteja na mesma... situação? - Ele estava
lutando de novo, parecendo batalhar pra encontrar as palavras certas. - As vezes a lealdade fica
no caminho das coisas que você quer fazer. As vezes, nem é o seu segredo.
Então, eu não podia discutir com isso. Ele estava exatamente certo -eu tinha que guardar
um segredo que não era meu, e mesmo assim era um segredo que eu me sentia inclinada a
proteger. Um segredo sobre o qual, de repente, ele parecia saber tudo.
Eu ainda não via como isso se aplicava a ele, ou Sam, ou Billy. O que era isso pra eles, agora
que os Cullen haviam ido embora?
- Eu não sei o que você veio fazer aqui, Jacob, se você só faz enigmas ao invés de me dar
respostas.
- Me desculpe - ele sussurrou. - Isso é tão frustrante.
Nós olhamos para os rostos um do outro na escuridão por um longo momento, os dois
rostos sem esperanças.
- A parte que me mata - ele disse de repente. - É que você já sabe. Eu já te contei tudo.
- Do que é que você tá falando?
Ele sugou o ar alarmado, e então se inclinou na minha direção, o rosto dele passou de
desesperançoso para brilhante de intensidade em um segundo. Ele me olhava penetrantemente
nos olhos, e a voz dele estava mais rápida e mais ansiosa. Ele falou as palavras diretamente no
meu rosto; o hálito dele era tão quente quanto sua pele.
- Eu acho que vejo um jeito de ajeitar as coisas, porque você já sabe disso, Bella! Eu não
posso te dizer, mas se você adivinhasse! Isso não estaria me envolvendo!
- O que você quer que eu adivinhe? Adivinhar o que?
- O meu segredo! Você consegue, você sabe a resposta!
Eu pisquei duas vezes, tentando limpar minha cabeça. Eu estava tão cansada. Nada do que
ele dizia fazia sentido.
Ele viu minha expressão vazia, e o rosto dele ficou tenso com o esforço de novo.
- Caramba, deixa eu ver se consigo te ajudar - ele disse. O que quer que fosse que ele
estivesse tentando fazer, era muito difícil quando ele estava ofegando.
- Ajuda? - eu perguntei, tentando acompanhar. Minhas pálpebras queriam se fechar, mas eu
forcei elas a ficarem abertas.
- É - ele disse, respirando com força. - Como pistas.
Ele pegou meu rosto entre as suas mãos enormes e quentes demais e o segurou a apenas
alguns centímentros do seu. Ele me olhava nos olhos enquanto cochichava, como se estivesse me
comunicando algo além das palavras que dizia.
- Se lembra do dia em que nos conhecemos - na praia em La Push?
- É claro que lembro.
- Me fale sobre ele.
Eu respirei fundo e tentei me concentrar. - Você me perguntou sobre a minha
caminhonete...
Ele balançou a cabeça, com pressa de que eu continuasse.
- Nós falamos sobre o Rabbit...
- Continue.
- Nós fomos andar pela beira da praia... - Minhas bochechas estavam ficando quentes
embaixo das mãos dele enquanto eu me lembrava, mas ele não ia reparar, de tão quente que a
pele dele era. Eu tinha pedido pra ele andar comigo, fletando com ele inaptamente mas com
sucesso, pra arrancar informações dele.
Ele estava balançando a cabeça, ansioso por mais.
Minha voz estava quase sem som. - Você me contou histórias assustadoras... lendas
Quileute.
Ele fechou os olhos e os abriu de novo. - Sim.
A palavra era tensa, fervente, como se ele estivesse á beira de alguma coisa vital. Ele falou
lentamente, tornando cada palavra distinta. - Você se lembra do que eu disse?
Mesmo no escuro, ele deve ter sido capaz de ver a mudança na cor do meu rosto. Como eu
poderia esquecer aquilo? Sem se dar conta do que estava fazendo, Jacob me contou exatamente o
que eu queria saber naquele dia - que Edward era um vampiro.
Ele olhou pra mim com olhos que sabiam demais. - Pense bastante - ele me disse.
- Sim, eu me lembro - eu respirei.
Ele inalou com força, lutando. - Você se lembra de todas as histó - ele não conseguiu
terminar a pergunta. A boca dele se abriu como se alguma coisa houvesse agarrado a garganta
dele.
- Todas as histórias? - eu perguntei.
Ele balançou a cabeça mudo.
Minha cabeça se agitou. Somente uma história me importava de verdade. Eu sabia que ele
havia me contado outras, mas eu não conseguia me lembrar do prelúdio inconsequente,
especialmente quando minha mente estava tão nublada de exaustão. Eu comecei a mexer a
cabeça.
Jacob grunhiu e pulou da cama. Ele pressionou os punhos na testa e respirou rápido e com
raiva. - Você sabe disso, você sabe disso - ele murmurou pra sí mesmo.
- Jake? Por favor, Jake, eu estou exausta. Eu não estou muito boa pra isso agora. Talvez
amanhã de manhã...
Ele deu um respiro pra se acalmar e balançou a cabeça. - Talvez as coisas voltem pra você.
Eu acho que posso entender porque você só se lembra de uma história.
Ele acrescentou num tom sarcástico, ácido. Ele se sentou de volta no colchão perto de mim.
- Você se importa se eu fizer uma pergunta sobre isso? - ele perguntou, ainda sarcástico. - Eu
estive morrendo pra saber.
- Uma pergunta sobre o que? - eu perguntei cautelosamente.
- Sobre os vampiros da história que eu te contei.
Eu encarei ele com olhos reservados, incapaz de responder. Ele fez a pergunta do mesmo
jeito.
- Você honestamente não sabia? - ele me perguntou, sua voz ficando áspera. - Fui eu quem
te contou o que ele era?
Como é que ele sabe disso? Porque ele havia resolvido acreditar, porque agora? Meus dentes
se apertaram. Eu o encarei de volta, sem nenhuma intenção de responder. Ele podia ver isso.
- Está vendo o que eu disse sobre lealdade? - ele murmurou, ainda mais áspero agora. - É o
mesmo pra mim, só que pior. Você não pode imaginar o quanto eu estou envolvido...
Eu não gostei disso - não gostei do jeito como os olhos dele se fecharam como se ele
estivesse sentindo dor quando falava no quanto estava envolvido. Mais que não gostar - eu me dei
conta de que odiava isso, odiava qualquer coisa que o fizesse sentir dor. Odiava ferozmente.
O rosto de Sam encheu minha mente.
Pra mim, isso tudo era essencialmente involuntário. Eu protegia o segredo dos Cullen por
amor; não correspondido, mas verdadeiro. Pra Jacob, isso não parecia ser o mesmo.
- Não há nenhum jeito de você se libertar? - eu sussurrei, tocando a beira áspera na parte
de trás do seu cabelo curto.
As mãos dele começaram a tremer, mas ele não abriu os olhos. - Não. Eu estou nisso pra
vida inteira. Uma sentença de vida. - Uma risada vazia. - Mais longa, talvez.
- Não, Jake - eu gemí. - E se nós fugíssemos? Só você e eu. E se saíssemos de casa, se
deixarmos Sam pra trás?
- Não é uma coisa da qual eu posso fugir, Bella - ele cochichou. - No entanto, eu fugiria com
você, se eu pudesse. - Agora os ombros dele estavam tremendo também. Ele respirou fundo. -
Olha, eu tenho que ir.
- Porque?
- Pra começar, parece que você vai desmaiar a qualquer segundo. Você precisa do seu sono,
você precisa recarregar suas pistolas. Você vai descobrir tudo, você precisa.
- E porque mais?
Ele fez uma careta. - Eu vou ter que escapar, eu não tenho permissão de ver você. Eles
devem estar imaginando onde eu estou. - A boca dele se contorceu. - Eu acho que devo ir e
contar pra eles.
- Você não precisa contar nada pra eles - eu assobiei.
- Mesmo assim, eu vou.
A raiva passou por mim com força. - Eu odeio eles.
Jacob olhou pra mim com os olhos arregalados, surpreso. - Não, Bella. Não odeie os caras.
Não é culpa de Sam e nem de nenhum dos outros. Eu já te disse antes, sou eu. Sam é na
verdade... bem, incrivelmente legal. Jared e Paul são ótimos também, apesar de Paul ser meio... e
Embry sempre foi meu amigo. Nada mudou aí, a única coisa que não mudou. Eu realmente me
sinto muito mal pelas coisas que eu costumava pensar sobre Sam...
- Sam é incrivelmente legal - eu olhei para ele sem acreditar, mas deixei passar. - E então
porque é que você não pode mais me ver? - eu quis saber.
- Não é seguro - ele murmurou, olhando pra baixo.
As palavras mandaram um arrepio de medo pelo meu corpo.
Ele sabia disso também? Ninguém sabia disso além de mim. Mas ele estava certo - era o
meio da noite, a hora perfeita para uma caçada. Jacob não devia estar aqui no meu quarto. Se
alguém viesse atrás de mim, eu tinha que estar aqui sozinha.
- Se eu achasse que era muito... muito arriscado - ele sussurrou. - Eu não teria vindo. Mas,
Bella - ele olhou pra mim de novo. - Eu te fiz uma promessa. Eu não tinha idéia de que seria tão
difícil cumpri-la, mas isso não significa que eu não vá tentar.
Ele viu a incompreensão no meu rosto. - Depois daquele filme estúpido - ele me lembrou. -
Eu prometí que nunca te machucaria... Então eu realmente estraguei tudo essa tarde, não foi?
- Eu sei que não era a sua intenção, Jake. Está tudo bem.
- Obrigado, Bella - ele segurou minha mão. - Eu farei todo o possível pra estar lá por você,
assim como prometí. Ele sorriu pra mim de repente. O sorriso não era meu, nem de Sam, mas
uma estranha combinação dos dois. - Ia ajudar muito se você pudesse descobrir isso sozinha,
Bella. Se esforce muito pra isso.
Eu fiz uma careta fraca. - Eu vou tentar.
- Eu vou tentar te ver logo - Ele suspirou. - E eles vão tentar me convencer a não vir.
- Não escute eles.
- Eu vou tentar. - Ele balançou a cabeça como se duvidasse do seu sucesso. - Venha e me
diga assim que você descobrir. - Alguma coisa ocorreu a ele nessa hora, alguma coisa que fez as
mãos dele tremerem. - Isso se... isso se você quiser.
- Porque eu não iria querer ver você?
O rosto dele ficou duro e ácido. Aquele rosto pertencia cem porcento á Sam. - Oh, eu posso
pensar numa razão - ele disse num tom áspero. - Olha, eu realmente tenho que ir. Você pode
fazer uma coisa por mim?
Eu só acenei com a cabeça, assustada pela mudança nele.
- Pelo menos me ligue, se não quiser me ver de novo. Me deixe saber se for assim.
- Isso não vai acontecer.
Ele ergueu uma mão, me cortando. - Só me deixe saber.
Ele se levantou e foi para a janela.
- Não seja idiota, Jake - eu reclamei. - Você vai quebrar a perna. Use a porta. Charlie não vai
te pegar...
- Eu não vou me machucar - ele murmurou, mas se virou para a porta. Ele hesitou enquanto
passou por mim, me olhando com uma expressão como se alguma coisa estivesse incomodando
ele. Ele levantou uma mão, como se fosse uma declaração.
Eu peguei a mão dele, e de repente ele me puxou - com força demais - pra fora da cama e
para o peito dele.
- Só pela dúvida - ele murmurou no meu cabelo, me apertando num abraço de urso que
quase quebrou minhas costelas.
- Não consigo, respirar - eu asfixiei.
Ele me soltou imediatamente, mantendo uma mão na minha cintura pra que eu não caísse.
Ele me puxou, mais gentilmente dessa vez, de volta para a cama.
- Durma um pouco, Bells. Você precisa fazer sua cabeça trabalhar. Você precisa entender. Eu
não vou te perder, Bella. Não por isso.
Ele estava na porta num piscar de olhos, abrindo-a quietamente, e então desaparecendo por
ela. Eu escutei pra ouvir ele pisar no primeiro degrau da escada, mas não houve nenhum som.
Eu fiquei na minha cama, com a cabeça rodando. Eu estava cansada demais, desgastada
demais. Eu fechei meus olhos, tentando entender o sentido de tudo aquilo, apenas pra ser tragada
pela inconsciência tão rapidamente que fiquei desorientada.
Não foi o sono em paz, sem sonhos que eu havia pedido - é claro que não. Eu estava na
floresta como sempre, e eu comecei a vagar como sempre fazia.
Eu rapidamente me dei conta de que esse não era o mesmo sonho de sempre. Pra começar,
eu não sentia a compulsão em continuar a minha procura; eu estava siplesmente vagando por
hábito, porque isso era geralmente o que se esperava de mim aqui. Na verdade, essa não era nem
a mesma floresta. O cheiro era diferente, e a luz também.
Cheirava, não como o chão molhado das matas, mas como a brisa que vinha do oceano. Eu
não podia ver o céu; mas ainda assim, me pareceu que o sol estava brilhando - as folhas acima
eram de um verde brilhante cor de jade.
Essa era a floresta que havia em La Push - perto da praia que havia lá, eu tinha certeza
disso. Eu sabia que se encontrasse a praia, eu seria capaz de ver o sol, então eu me apressei e
segui em frente, seguinte o som fraco das ondas á distância.
E então Jacob estava lá. Ele agarrou minha mão, me puxando de volta para a parte mais
escura da floresta.
- Jacob, o que há de errado? - eu perguntei. O rosto dele era o rosto assustado de uma
criança, e o cabelo dele estava lindo de novo, colocado pra trás num rabo de cavalo, bem acima
da sua nuca.
Ele me puxava com toda a sua força, mas eu resistia; eu não queria ir para o escuro.
- Corra, Bella, você tem que correr! - ele sussurrou, aterrorizado.
A abrupta onda de deja vu foi tão forte que quase me acordou.
Agora eu sabia porque reconhecia esse lugar. Era porque eu já tinha estado lá antes, em
outro sonho. A um milhão de anos atrás, parte de uma vida inteiramente diferente. Esse foi o
sonho que eu tive na noite depois de ter passeado com Jacob na praia, na primeira noite em que
eu soube que Edward era um vampiro. Reviver aquele dia com Jacob deve ter desenterrado essas
memórias.
Destacada do sonho agora, eu esperei as coisas acontecerem. Uma luz estava vindo na
minha direção da praia.
Em apenas um momento, Edward sairia das árvores, a pele dele brilhando fracamente e
seus olhos pretos e perigosos. Ele me chamaria e sorriria. Ele estaria tão lindo quanto um anjo, e
seus dentes seriam apontados e afiados...
Mas eu estava ultrapassando a mim mesma. Alguma coisa tinha que acontecer antes.
Jacob soltou minha mão e ganiu. Tremendo e se contorcendo, ele caiu no chão á meus pés.
- Jacob! - eu gritei, mas ele havia desaparecido.
Em seu lugar, havia um enorme lobo marrom avermelhado com olhos escuros, inteligentes.
O sonho mudava de direção é claro, como um trem saindo dos trilhos.
Aquele não era o mesmo lobo com o qual eu havia sonhado na minha outra vida. Esse era o
grande lobo ruivo que havia ficado a meio metro de mim na clareira, a apenas uma semana atrás.
Esse lobo era gigante, monstruoso, maior do que um urso.
O lobo olhou atentamente pra mim, tentando me dizer algo vital com seus olhos inteligantes.
Os olhos pretos amarronzados, os olhos familiares de Jacob Black.
Eu acordei gritando no limite dos meus pulmões.
Eu quase esperei que Charlie viesse me checar dessa vez. Esse não era o meu grito de
sempre. Eu cobri minha cabeça com o travesseiro pra tentar abafar a histeria que meus gritos
estavam criando dentro de mim. Eu apertei o algodão com força no meu rosto, imaginando se de
alguma forma eu não poderia abafar também a conexão que havia acabado de fazer.
Mas Charlie não entrou, e eu eventualmente fui capaz de estrangular a estranha gritaria
saindo da minha garganta.
Eu me lembrava agora - todas as palavras que Jacob havia me dito naquela tarde na praia,
mesmo da parte antes de ele falar sobre "os frios". Especialmente aquela primeira parte.
- Você sabe de alguma das nossas antigas histórias, sobre de onde viemos, os Quileute, eu
quero dizer? - ele perguntou.
- Na verdade não - eu respondí.
- Bem, existem muitas lendas, algumas delas datam da época da dilúvio, supostamente, os
anciões Quileute amarraram suas canoas no topo das árvores mais altas pra sobreviver, como Noé
e a arca.
Nessa hora ele sorriu pra demonstrar o quanto acreditava pouco nessas histórias.
- Outra lenda diz que nós somos descendentes dos lobos, e que os lobos ainda são nossos
irmãos. É contra a lei da tribo matar eles. E então tem as histórias sobre os frios.
A voz dele ficou um pouco mais baixa.
- Os frios?
- Sim. Existem histórias sobre os frios tão velhas quanto as lendas dos lobos, e algumas
muito mais recentes. De acordo com a lenda, o meu próprio bisavô conheceu alguns deles. Foi ele
quem criou o acordo que os mantem fora da nossa terra. - Jacob rolou os olhos.
- Seu bisavô?
- Ele era um líder tribal, como meu pai. Veja, os frios são naturalmente inimigos dos lobos,
bem, não dos lobos exatamente, mas dos lobos que se transformam em homens, como nossos
ancestrais. Vocês os chamariam de lobisomens.
- Lobisomens têm inimigos?
- Só um.
Havia alguma coisa presa na minha garganta, me sufocando. Eu tentei engolir, mas estava
preso lá, sem se mexer. Eu tentei cuspir.
- Lobisomem - eu asfixiei.
Sim, essa era a palavra que estava me sufocando.
O mundo inteiro sacudiu, girando do jeito errado no seu eixo.
Que espécie de lugar era esse? Será que realmente poderia existir um mundo onde lendas
ansiãs vagavam nas fronteiras das cidades pequenas, insignificantes, se deparando com monstros
míticos? Sera que absolutamente todos os contos de fadas impossíveis eram de alguma forma
presos na mais absoluta verdade?
Havia alguma coisa sã e normal, ou tudo era simplesmente mágica, histórias de fantasmas?
Eu agarrei minha cabeça com as minhas mãos, tentando evitar que ela explodisse.
Uma voz pequena, seca atrás da minha cabeça me perguntava qual era o grande problema.
Eu já não tinha aceito a existência dos vampiros a tanto tempo atrás - e sem ficar histérica?
Exatamente, eu queria gritar para aquela voz. Será que um mito já não era suficiente pra
qualquer um? Suficiente pra uma vida?
Além do mais, nunca houve sequer um momento em que eu não soubesse que Edward
Cullen era algo acima e além do normal. Eu não fiquei tão surpresa de descobrir o que ele era,
porque obviamente ele era alguma coisa.
Mas Jacob? Jacob, que era só Jacob, e nada além disso? Jacob, meu amigo? Jacob, o único
ser humano com o qual eu fui capaz de me relacionar...
E ele nem era humano.
Eu lutei contra a urgência de gritar de novo.
O que isso dizia sobre mim?
Eu sabia a respodta pra essa. Isso dizia que havia alguma coisa profundamente errada
comigo. Porque outro motivo minha vida estaria tão cheia de personagens de filmes de terror? E
porque outro motivo eu me importaria tanto ao ponto de meu peito ficar cheio de buracos quando
eles seguissem com os meus caminhos míticos?
Na minha cabeça, tudo rodava e mudava, se reestruturando de um jeito que as coisas que
um dia significaram alguma coisa, agora significavam algo mais.
Não havia nenhum culto. Nunca houve um culto, nunca houve uma gangue. Não, era muito
pior que isso. Era um bando.
Um bando de cinco lobisomens incrivelmente gigantes, multicoloridos, que havia passado
bem ao meu lado na clareira de Edward...
De repente, eu estava com uma pressa frenética. Eu olhei para o relógio - era cedo demais e
eu não me importava. Eu tinha que ir á La Push agora. Eu tinha que ver Jacob pra que ele me
disesse que eu não havia perdido a cabeça de uma vez por todas.
Eu me vestí com as primeiras roupas que conseguí encontrar, sem me importar em ver se
elas combinavam, e descí as escadas dois degraus de cada vez. Eu quase esbarrei com Charlie
enquanto corria pelo corredor, á caminho da porta.
- Onde você está indo? - ele me perguntou, tão surpreso por me ver quanto eu estava por
ver ele. - Você sabe que horas são?
- É. Eu tenho que ir ver Jacob.
- Eu pensei que a coisa com Sam.
- Isso não importa, eu tenho que ir falar com ele agora mesmo.
- É muito cedo. - Ele fez uma careta quando a minha expressão não mudou. - Você quer o
café da manhã?
- Não tô com fome - as palavras voaram dos meus lábios. Ele estava bloqueando meu
caminho para a saída. Eu considerei a idéia de me desviar dele e tentar sair correndo, mas eu
sabia que teria que explicar isso pra ele depois. - Eu vou voltar logo, Ok?
Charlie fez uma careta. - Direto para a casa de Jacob, certo? Sem paradas no caminho?
- É claro que não, onde é que eu ia parar? - Minhas palavras estavam saindo todas juntas
com a minha pressa.
- Eu não sei... - ele admitiu. - É só que... bem, houve outro ataque-os lobos de novo. Dessa
vez foi bem perto do resort, perto das piscinas quentes, houve uma testemunha dessa vez. A
vítima só estava a doze metros da pista quando desapareceu. A esposa dele viu um enorme lobo
cinza apenas alguns minutos depois, enquanto ela estava procurando por ele, e correu pra pedir
ajuda.
Meu estômago se mexeu como se eu tivesse batido num corvo numa montanha russa. - Um
lobo o atacou?
- Não havia sinal dele, só um pouco de sangue de novo. - O rosto de Charlie demonstrava
dor. - Os patrulheiros estão saindo armados, e levando voluntários armados. Tem um monte de
caçadores que estão loucos pra se envolver, tem uma recompensa sendo paga pela carcaça de
lobos. Isso significa que vão haver muitos disparos na floresta, e isso me preocupa. - Ele balançou
a cabeça. - Quando as pessoas ficam muito excitadas, acidentes acontecem...
- Eles vão atirar nos lobos?
Minha voz caiu uns três oitavos.
- O que mais podemos fazer? O que há de errado? - ele me perguntou, seus olhos tensos
examinando o meu rosto. Eu me sentí fraca; eu teve ter ficado mais branca do que o normal. -
Você não vai começar a abraçar as árvores, vai?
Eu não consegui responder. Se ele não estivesse me observando, eu teria colocado minha
cabeça entre os joelhos. Eu havia esquecido sobre os mochileiros desaparecidos, e sobre as
pegadas com marcas de sangue... eu não havia conectado esses fatos ás minhas realizações.
- Olha, querida, não deixe que isso te assuste. Só fique na cidade ou na estrada, sem
paradas, Ok?
- Ok, eu repetí com uma voz fraca.
- Eu tenho que ir.
Eu olhei pra ele de perto pela primeira vez, e ví que ele estava com a arma amarrada na
cintura e as suas boras de caminhada nos pés.
- Você não vai atrás daqueles lobos, vai, pai?
- Eu tenho que ajudar, Bells. As pessoas estão desaparecendo.
Minha voz gritou de novo, quase histérica agora. - Não! Não, não vá. É perigoso demais!
- Eu tenho que fazer meu trabalho, garota. Não seja tão pessimista, eu vou ficar bem. - Ele
caminhou para a porta e a segurou aberta. - Você não vai sair?
Eu hesitei, meus estômago ainda dando cambalhotas desconfortáveis.
O que eu podia dizer pra pará-lo? Eu estava tonta demais pra pensar numa solução.
- Bells?
- Talvez estaja cedo demais pra ir á La Push - eu sussurrei.
- Eu concordo, ele disse, e saiu para a chuva, batendo a porta atrás dele.
Assim que ele estava fora de vista, eu caí no chão e coloquei minha cabeça entre os joelhos.
Será que eu devia ir atrás de Charlie? O que eu ia dizer?
E quanto a Jacob? Jacob era meu melhor amigo; eu precisava avisá-lo.
Se ele realmente fosse um - eu tremí e me forcei a pensar na palavra - lobisomem (e eu
sabia que era verdade, eu podia sentir), então as pessoas estariam atirando nele! Eu precisava
avisar ele e os seus amigos que as pessoas iam tentar matá-los se eles continuassem correndo por
aí como lobos gigantes. Eu precisava dizê-los pra parar.
Eles tinham que parar! Charlie estava lá na floresta. Será que eles se importariam com isso?
Eu imaginei...
Até agora, só estranhos haviam desaparecido. Isso significava alguma coisa, ou era só uma
conhecidência?
Eu precisava que Jacob, pelo menos, se importaria com isso.
De qualquer forma, eu tinha que avisá-lo.
Jacob era meu melhor amigo, mas ele era um monstro também? Um de verdade? Um mal?
Será que eu devia avisá-los se ele e os seus amigos fossem... fossem assassinos! Se eles
estivessem matando mochileiros inocentes a sangue frio?
Se eles realmente fossem criaturas dos filmes de terror em todos os sentidos, seria errado
protegê-los.
Era inevitável que eu comparasse Jacob e seus amigos aos Cullen. Eu passei meus braços ao
redor do peito, lutando com o buraco, enquanto pensava neles.
Eu não sabia nada sobre lobisomens, claramente. Eu tinha esperado alguma coisa mais
próximas dos filmes - criaturas que eram meio homens e cabeludos - se é que eu havia esperado
alguma coisa.
Então eu não sabia o que os fazia caçar, se era a fome ou a sede ou se era simplesmente o
desejo de matar. Era difícil julgar, sem saber dessas coisas.
Mas isso não podia ser pior do que o que os Cullen tinham que suportar na sua tentativa de
serem bons. Eu pensei em Esme - as lágrimas apareceram quando eu pensei em seu rosto gentil,
adorável- e em como, mesmo sendo maternal e amorosa como ela era, ela teve que segurar o
nariz, toda envergonhada, e correr de mim quando eu estava sangrando. Não podia ser mais difícil
do que isso. Eu pensei em Carlisle, nos séculos após séculos que ele havia lutado pra se ensinar a
ignorar o sangue, pra que assim pudesse salvar vidas como médico. Nada poderia ser mais dificil
do que isso.
Os lobisomens haviam escolhido um caminho diferente.
Agora, qual caminho eu devia escolher?