31 de maio de 2009

19. CORRIDA



Nós chegamos pra o nosso vôo com apenas segundos pra gastar, e então a tortura
começou. O avião ficou inativo no portão enquanto as comissárias de bordo - muito casualmente -
andavam pra cima e pra baixo no corredor, apalpando as bolsas nos compartimentos pra ter
certeza de que elas cabiam. Os pilotos se inclinavam pra fora da cabine, conversando com elas
enquanto elas passavam. A mão de Alice estava dura no meu ombro, me segurando no ascento
enquanto eu saltava ansiosamente pra cima e pra baixo.
- Isso é mais rápido que ir correndo - ela me lembrou em uma voz baixa.
Eu só balancei a cabeça no ritmo dos meus pulos.
Enfim o avião se separava lentamente do portão aumentando a velocidade gradualmente
com uma estabilidade que me torturava ainda mais. Eu esperava sentir alguma espécie de alívio
quando finalmente começamos a decolar, mas o meu frenesí de impaciência não cessou.
Alice levantou o telefone nas costas do ascento na frente dela assim que paramos de subir,
dando as costas para a comissária de bordo que olhou pra ela com um olhar de desaprovação.
Alguma coisa na minha expressão impedia a comissária de vir protestar.
Eu tentei não prestar atenção no que Alice estava murmurando pra Jasper; eu não queria
ouvir as palavras de novo, mas alguma coisa escapou.
- Eu não posso ter certeza, e fico vendo ele fazer coisas diferentes, ele fica mudando de
idéia... Uma matança pela cidade, atacando um guarda, levantando um carro por cima da cabeça
na praça principal... um monte de coisas que poderiam expor eles, ele sabe que essa é a forma
mais rápida de forçar uma reação... Não, você não pode - a voz de Alice baixou até que já estava
quase inaudível, apesar de eu estar sentada a apenas alguns centímetros dela. Contrariada, eu
prestei mais atenção. - Diga a Emmett que não... Bem, vá atrás de Emmett e Rosalie e os traga de
volta... Pense nisso, Jasper. Se ele vir qualquer um de nós, o que você acha que ele vai fazer?
Ela balançou a cabeça. - Exatamente. Eu acho que Bella é a única chance, se houver uma
chance... Eu farei tudo o que puder ser feito, mas prepare Carlisle; as chances não são boas. - Ela
sorriu então, e havia um tom diferente na voz dela. - Eu pensei nisso... Sim, eu prometo - A voz
dela se tornou implorativa. - Não me siga. Eu prometo, Jasper. De um jeito ou de outro, eu me
viro... E eu te amo. Ela desligou, e se inclinou no ascento dela com os olhos fechados. - Eu odeio
mentir pra ele.
- Me diga tudo, Alice - eu implorei. - Eu não entendo. Porque você disse a Jasper pra parar
Emmett, porque eles não podem vir nos ajudar?
- Duas razões - ela cochichou, ainda com os olhos fechados. - A primeira eu disse pra ele.
Nós podemos tentar parar Edward sozinhas, se Emmett colocar as mãos em cima dele, nós
podemos ser capazes de pará-lo por tempo suficiente pra convencê-lo de que você está viva. Mas
não dá pra enganar Edward. Se eles vir qualquer um de nós se aproximando, ele simplesmente vai
agir muito mais rápido. Ele vai jogar um carro contra uma parede ou alguma coisa assim, e os
Volturi vão agarrar ele. E tem a segunda razão é claro, a razão que eu não consegui dizer pra
Jasper. Porque se eles estiverem lá e os Volturi matarem Edward, eles vão lutar com eles. Bella -
ela me encarou e abriu os olhos, suplicando. - Se houvesse alguma chance de nós vencermos... se
houvesse uma forma de nós quatro podermos lutar pra salvar o meu irmão, talvez isso fosse
diferente. Mas nós não podemos, e, Bella, eu não posso perder Japer desse jeito.
Eu me dei conta do porque de os olhos dela estarem implorando pela minha compreensão.
Ela estava protegendo Jasper, á nossas custas, e talvez as custas de Edward também. Eu entendí,
e não pensei mal dela. Eu balancei a cabeça.
- Contudo, será que Edward não poderia ouvir seus pensamentos? - eu perguntei.
- Ele não ia saber, assim que ouvisse seus pensamentos, que eu estou viva, que não havia
necessidade pra isso?
Não que isso fosse uma justificativa, de qualquer jeito. Eu ainda não acreditava que ele fosse
capaz de reagir dessa forma. Isso não fazia nenhum sentido! Eu me lambrava com dolorosa
clareza das suas palavras naquele dia no sofá, enquanto nós assistíamos Romeu e Julieta se
matarem. Eu não ia viver sem você, ele havia dito, como se isso fosse uma coclusão muito óbvia.
Mas as palavras que ele havia dito na floresta quando ele me deixou haviam cancelado essa coisa
toda - forçadamente.
- Se ele estivesse ouvindo - ela explicou. - Mas acredite ou não, é possível mentir em
pensamento. Se você tivesse morrido, eu ainda tentaria impedir ele. E eu estaria pensando 'Ela
está viva, ela está viva' o máximo que eu pudesse. Ele sabe disso.
Eu tranquei os dentes com uma frustração muda.
- Se houvesse uma forma de fazer isso sem você, Bella, eu não estaria te colocando em risco
dessa forma. É muito errado da minha parte.
- Não seja estúpida. Eu sou a última coisa com a qual você deve se preocupar. - Eu balancei
a cabeça impacientemente. - Me diga o que você quis dizer quando disse que odiava mentir pra
Jasper.
Ela deu um sorriso tímido. - Eu prometí a ele que ia me mandar antes que eles me
matassem também. Não é uma coisa que eu posso garantir, não por muito tempo. - Ela ergueu as
sobrancelhas, como se estivesse desejando que eu levasse o perigo mais a sério.
- Quem são esses Volturi? - eu quis saber em um suspiro. - O que os torna tão mais
perigosos do que Emmett, Jasper, Rosalie e você? - era difícil imaginar uma coisa mais
assustadora do que isso.
Ela respirou fundo, e então abruptamente deu uma olhada obscura por cima do meu ombro.
Eu me virei a tempo de ver um homem sentado na poltrona ao lado se virando como se estivesse
nos escutando. Ele aparentava ser um homem de negócios, em um terno escuro e uma gravata
poderosa e um laptop nos joelhos. Enquanto eu o encarava irritada, ele abriu o computador e
muito notavelmente colocou fones de ouvido.
Eu me inclinei pra mais perto de Alice. Os lábios dela estavam no meu ouvido enquanto ela
cochichava a história.
- Eu estava surpresa por você ter reconhecido o nome - ela disse. - Que você tenha
reconhecido tão imediatamente o que ele significava, quando eu disse que ele estava indo para a
Itália. Eu pensei que fosse ter que explicar. O quanto Edward te contou?
- Ele só disse que eles eram uma família antiga, poderosa, como a realeza. Que você não
devia chateá-los a menos que você quisesse... morrer. - Eu sussurrei. Essa última palavra foi difícil
de botar pra fora.
- Você precisa entender - ela disse, com a voz lenta, mais comedida agora. - Nós Cullen
somos únicos em mais maneiras do que você imagina. É... anormal tantos de nós vivendo juntos e
em paz. Isso é o mesmo para a família de Tânia vivendo no norte, e Carlisle especula que a nossa
abstinência facilita a nossa civilização, de forma que os nossos laços são mais de amor do que de
sobrevivência ou de conveniência. Mesmo o pequeno grupo de três de James era
extraordinariamente grande, e você viu como foi fácil pra Laurent abandoná-los. A nossa espécie
viaja sozinha, ou em pares, como se fosse uma regra geral. A família de Carlisle até onde eu sei é
a maior em existência, com uma excessão. Os Volturi. Haviam três deles originalmente, Aro, Caius,
e Marcus.
- Eu ví eles - eu murmurei. - Numa tela na sala de estudos de Carlisle.
Alice balançou a cabeça. - Duas fêmeas se juntaram a eles com o tempo, e eles cinco
formavam a família. Eu não tenho certeza, mas eu acho que é a idade deles que dá a eles a
habilidade de viverem juntos e em paz. Eles todos têm mais de trezentos anos. Ou talvez sejam os
dons deles que os dá tolerância extra. Como Edward e eu, Aro e Marcus são... talentosos.
Ela continuou antes que eu pudesse perguntar. - Ou talvez seja apenas o amor deles por
poder que os mantêm unidos. Realeza é uma descrição apta.
- Mas se só são cinco...
- Cinco que formam a família - ela me corrigiu. - Isso não inclui os guardas.
Eu respirei fundo. - Isso parece... sério.
- Oh, e é - ela me assegurou. - Haviam nove membros da guarda que eram permanentes, da
última vez que ouvimos falar. Os outros são mais... transitórios. Isso muda. E muitos deles tem
dons também, com dons formidáveis, que fazem os meus parecerem um truque de circo. Os
Volturi os escolhem pelas suas habilidades, físicas ou de outra espécie.
Minha boca se abriu, e depois se fechou de novo. Eu acho que não queria muito saber
quanto as nossas chances eram ruins.
Ela balançou a cabeça de novo, como se soubesse exatamente o que eu estava pensando. -
Eles não se envolvem em muitos confrontos. Ninguém é estúpido o suficiente pra se meter com
eles. Eles ficam na cidade deles, e só saem quando o dever os chama.
- O dever? - eu imaginei.
- Edward não te disse o que eles fazem?
- Não - eu disse, sentindo o meu rosto branco como papel.
Alice olhou por cima da minha cabeça de novo, para o homem de negócios, e colocou seus
lábios gelados no meus ouvido de novo.
- Há uma razão pela qual ele os chamou de realeza... as regras de governo. Através do
milênio, eles assumiram a posição de forçar as nossas regras, que na verdade, traduzindo significa
que eles punem os transgressores. Eles cumprem esse dever decisivamente.
Meus olhos se arregalaram com o choque. - Existem regras? - Eu perguntei numa voz que
era alta demais.
- Shh!
- Será que alguém não devia ter mencionado isso pra mim antes? - eu cochichei
raivosamente. - Quer dizer, eu queria ser uma... ser uma de vocês! Será que alguém não devia ter
explicado as regras pra mim?
Alice gargalhou uma vez com a minha reação. - Não é tão complicado, Bella. Só há um
caroço de restrição, e se você pensar nisso, você provavelmente vai descobrir qual é sozinha.
Eu pensei nisso. - Não. Eu não faço idéia.
Ela balançou a cabeça, desapontada. - Talvez seja óbvio demais. Nós só temos que manter a
nossa existência em segredo.
- Oh - eu murmurei. Era óbvio.
- Faz sentido, e a maioria de nós não precisa ser policiada - ela continuou. - Mas, depois de
alguns séculos, ás vezes um de nós fica de saco cheio. Ou louco. Eu não sei. E aí os Volturi se
intrometem antes que comprometam eles, ou o resto de nós...
- Então Edward...
- Está pretendendo desconsiderar isso na cidade deles, a cidade que eles têm protegido
secretamente por trezentos anos, desde o tempo dos etruscos. Eles protegem tanto aquela cidade
que não permitem que haja caça dentro de seus limites. Volterra é provavelmente a cidade mais
segura do mundo, pelo menos de ataques de vampiros.
- Mas você disse que eles não saem. Como é que eles saem?
- Eles não saem. Eles trazem a comida deles de fora, de bem longe as vezes. Isso dá aos
guardas deles alguma coisa pra fazer quando eles não estão aniquilando aves. Ou protegendo
Volterra da exposição...
- De situações como essa, como Edward - eu terminei a frase dela. Era incrivelmente fácil
dizer o nome dele agora. Eu não tinha a certeza de qual era a diferença. Talvez fosse porque eu
não estivesse planejando viver mais muito tempo sem ver ele. Ou sem vê-lo absolutamente, se
fosse tarde demais. Era reconfortante saber que eu podia acabar facilmente com as coisas.
- Eu duvido que eles já tenham tido que lidar com uma situação como essa - ela murmurou,
enojada. - Você não encontra muitos vampiros suicidas por aí.
O som que escapou da minha boca era muito baixo, mas Alice pareceu compreender que era
um choro de dor. Ela passou o seu braço magro, forte ao redor do meus ombros.
- Nós faremos o que pudermos, Bella. Ainda não está acabado.
- Ainda não. - Eu deixei ela me confortar, apesar de saber o quanto as chances eram
pequenas. - E os Volturi vão nos pegar se estrarmos as coisas.
Alice enrigeceu. - Você diz isso como se fosse uma coisa boa.
Eu levantei os ombros.
- Sai dessa, Bella, se não a gente desce em Nova York e eu te levo de volta pra Forks.
- O que?
- Você sabe o que. Se chegarmos tarde demais pra Edward, eu vou fazer o máximo que
puder pra te levar de volta pra Charlie, e eu não quero ter problemas com você. Você entendeu
isso?
- Claro, Alice.
Ela se afalstou um pouquinho pra que pudesse me olhar. - Nada de problemas.
- Palavras de escoteira - eu murmurei.
Ela revirou os olhos.
- Deixe eu me concentrar, agora. Eu estou tentando ver o que ele está planejando.
Ela deixou o braço ao meu redor, mas a cabeça dela encostou no ascento e ela fechou os
olhos. Ela pressionou a mão livre no lado do rosto, esfregando as pontas dos dedos nas têmporas.
Eu observei ela fascinadamente por algum tempo.
Eventualmente, ela ficou extremamente imóvel, o rosto dela parecia uma escultura de
mármore. Os minutos se passaram, e se eu não soubesse melhor, eu acharia que ela havia pego
no sono. Eu não me atrevi a interrompê-la pra perguntar o que estava acontecendo.
Eu desejei que houvesse uma coisa segura pra eu pensar. Eu não podia me permitir a
pensar nos horrores que estavam á frente, ou, mais horroroso ainda, na chance de que
pudessemos falhar, eu não podia pensar nisso se quisesse me impedir de gritar.
Eu também não podia antecipar nada. Talvez, se tivessemos muita, muita, muita sorte, nós
seriamos de alguma forma capazes de salvar Edward. Mas eu não era tão estúpida a ponto de
pensar que salvar ele significava que eu ficaria com ele. Isso não era diferente, nenhum pouco
mais especial do que era antes. Não havia nenhum motivo pra ele me querer agora. Ver ele e
perdê-lo de novo...
Eu lutei contra a dor. Esse era o preço que eu tinha que pagar para salvar a vida dele. E eu
ia pagar.
Eles passaram um filme, e o meu vizinho colocou os fones. As vezes eu olhava as figuras se
movendo na pequena tela, mas eu nem podia dizer se o filme era de romance ou de terror.
Depois de uma eternidade, o avião começou a descer na direção da cidade de Nova York.
Alice permaneceu no seu transe. Eu me arrepiei, me aproximando para tocá-la, só pra colocar
minha mão de volta. Isso aconteceu uma dúzia de vezes antes que o avião tocasse o chão com
um leve impacto.
- Alice - eu finalmente disse. - Alice, temos que ir.
Eu toquei o braço dela.
Seus olhos se abriram muito lentamente. Ela balançou a cabeça lentamente de um lado pro
outro por um momento.
- Algo novo? - eu perguntei numa voz baixa, consciente do homem que estava ouvindo do
meu lado.
- Não extamente - ela respirou numa voz que eu mal conseguí entender. - Ele está chegando
perto. Ele está decidindo como vai pedir.
Nós tivemos que correr pra pegar o próximo vôo, mas isso foi bom - melhor que ter que
esperar.
Assim que o avião estava no ar, Alice fechou os olhos e deslizou para aquele mesmo estado
de letargia de antes. Eu esperei tão pacientemente quanto pude. Quando já estava escuro de
novo, eu abri a janela pra olhar pra o escuro lá fora que não era nenhum pouco melhor do que
quando a janela estava fechada.
Eu estava agradecida por ter tido tanto tempo pra praticar com os controles dos meus
pensamentos. Ao invés de duelar com as horríveis possibilidades de que, não importava o que
Alice disesse, eu não ia sobreviver, eu me concentrei em problemas menores. Como, o que eu ia
dizer pra Charlie quando eu voltasse. Isso era problemático o suficiente pra me ocupar algumas
horas. E Jacob? Ele havia prometido esperar por mim, mas será que essa promessa ainda estava
de pé? Será que eu ia acabar sozinha em minha casa em Forks, sem absolutamente ninguém?
Talvez eu não quisesse sobreviver, independente do que acontecesse.
Parecia que só haviam se passado alguns segundos quando Alice balançou num ombro - eu
não me dei conta de que havia caído no sono.
- Bella - ela assobiou, a voz dela um pouco alta demais numa cabine escura cheia de
humanos adormecidos.
Eu não estava desorientada - eu não estive dormindo por tempo suficiente pra isso.
- Qual o problema?
Os olhos de Alice brilhavam na luz fraca de uma luz acesa na fileira atrás da nossa.
- Não é errado - ela sorriu impetuosamente. - Eles estão deliberando, mas eles decidiram
dizer não.
- Os Volturi? - eu murmurei, confusa.
- É claro, Bella, me acompanhe. Eu consigo ver o que eles vão dizer.
- Me diga.
Um atendente veio na ponta dos pés pelo corredor até nós. - Posso pegar um travesseiro
para as senhoritas? - ele disse com um cochicho que era uma repreensão em comparação com a
nossa conversa alta.
- Não, obrigada - Alice brilhou pra ele, com um sorriso chocantemente amável. A expressão
do atendente estava deslumbrada quando ele se virou e foi tropeçando de volta para o seu lugar.
- Me diga - eu respirei quase silenciosamente.
Ela sussurrou no meu ouvido. - Eles estão interessados nele, eles acham que o talento dele
pode ser útil. Eles vão oferecê-lo um lugar com eles.
- O que ele vai dizer?
- Isso eu ainda não sei dizer, mas eu aposto que vai ser mal educada - ela riu de novo. -
Essas são as primeiras boas notícias, o primeiro intervalo. Eles estão intrigados; eles realmente
não querem destruí-lo, 'desperdício' essa é a palavra que Aro vai usar, e isso deve ser o suficiente
pra forçá-lo a ser criativo. Quanto mais tempo ele gastar em seus planos, melhor pra nós.
Isso não era o suficiente pra me deixar esperançosa, pra me fazer sentir o alívio que ela
obviamente sentia. Ainda existem tantas formas de nós atrasarmos. E se eu não conseguisse
entrar na cidade dos Volturi, eu não seria capaz de impedir que Alice me arrastasse de volta pra
casa.
- Alice?
- O que?
- Eu estou confusa. Como é que você está vendo isso tão claramente? E depois outras vezes,
você vê coisas tão distantes, coisas que não acontecem.
Os olhos dela se estreitaram. Eu me perguntei se ela havia adivinhado o que eu estava
pensando.
- É claro porque é próximo e imediato, e eu realmente estou me concentrando. As coisas
mais distantes que acontecem por sí próprias, essas são só suposições, menos talvez. Além do
mais, eu enxergo a minha espécie muito mais claramente do que a sua. Edward é mais fácil
porque eu estou tão ligada a ele.
- Você me vê as vezes - eu lembrei ela.
Ela balançou a cabeça. - Não tão claramente.
Eu suspirei.
- Eu realmente queria que você estivesse certa sobre mim. No começo, quando você viu
coisas sobre mim, mesmo antes de termos nos conhecido...
- O que você quer dizer?
- Você viu eu me tornar uma de vocês - eu mal murmurei as palavras.
Ela suspirou. - Era uma possibilidade naquela época.
- Naquela época - eu repetí.
- Na verdade, Bella - ela hesitou, e depois pareceu fazer uma escolha. -Honestamente, eu
acho que isso é mais que ridículo. Eu estou debatendo a idéia de eu mesma transformar você.
Eu olhei pra ela, congelada pelo choque. Instantemente, minha mente registrou as palavras
dela. Eu não podia me dar ao luxo de ter esperanças caso ela mudasse de idéia.
- Eu te assustei? - ela imaginou. - Eu pensei que era isso que você queria.
- Eu quero! - eu asfixiei. - Oh, Alice, faça isso agora! Eu podia te ajudar tanto, e assim eu
não ia te atrapalhar. Me morda!
- Shh! - ela precaviu. O atendente estava olhando na nossa direção de novo.
- Tente ser razoável - ela sussurrou. - Nós não temos tempo suficiente. Nós temos que
chegar em Volterra até amanhã. Você ficaria se contorcendo de dor por dias. - Ela fez uma cara. -
E eu não acho que os outros passageiros iam reagir bem.
Eu mordí meu lábio. - Se você não fizer isso agora, você vai mudar de idéia.
- Não - ela fez uma carranca, a expressão infeliz. - Eu não acho que vou. Ele vai ficar
furioso, mas o que é que ele vai poder fazer?
Meu coração bateu mais rápido. - Absolutamente nada.
Ela sorriu baixinho, e depois suspirou. - Você tem muita fé em mim, Bella. Eu não tenho
muita certeza de que posso. Eu provavelmente vou acabar te matando.
- Eu vou me arriscar.
- Você é muito bizarra, mesmo pra uma humana.
- Obrigada.
- Oh bem, isso é puramente hipotético até esse ponto, afinal. Primeiro nós temos que
sobreviver a amanhã.
- Bem lembrado. - Mas pelo menos eu podia ter esperança de alguma coisa se
sobrevivêssemos.
Se Alice cumprisse a sua promessa - e não acabasse me matando - então Edward poderia
correr atrás de suas distrações o quanto ele quisesse, e eu poderia seguir. Eu não deixaria ele se
distrair. Talvez, quando eu fosse linda e forte, ele nem quisesse distrações.
- Volte a dormir - ela me encorajou. - Eu te acordo quando houver algo novo.
- Certo - eu rosnei, certa de que dormir era uma causa perdida agora.
Alice puxou as pernas pra cima do ascento, agarrando elas com os braços e encostando a
testa nos joelhos. Ela se balançava pra frente e pra trás enquanto se concentrava.
Eu descansei minha cabeça no ascento, observando ela, e a próxima coisa que eu soube, ela
estava fechando cortina para o leve brilho do sol lá fora.
- O que está acontecendo? - eu murmurei.
- Eles disseram não pra ele - ela disse baixinho. Eu notei que todo o seu entusiasmo havia
desaparecido.
Minha voz ficou estrangulada na minha garganta com o pânico. - O que ele vai fazer?
- Era muito caótico no início. Eu só estava pegando umas partes, ele estava mudando de
plano tão rapidamente.
- Que tipo de planos? - eu pressionei.
- Houve uma hora ruim - ela sussurrou. - Ele decidiu que ia caçar.
Ela olhou pra mim, vendo a compreensão nos meus olhos.
- Na cidade - ela explicou. - Ele chegou muito perto. Ele mudou de idéia no último minuto.
- Ele não ia querer desapontar Carlisle - eu murmurei. Não no final.
- Provavelmente - ela concordou.
- Vai haver tempo suficiente? - Enquanto eu falava, houve uma mudança na pressão da
cabine. Eu podia sentia o avião se preparando pra aterissar.
- Eu estou esperando que sim, se ele continuar com a última decisão, pode ser.
- O que foi?
- Ele vai se manter simples. Ele só vai caminhar no sol.
Só caminhar no sol. Isso era tudo.
Isso seria o suficiente. A imagem de Edward na clareira - brilhando, cintilando como se a
pele dele fosse feita de milhões de diamantes - estava gravada na minha memória. Nenhum
humano que visse aquilo iria esquecer. Os Volturi não iam permitir isso.
Não se eles quisessem manter a cidade acima de qualquer suspeita.
Eu olhei para o leve brilho cinza que brilhava através das janelas abertas. - Chegaremos
tarde demais - eu sussurrei, minha garganta se fechando de pânico.
Ela balançou a cabeça. - Nesse momento, ele está se inclinando para o melodrama. Ele quer
o maior público possível, então ele vai escolher a praça principal, embaixo da torre do relógio. As
paredes de lá são altas. Ele vai esperar para que o sol esteja bem centrado.
- Então temos até o meio dia?
- Se tivermos sorte. Se ele permanecer com essa decisão.
O piloto apareceu no intercomunicador, anunciando, primeiro em Francês, depois em Inglês,
a nossa aterissagem eminente. As luzes dos avisos dos cintos de segurança tocaram e piscaram.
- Qual é a distância entre Florença e Volterra?
- Isso depende da velocidade que você dirige... Bella?
- Sim?
Ela me olhou especulativamente. - O quanto você se opõe a roubar um carro?
Um Porshe amarelo brilhante nos chamou a atenção á alguns passos de onde estávamos. A
palavra TURBO estava pregada em letras prateadas na parte de trás. Todo mundo além de mim
na calçada cheia do aeroporto parou pra olhar.
- Corre, Bella! - Alice gritou impacientemente pela janela aberta do passageiro.
Eu corrí para a porta e me joguei pra dentro, sentindo que eu podia muito bem estar usando
uma meia calça preta na cabeça.
- Nossa, Alice - eu reclamei. - Será que você poderia escolher um carro mais suspeito pra
roubar?
O interior era de couro preto, e as janelas eram de fumê escuro. Eu me sentí mais segura do
lado de dentro, como se fosse noite.
Alice já estava se movendo, rápido demais, pelo engarrafamento no aeroporto - passando
por espaços muito pequenos enquanto eu me procurava e apertava o meu cinto de segurança.
- A pergunta importante - ela corrigiu. - É se eu não podia ter roubado um carro mais rápido,
e eu não acho que poderia. Eu tive sorte.
- Eu tenho certeza de que ele será muito confortável se houver algum obstáculo na estrada.
Ela vibrou com uma risada. - Confie em mim, Bella. Se alguem colocar algum obstáculo na
pista, será depois que passarmos. - Ela pisou no acelerador nessa hora, como se fosse pra provar
a teoria dela.
Eu provavelmente devia ter olhado pela janela pra ver as cidades de Florença e depois de
Toscana passavam por nós com uma velocidade incrível. Essa era a minha primeira visita aqui, e
talvez fosse a última também. Mas Alice na direção me assustava, apesar do fato de eu saber que
podia confiar nela atrás do volante.
Eu estava muito torturada com a ansiedade pra realmente ver as colinas ou as cidades
amuradas que pareciam com castelos á distância.
- Você vê algo mais?
- Tem alguma coisa acontecendo - Alice murmurou. - Algum tipo de festival. As ruas estão
cheias de pessoas e bandeiras vermelhas. Que data é hoje?
Eu não tinha inteiramente certeza. - Dezenove, talvez?
- Bem, isso é irônico. Hoje é dia de São Marcos.
- Que significa?
Ela gargalhou obscuramente. - A cidade faz uma celebração todo ano. Até onde a lenda
conta, um Cristão missionário, um Padre Marcus - Marcus de Voltun, na verdade - expulsou os
vampiros de Volterra a quinhentos anos atrás. A história diz que ele virou mártir na Romênia,
ainda tentando expulsar a corja dos vampiros. É claro que isso é tudo bobagem, ele nunca deixou
a cidade. Mas é daí que vêm as superstições sobre cruzes e alho. O Padre Marcus usou eles e teve
tanto sucesso. E os vampiros não incomodam Volterra, então eles devem funcionar - o sorriso dela
sardônico. - Isso se tornou uma celebração para a cidade, e ganhou o reconhecimento da força
policial, afinal, Volterra é uma cidade extremamente segura. É a polícia quem leva o crédito.
Eu estava me dando conta do que ela quis dizer quando disse irônico. - Eles não vão ficar
muito felizes se Edward estragar a coisa toda do Dia de São Marcus, vão?
Ela balançou a cabeça, sua expressão severa. - Não. Eles vão agir rapidamente.
Eu desviei os olhos, lutando contra os meus dentes quando eles começaram a tentar
arrebentar a pele do meu lábio inferior. Sangrar não era a melhor idéia agora.
O sol estava aterrorizadamente alto, no pálido céu azul.
- Ele ainda está no plano de meio dia? - eu chequei.
- Sim. Ele deciciu esperar. E eles estão esperando por ele.
- Me diga o que eu tenho que fazer.
Ela manteve os olhos na estrada - a agulha do medidor de velocidade já estava alcansando o
máximo da capacidade.
- Você não tem que fazer nada. Ele só tem que ver você antes de andar para a luz. E ele
tem que ver você antes que ele me veja.
- Como é que vamos fazer isso?
Um pequeno carro vermelho parecia estar andando pra trás quando Alice o ultrapassou.
- Eu vou te levar até o mais próximo possível, e depois você vai correr na direção que eu te
apontar.
Eu balancei a cabeça.
- Tente não tropeçar - ela adicionou. - Nós não temos tempo para uma concussão hoje.
Eu gemí. Isso seria a minha cara - arruinar tudo, destruir o mundo, em um momento de
trapalhadas.
O sol continuou a subir no céu enquanto Alice corria contra ele. Ele estava brilhando demais,
e isso me fez entrar em pânico. Talvez no fim das contas ele não visse necessidade em esperar até
o meio dia.
- Ali - Alice disse abruptamente, apontando para o castelo no topo da colina mais próxima.
Eu olhei pra ele, sentindo a primeira pontada do meu novo tipo de medo. Todos os minutos
desde ontem de manhã - parecia ter se passado uma semana - quando Alice falou o nome dele no
pé da escada, só houve um medo. E ainda assim, agora, enquanto eu olhava para aquelas paredes
ansiãs e para as torres se equilibrando no topo das colinas, eu sentí outro, uma espécie mais
egoísta de alegria passou por mim.
Eu achei que a cidade era muito bonita. Isso me deixou aterrorizada.
- Volterra - Alice disse numa voz vazia, gelada.

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