25 de maio de 2009

13. ASSASSINO


Se fosse qualquer um menos Jacob, eu pensei comigo mesma, balançando a cabeça
enquanto dirigia pela pista cercada de floresta á caminho de La Push.
Eu não tinha certeza que estava fazendo a coisa certa, mas eu fiz uma compromisso comigo
mesma.
Eu não podia condenar o que Jacob e os seus amigos, o seu bando, estavam fazendo. Eu
entendia agora o que ele havia dito na noite passada - que eu podia nunca querer vê-lo de novo -
e eu podia ligá-lo como ele sugeriu, mas isso parecia covarde.
Eu devia a ele uma conversa cara a cara, pelo menos. Eu ia dizer na cara dele que não faria
vista grossa para o que estava acontecendo. Eu não podia ser amiga de um assassino e não dizer
nada, deixar a matança continuar... Isso me faria uma monstro também.
Mas eu também não podia não avisá-lo. Eu tinha que fazer o que podia para protegê-lo.
Eu parei na frente da casa dos Black com os lábios pressionados numa linha dura. Já era
ruim o suficiente que meu melhor amigo era um lobisomem. Será que ele tinha que ser um
monstro, também?
A casa estava escura, não haviam luzes nas janelas, mas eu não me importava de acordálos.
Meu punho bateu na porta com a energia da raiva; o som ecoava nas paredes.
- Pode entrar - eu ouví Billy chamar depois de um minuto, e uma luz se acendeu. Eu girei a
maçaneta; ela estava destrancada. Billy estava inclinado na abertura de uma porta bem do lado de
fora da cozinha, um roupão de banho nos ombros, ainda não estava na sua cadeira. Quando ele
viu quem era, seus olhos se arregalaram brevemente, e depois seu rosto ficou estóico.
- Bem, bom dia, Bella. O que é que você está fazendo acordada tão cedo?
- Oi, Billy. Eu preciso falar com Jake - onde ele está?
- Umm... eu realmente não sei - ele mentiu, a cara dura.
- Você sabe o que Charlie está fazendo essa manhã? - eu quis saber, doente com tanta
enrrolação.
- Eu devia?
- Ele e metade dos homens na cidade estão na floresta com armas, caçando lobos gigantes.
A expressão de Billy mudou, e depois ficou vazia.
- Então eu gostaria de falar com o Jake sobre isso, se você não se importa - eu continuei.
Billy apertou seus lábios finos por um longo momento. - Eu aposto que ele ainda está
dormindo - ele finalmente disse, acenando com a cabeça em direção ao pequeno corredor fora da
sala. - Ele tem ficado fora até tarde esses dias. O garoto precisa de descanso, provavelmente você
não devia acordar ele.
- É minha vez - eu murmurei por baixo do fôlego enquanto me mandava pelo corredor. Billy
suspirou.
O pequeno armário que era o quarto de Jacob era o único quarto que havia no corredor. Eu
não me importei de bater. Eu abri a porta; ela bateu na parede com um estrondo.
Jacob - ainda usando apenas as calças pretas que estava usando na noite passada - estava
jogado na diagonal no beliche que tomava todo o espaço no seu quarto deixando apenas alguns
centímetros sobrando nas paredes. Mesmo sendo grande, ela não era grande o suficiente; os pés
dele ficavam de fora de um lado e a cabeça ficava de fora do outro. Ele estava dormindo pesado,
roncando suavemente com a boca aberta.
O som da porta não fez nem ele se mexer.
O rosto dele estava em paz com o sono pesado, todas as linhas de raiva haviam se
suavizado. Haviam círculos embaixo dos olhos dele que eu não havia notado antes. A despeito de
seu tamanho ridículo, ele parecia muito jovem agora, e muito cansado. A piedade me chocou.
Eu dei um passou pra trás, e fechei a porta silenciosamente atrás de mim.
Billy me encarou com olhos curiosos, guardados enquanto eu caminhava lentamente de volta
pra sala de frente.
- Eu acho que vou deixar ele descansar.
Billy balançou a cabeça, e então ficamos olhando um para o outro por um longo momento.
Eu estava morrendo pra perguntar qual era parte dele em tudo isso.
O que ele achava que o filho dele havia se tornado? Mas eu sabia como ele defendia Sam
desde o início, então eu achava que os assassinatos não incomodavam ele. Como ele justificava
isso pra sí mesmo eu não tinha idéia.
Eu podia ver muitas perguntas pra mim nos seus olhos escuros, mas ele não fez nenhuma.
- Olha - eu disse, quebrando o silêncio perturbador. - Eu vou ficar na praia por um tempo.
Quando ele acordar, diga que eu estou esperando por ele, Ok?
- Claro, claro - Billy concordou.
Eu me perguntei se ele realmente diria. Bom, se ele não disesse, eu tentei, não foi?
Eu dirigi até a praia e estacionei no estacionamento vazio e sujo.
Ainda estava escuro - o pré- nascer do sol de um dia nebuloso - e quando eu desliguei os
faróis ficou difícil de enxergar. Eu deixei meus olhos se ajustarem antes de poder encontrar a trilha
que guiava pela alta cerca de ervas. Estava frio lá, com o vento vindo das ondas pretas, e eu
afundei minhas mãos no fundo dos bolsos da minha jaqueta de inverno. Pelo menos a chuva havia
parado.
Eu caminhei na praia no caminho da parede marinha do norte. Eu não conseguia ver St.
James e nem as outras ilhas, só a vaga forma da beira da água. Eu segui o meu caminho
cuidadosamente pelas rochas, prestando atenção em alguma onda que pudesse me durrubar.
Eu encontrei o que estava procurando antes que eu me desse conta de que estava
procurando. Eu materializei por entre a neblina quando estava a apenas alguns metros de
distância: Uma longa árvore de salgueiro branca feito osso que estava enfiada no fundo das
rochas.
As raízes se entrelaçavam no mar, com centenas de pequenos tentáculos. Eu não podia ter
certeza de que essa era a mesma árvore onde Jacob e eu havíamos tido a nossa primeira conversa
- uma conversa que havia iniciado tantas linhas diferentes, enroladas da minha vida - mas parecia
ser o mesmo lugar. Eu sentei onde havia me sentado antes, e olhei para o mar invisível.
Ver Jacob daquele jeito - inocente e vulnerável quando dormia - havia roubado toda a minha
repulsa, dissolvido toda a minha raiva.
Eu ainda não podia me fingir de cega para o que estava acontecendo, como Billy parecia
fazer, mas eu também não podia condenar Jacob por isso. O amor não funciona desse jeito, eu
decidi.
Quando você se importa com uma pessoa, você já não podia mais pensar nela usando a
lógica.
Jacob era meu amigo quer ele matasse pessoas ou não. E eu não sabia o que ia fazer em
relação a isso.
Quando eu imaginei ele dormindo tão em paz, eu senti uma necessidade dominante de
proteger ele. Completamente ilógico.
Lógico ou não, eu pensei nas imagens dele dormindo, tentando imaginar alguma resposta,
alguma forma de proteger ele, enquanto o céu lentamente ia ficando cinza.
- Oi, Bella.
A voz de Jacob vinda da escuridão me fez pular. Ele estava macia, quase tímida, mas eu
estava esperando alguma espécie de som nas rochas que me servisse como aviso, e então isso me
assustou.
Eu podia ver a silhueta dele vindo na diração contrária á do sol - ele parecia enorme.
- Jake?
Ele ficou a vários passos de distância, mudando seu peso de um pé para o outro
ansiosamente.
- Billy me disse que você apareceu, não te levou muito tempo, não foi? Eu sabia que você ia
descobrir.
- É, eu me lembro da história certa agora - eu sussurrei.
Tudo ficou quieto por um longo momento, e mesmo estava escuro demais pra ver o seu
rosto direito, minha pele fez cócegas com se ele estivesse vasculhando o meu rosto. Devia haver
luz suficiente pra ele ler a minha expressão, porque quando ele falou de novo, sua voz estava
repentinamente ácida.
- Você devia só ter ligado - ele disse duramente.
Eu balancei a cabeça. - Eu sei.
Jacob começou a andar pelas rochas. Se eu prestasse bastante atenção, eu podia ouvir o
leve som dos pés dele se arrastando nas rochas por trás do som das ondas. As rochas de batiam
como castanholas comigo.
- Porque você veio? - ele quis saber, sem parar a sua caminhada raivosa.
- Eu achei que um cara a cara seria melhor.
Ele bufou. - Oh, muito melhor.
- Jacob, eu tenho que te avisar...
- Sobre os patrulheiros e os caçadores? Não se preocupe com isso. Nós já sabemos.
- Não se preocupe com isso? - eu quis saber sem acreditar. - Jake, ele estão armados! Eles
estão plantando armadilhas e oferecendo recompensas e...
- Nós podemos cuidar de nós mesmos - ele grunhiu, ainda andando. - Eles não vão pegar
nada. Eles só estão dificultando as coisas, eles vão começar a desaparecer logo logo também.
- Jake! - eu gritei.
- O que? É só um fato.
Minha voz estava pálida de revolta. - Como é que você pode... se sentir assim? Você
conhece essas pessoas. Charlie está lá! - Esse pensamento fez meu estômago revirar.
Ele parou abruptamente. - O que mais podemos fazer? - ele retorquiu.
O sol deixou as nuvens com uma cor rosa acinzentada acima de nós. Eu podia ver a
expressão dele agora; ele era de raiva, frustração, de traição.
- Você podia... bem tentar não ser um lobisomem? - eu sugerí com um sussurro.
Ele jogou as mãos para o ar. - Como se eu pudesse escolher! - ele gritou. - E como se isso
ajudasse em alguma coisa, se você está preocupada com as pessoas que estão desaparecendo.
- Eu não te entendo.
Ele olhou pra mim, os olhos se apertando e a se contorcendo em um rugido. - Você sabe o
que me deixa com tanta raiva que me dá vontade de cuspir?
Eu virei a cabeça da expressão hostil dele. Ele parecia estar esperando uma resposta, então
eu balancei minha cabeça.
- Você é uma hipócrita, Bella, aí está você, aterrorizada de medo de mim! Como é que isso
pode ser justo? - As mãos dele tremiam de raiva.
- Hipócrita? Como é que ter medo de um monstro me transforma numa hipócrita?
- Ugh! - Ele rugiu, pressionando os punhos nas têmporas e fechando os olhos com força. -
Será que dá pra você se escutar?
- O que?
Ele deu dois passos na minha direção, se inclinando pra mim e brilhando de fúria. - Bem, eu
lamento que não posso ser o tipo certo de monstro pra você, Bella. Eu acho que não sou tão bom
quanto um bebedor de sangue, sou?
Eu pulei pra ficar de pé e encarei de volta. - Não, você não é! - eu gritei. - Não é o que você
é, seu estúpido, é o que você faz!
- O que é que isso significa? - Ele grunhiu, todo o seu corpo tremendo de raiva.
Eu fui pega inteiramente de surpresa pela voz de aviso de Edward.
- Tome cuidado, Bella - sua voz aveludada me preveniu. - Não o pressione demais. Você
precisa fazê-lo se acalmar.
Nem a voz na minha cabeça estava fazendo sentido hoje.
No entanto, eu ouví ele. Eu faria qualquer coisa por aquela voz.
- Jacob - eu implorei, fazendo o tom da minha voz macio e uniforme. - É realmente
necessário matar as pessoas, Jacob? Não há outro jeito? Quer dizer, se até os vampiros
conseguiram encontrar uma maneira de sobreviver sem matar as pessoas, você podia tentar, não
é?
Ele se estendeu com um impulso, como se as minhas palavras tivessem mandando uma
corrente eletrica pelo corpo dele. As sobrancelhas dele pularam pra cima, e ele me encarou com
os olhos arregalados.
- Matar pessoas? - ele quis saber.
- Do que você pensava que estávamos falando?
Ele já não estava mais tremendo. Ele olhou pra mim com uma descrença meio esperançosa.
- Eu pensei que estávamos falando sobre o seu desgosto por lobisomens.
- Não, Jake, não. Não é que você é um... lobo. Com isso tudo bem - eu prometí, eu eu sabia
enquanto falava as palavras que eu estava falando sério. Eu não me importava se ele havia se
tornado um lobo grande, ele ainda era Jacob. - Se você pudesse apenas encontrar um jeito de não
machucar as pessoas... é isso que me aborrece. Essas pessoas são inocentes, Jake pessoas como
Charlie, e eu não posso simplesmente olhar para o outro lado enquanto você...
- É só isso? Mesmo? - ele me interrompeu, um sorriso brotando no seu rosto. - Você só está
assustada porque eu sou um assassino? Essa é a única razão?
- E não é razão suficiente?
Ele começou a rir.
- Jacob Black, isso não é muito engraçado.
- Claro, claro - ele concordou, ainda sorrindo.
Ele deu um longo passo e me agarrou em outro apertado abraço de urso.
- Você realmente, honestamente não se importa que eu me transforme num cachorro
gigante? - ele perguntou, a sua voz estava alegre no meu ouvido.
- Não - eu asfixiei. – Não, consigo respirar, Jake!
Ele me soltou, mas segurou minhas duas mãos. - Eu não sou um assassino, Bella.
Eu estudei o rosto dele, e estava claro que era verdade. O alívio pulsou pelo meu corpo.
- Mesmo? - eu perguntei.
- Mesmo - ele prometeu solenemente.
Eu joguei meus braços ao redor dele. Isso me lembrou dequele primeiro dia com as motos -
porém, ele estava maior, e eu me sentia mais como uma criança agora.
Como daquela outra vez, ele alisou meu cabelo.
- Me perdoe por ter te chamado de hipócrita - ele se desculpou.
- Me desculpe por ter te chamado de assassino.
Ele riu.
Nessa hora eu pensei em uma coisa, e me apartei dele pra poder ver o seu rosto. Minhas
sobrabcelhas se estreitaram de ansiedade. - E quanto á Sam? E quanto aos outros?
Ele balançou a cabeça, sorrindo como se um grande peso tivesse sido tirado dos seus
ombros. - É claro que não. Você lembra do que nós nos chamamos?
A memória estava clara - eu estive pensando naquilo nesse mesmo dia.
- Protetores?
- Exatamente.
- Mas eu não entendo. O que está acontecendo na floresta? Os mochileiros desaparecendo,
o sangue?
O rosto dele ficou sério, preocupado na hora. - Nós estamos tentando fazer o nosso
trabalho, Bella. Nós estamos tentando protegê-los, mas estamos sempre um pouco atrasados.
- Protegê-los do que? Há mesmo um urso lá também?
- Bella, querida, nós só protegemos as pessoas de uma coisa - o nosso único inimigo. Essa é
a razão pela qual existimos - porque eles existem.
Eu o encarei com uma expressão vazia até que eu entendí. Então o sangue foi drenado do
meu rosto com um choro de horror sem palavras, fino que saiu pelos meus lábios.
Ele balançou a cabeça. - Eu pensei que você, entre todas as pessoas, entenderia o que está
acontecendo.
- Laurent - eu cochichei. - Ele ainda está aqui.
Jacob piscou duas vezes, e deixou sua cabeça cair pro lado. - Quem é Laurent?
Eu tentei dissolver o caos na minha cabeça pra poder responder. - Você sabe, você o viu na
clareira. Você estava lá...
As palavras saíram em um tom de imaginação enquanto as palavras começavam a fazer
sentido. - Você estava lá, e você o impediu de me matar...
- Oh, a sanguessuga de cabelo preto? - ele sorriu, um sorriso apertado e largo. - Esse era o
nome dele?
Eu tremí. - O que você estava pensando? - eu sussurrei. - Ele podia ter te matado! Jake,
você não entende o quanto é perigoso...
Outra risada me interrompeu. - Bella, um vampiro só não é problema pra um bando grande
como o nosso. Foi tão fácil, quase nem foi divertido!
- O que foi tão fácil?
- Matar o bebedor de sangue que queria matar você. Agora, eu não conto isso como aquela
coisa de assassino - ele adicionou rapidamente. - Vampiros não contam como pessoas.
Eu só consegui mexer os lábios. - Você... matou... Laurent?
Ele balançou a cabeça. - Bem, foi um esforço de equipe - ele qualificou.
- Laurent está morto? - eu cochichei.
A expressão dele mudou. - Você não está aborrecida com isso, está? Ele ia matar você, ele
havia saído pra matar, Bella, nós tinhamos certeza disso antes que ele atacasse. Você sabe disso,
não é?
- Eu sei disso. Não, eu não estou aborrecida, eu estou... - eu tive que me sentar. Eu dei um
passo pra trás até que sentí o salgueiro nos meus calcanhares, e então eu sentei nele. - Laurent
está morto. Ele não vai voltar por mim.
- Você não está com raiva? Ele não era um dos seus amigos ou algo assim, era?
- Meu amigo? - eu olhei pra ele, confusa e tonta de alívio. Eu comecei a tagarelar, meus
olhos ficando úmidos. - Não Jake. Eu estou... tão aliviada. Eu pensei que ele fosse me encontrar,
eu estive esperando por ele todas as noites, só rezando pra que ele me encotrasse e deixasse
Charlie em paz. Eu estava tão assustada, Jacob... mas como? Ele era um vampiro! Como você
matou ele? Ele era tão forte, tão duro, como o mármore...
Ele se sentou perto de mim e colocou um braço no meu ombro me confortando. - É pra isso
que somos feitos, Bella. Nós somos fortes também. Eu queria que você tivesse me dito que estava
com tanto medo. Você não precisava.
- Você não estava por perto - eu murmurei, perdida em pensamentos.
- Oh, certo.
- Espere, Jake, contudo, eu pensei que você soubesse. Na noite passada você disse que não
era seguro você estar no meu quarto. Eu pensei que você soubesse que um vampiro podia estar
vindo. Não era sobre isso que você estava falando?
Ele pareceu confuso por um minuto, e então abaixou a cabeça. - Não, não era sobre isso
que eu estava falando.
- Então porque você pensava que não seria seguro estar lá?
Ele olhou pra mim com olhos livres de culpa. - Eu não disse que não era seguro pra mim. Eu
estava pensando em você.
- O que você quer dizer?
Ele olhou pra baixo e chutou uma pedra. - Há mais de uma razão pela qual eu não devia me
aproximar de você, Bella. Eu não podia te contar o nosso segredo, pra começar, mas a outra parte
é que não era seguro pra você. Se eu fico bravo demais... muito aborrecido... você pode se
machucar.
Eu pensei nisso cuidadosamente. - Quando você estava bravo antes... quando eu estava
gritando com você... e você estava tremendo...?
- É - o rosto dele foi ainda mais pra baixo. - Aquilo foi bem estúpido da minha parte. Eu
tenho que aprender a me segurar melhor. Eu jurei que não ia ficar bravo, não importava o que
você me disesse. Mas... eu comecei a ficar aborrecido demais porque ia perder você... porque
você não conseguia lidar com o que eu sou.
- O que aconteceria... se você ficasse bravo demais? - eu sussurrei.
- Eu ia me transformar num lobo - ele sussurrou de volta.
- Você não precisa de uma lua cheia.
Ele rolou os olhos. - A versão de Hollywood não é muito verdadeira. - Então ele suspirou,
sério de novo. - Você não precisa ficar tão estressada, Bells. Nós vamos cuidar disso. E vamos
manter os olhos especialmente em Charlie e nos outros, não vamos deixar nada acontecer com
eles. Confie em mim.
Havia algo muito, muito óbvio que eu devia ter reparado na hora, mas eu estava tão
destraída com a idéia de Jacob e seus amigos brigando com Laurent que eu deixei passar na hora.
Isso me ocorreu agora, quando Jacob usou o tempo presente de novo.
Nos vamos cuidar disso.
Não estava acabado.
- Laurent está morto - eu asfixiei, todo o meu corpo ficou frio feito gelo.
- Bella? - Jacob perguntou ansiosamente, tocando a minha bochecha cinzenta.
- Se Laurent morreu... a uma semana atrás... então outra pessoa está matando as pessoas
agora.
Jacob acenou com a cabeça, seus dentes trincados, e ele falou por entre eles. - Haviam dois
deles. Nós achamos que a parceira dele ia querer lutar com a gente, nas nossas histórias, eles
geralmente ficam fora de sério quando matam os parceiros deles, mas ela só fica correndo da
gente, e depois volta de novo. Se nós pudessemos descobrir o que ela está procurando, seria
muito mais fácil de rastreá-la. Ela fica escapando pelas beiradas, como se estivesse testando as
nossas defesas, procurando por um jeito de entrar, mas entrar onde? Onde é que ela quer ir? Sam
acha que ela está tentando nos separar, pra ter uma chance melhor...
A voz dele foi sumindo até que ficou parecendo que ele estava falando de dentro de um
túnel; eu não conseguia mais individualizar as palavras. Minha testa grudava com o suor e o meu
estômago girava como se eu estivesse com a doença do estômago de novo. Era exatamente como
se eu estivesse doente.
Eu me virei pra longe dele rapidamente, e me inclinei no tronco da árvore. Meu corpo estava
sofrendo convulsões com suspiros inúteis, meu estômago vazio se contraía com uma náusea
aterrorizante, apesar de não haver nada nele pra botar pra fora.
Victoria estava aqui. Procurando por mim. Matando estranhos na floresta. A floresta onde
Charlie estava procurando...
Minha cabeça revirou doentemente.
As mãos de Jacob agarraram meus ombros - me impedindo de rolar nas rochas. Eu podia
sentir o hálito quente dele na minha bochecha. - Bella! Qual é o problema?
- Victória - eu asfixiei assim que consegui juntar ar suficiente entre os meus espasmos de
náusea.
Na minha cabeça, a voz de Edward rosnou furiosa pelo nome.
Eu sentí Jacob me levantar do meu banco. Ele me jogou estranhamente no colo, colocando
minha cabeça sem vida no ombro dele. Ele estava lutando pra me equilibrar, pra me impedir de
escorregar, de um jeito ou de outro. Ele tirou o cabelo molhado de suor do meu rosto.
- Quem? - Jacob perguntou. - Você consegue me ouvir, Bella? Bella?
- Ela não era parceira de Laurent - eu gemí no ombro dele. - Eles só eram velhos amigos...
- Você precisa de água. De um médico? Me diga o que fazer - ele pediu, frenético.
- Eu não estou doente, eu estou assustada - eu expliquei num sussurro. A palavra assustada
não parecia explicar direito.
Jacob deu uns tapinhas nas minhas costas. - Com medo dessa Victória?
Eu balancei a cabeça, tremendo.
- Victória é a fêmea de cabelos vermelhos? - Eu tremí de novo e me arrepiei.
- Sim.
- Como é que você sabe que ela não era a parceira dele?
- Laurent me disse que James era o parceiro dela - eu automaticamente flexionei a mão com
a cicatriz.
Ele segurou meu rosto, segurando firmemente na sua mão grande. Ele me olhou
atentamente nos olhos. - Ele te disse mais alguma coisa, Bella? Isso é importante. Você sabe o
que ela quer?
- É claro - eu cochichei. - Ela quer a mim. - Os olhos dele se arregalaram, e depois se
estreitaram.
- Porque? - ele quis saber.
- Edward matou James - eu sussurrei. Jacob estava me segurando tão apertado que não
havia necessidade de segurar o buraco, ele me manteve inteira. - Ela realmente ficou... fora de
sério. Mas Laurent disse que ela achava que era mais justo matar a mim do que a Edward.
Parceiro por parceiro. Ela não sabia, ela ainda não sabe, eu acho, que... que... - eu engolí seco. -
Que as coisas não são mais assim. Pelo menos, não pra Edward.
Jacob ficou distraído com isso, o rosto dele dividido entre várias expressões. - Foi isso que
aconteceu? Por isso os Cullen foram embora?
- No fim das contas, eu não passo de uma humana. Nada especial. - eu expliquei, tremendo
fracamente.
Algo como um rosnado - não um rosnado de verdade, só um som humano que se
aproximava disso - estrondou no peito de Jacob embaixo do meu ouvido. - Se aquele bebedor de
sangue idiota é honestamente estúpido o suficiente...
- Por favor - eu gemí. - Por favor. Não.
Jacob hesitou, e então balançou a cabeça uma vez.
- Isso é importante - ele disse de novo, seu rosto era todo negócios agora. - Isso é
exatamente o que precisamos saber. Nós precisamos contar pro outros imediatamente.
Ele se levantou, me colocando de pé. Ele manteve as duas mãos na minha cintura até que
tivesse certeza de que eu não ia cair.
- Eu estou bem - eu mentí.
Ele ficou segurando a minha cintura com uma das mãos. - Vamos lá.
Ele me levou em direção á caminhonete.
- Pra onde estamos indo? - eu perguntei.
- Eu ainda não tenho certeza - ele admitiu. - Eu vou convocar uma reunião. Ei, espere aqui
só um minuto, está bem? - ele me colocou no lado da caminhonete e soltou minha mão.
- Onde você tá indo?
- Eu volto logo - ele prometeu. Depois ele se virou e correu pelo estacionamento, atravessou
a rua, e entrou na floresta. Ele se enfiltrou entre as árvores, rápido e brilhante, como um veado.
- Jacob! - eu gritei atrás dele com a voz rouca, mas ele já tinha desaparecido.
Não era um bom momento pra ser deixada sozinha. Segundos depois que Jacob saiu de
vista, eu estava hiperventilando. Eu me arrastei pra dentro da caminhonete, e coloquei as travas
pra baixo imediatamente.
Isso não fez eu me sentir melhor.
Victória já estava me caçando. Eu apenas tinha sorte que ela ainda não havia me encontrado
- sorte e cinco lobisomens adolescentes.
Eu exalei ríspidamente. Não me importava o que Jacob dizia, o pensamento dele chegando
em algum lugar próximo de Victória era aterrorizante. Eu não me importava com o que ele podia
virar quando estava com raiva. Eu podia ver ela na minha cabeça, seu rosto selvagem, seu cabelo
que parecia feito de chamas, letal, indestrutível...
Mas, de acordo com Jacob, Laurent estava morto. Isso era realmente possível?
Edward - eu me apertei automaticamente ao meu peito - havia me dito uma vez que era
muito difícil matar um vampiro. Somente outro vampiro podia fazer o trabalho. Ainda assim Jake
dizia que os lobisomens haviam sido feitos pra isso...
Ele disse que eles manteriam um olho especialmente em Charlie - que eu devia confiar nos
lobisomens pra manter meu pai a salvo. Como eu podia confiar nisso? Nenhum de nós estava a
salvo! Jacob muito menos que todos, se ele ia tentar ficar no meio do caminho entre Victoria e
Charlie... entre Victoria e eu.
Eu sentí que estava prestes a vomitar de novo.
Um ruído agudo na janela da caminhonete me fez gritar de terror - mas era só Jacob, que já
estava de volta. Eu destranquei a porta com dedos tremendo, agradecidos.
- Você realmente está com medo, não está? - ele perguntou enquanto deslizava pra dentro.
Eu balancei a cabeça.
- Não fique. Nós vamos tomar conta de você, e de Charlie também. Eu prometo.
- A idéia de Victória encontrando você me assusta mais do que a idéia de ela me encontrar -
eu sussurrei.
Ele riu. - Você precisa confiar em nós um pouco mais do que isso. É insultante.
Eu só balancei a cabeça. Eu já tinha visto muitos vampiros em ação.
- Onde é que você foi agora? - eu perguntei.
Ele torceu os lábios e não disse nada.
- O que? É segredo?
Ele fez uma careta. - Na verdade não. Contudo, é meio estranho. Eu não quero te assustar.
- Eu já estou meio confusa nesse ponto, sabe. - Eu tentei sorrir sem muito sucesso.
Jacob sorriu de volta facilmente. - Eu acho que você tinha que estar. Ok. Veja, quando nós
somos lobos, nós podemos... ouvir um ao outro.
Minhas sobrancelhas se baixaram confusas.
- Não ouvir sons - ele continuou. - Mas nós podemos ouvir...pensamentos, uns dos outros
pelo menos, não importa a distância que estamos um do outro. Ajuda muito quando estamos
caçando, mas de outra forma atrapalha muito. É embaraçoso, não ter segredos desse jeito.
Esquisito, né?
- Foi isso que você quis dizer na noite passada, quando disse que teria que dizer para eles
onde estava, mesmo sem querer?
- Você é rápida.
- Obrigada.
- Você também é muito boa lidando com o estranho. Eu achei que isso ia te incomodar.
- Não é... bem, você não é primeira pessoa que eu conheço que pode fazer isso. Então isso
não me parece tão estranho.
- Mesmo?... Espere, você está falando dos bebedores de sangue?
- Eu queria que você parasse de chamá-los assim.
Ele riu. - Que seja. Os Cullen, então?
- Só... Só Edward - eu passei o braço rapidamente ao redor do meu tórax.
Jacob pareceu surpreso, e não pareceu feliz. - Eu pensei que eram só histórias. Eu já tinha
ouvido lendas sobre vampiros que podiam fazer... coisas extras, mas eu pensei que fossem só
mitos.
- Será que ainda existe alguma coisa que seja só mito? - eu o perguntei cautelosamente.
Ele bufou. - Acho que não. Ok, nós vamos encontrar Sam e os outros nos lugar onde
costumávamos andar com as nossas motos.
Eu liguei a caminhonete e comecei a voltar para a estrada.
Jacob balançou a cabeça parecendo envergonhado. - Eu tentei encurtar as coisas - eu pensei
não pensar em você pra que eles não soubessem o que está acontecendo. Eu estava com medo
que Sam me disesse pra não trazer você.
- Isso não teria me impedido. - Eu não conseguia me livrar da imagem de Sam como um
cara mal. Meus dentes se tricavam toda vez que eu ouvia o nome dele.
- Bem, isso teria me impedido. - Jacob disse, sombrio agora. - Se lembra como ou
simplesmente não conseguia terminar as frases ontem? De como eu simplesmente não conseguia
te contar a história toda?
- É. Você parecia estar engasgando com alguma coisa.
Ele gargalhou sombriamente. - Bem perto. Sam me disse que eu não podia te contar. Ele é...
o cabeça do bando, sabe. Ele é o Alpha. Quando ele nos diz pra fazer uma coisa, ou pra não fazer
alguma coisa, quando ele fala sério, bem, nós não podemos simplesmente ignorá-lo.
- Esquisito - eu murmurei.
- Muito - ele concordou. - É uma coisa de lobos.
- Huh - foi a melhor resposta que eu conseguí dar.
- É, tem um monte de coisas assim, coisas de lobo. Eu ainda estou aprendendo. Eu não
consigo imaginar como foi pra Sam, tentando lidar com isso sozinho. Já é ruim o suficiente ter que
passar por isso com um bando inteiro te apoiando.
- Sam estava sozinho?
- É - a voz de Jacob baixou. - Quando eu me transformei foi a coisa mais... horrível, a coisa
mais aterrorizante pela qual eu já passei, pior que qualquer coisa que eu podia ter imaginado. Mas
eu não estava sozinho, haviam as vozes lá, em minha cabeça, me dizendo o que havia acontecido
e o que eu tinha que fazer. Isso me ajudou a não perder a cabeça, eu acho. Mas Sam... - ele
balançou a cabeça. - Sam não teve ajuda.
Isso ia precisar de alguns ajustes. Quando Jacob explicava isso assim, era difícil não sentir
compaixão por Sam. Eu tive que continuar dizendo pra mim mesma que já haviam mais motivos
pra odiá-lo.
- Eles vão ficar com raiva se eu estiver com você? - eu perguntei.
Ele fez uma cara. - Provavelmente.
- Talvez eu não devesse...
- Não, está tudo bem - ele me assegurou. - Você sabe uma tonelada de coisas que podem
nos ajudar. Você não é como uma outra humana ignorante. Você é como uma... eu não sei, espiã,
ou uma coisa assim. Você esteve atrás das linhas inimigas.
Eu fiz uma carranca pra mim mesma. Era isso que Jacob queria de mim?
Informações de dentro pra destruir seus inimigos? Porém, eu não era uma espiã. Eu não
estava colocando esse tipo de informação. De qualquer forma, as palavras dele já me faziam sentir
uma traidora.
Mas eu queria que ele parasse Victória, não queria?
Não.
Eu queria que Victória fosse parada, preferivelmente antes que ela me torturasse até a
morte ou esbarrasse em Charlie ou matasse outro estranho. Eu só não queria que fosse Jacob a
matá-la, ou pelo menos tentar. Eu não queria Jacob a menos de cem metros dela.
- Como aquela história do bebedor de sangue que lê mentes - ele continuou, incosciente do
meu devaneio. - Aquele é o tipo de coisas que precisamos saber. Realmente é um saco que
aquelas histórias sejam verdadeiras. Isso torna tudo mais complicado. Ei, você acha que essa
Victoria tem alguma coisa especial?
- Eu acho que não - eu hesitei, e depois suspirei. - Ele nunca mencionou nada sobre isso.
- Ele? Oh, você quer dizer Edward, oops, desculpa. Eu esqueci. Você não gosta de dizer o
nome dele. Ou de ouvir.
Eu apertei o meu centro, tentando ignorar a palpitação nas beiras do meu peito. - Não, na
verdade.
- Desculpa.
- Como é que você me conhece tão bem, Jacob? As vezes parece que você consegue ler a
minha mente.
- Não. Eu só presto atenção.
Nós estávamos na pequena estrada de terra onde Jacob havia me ensinado a andar de
moto.
- Tão bem assim?
- Claro, claro.
Eu encostei e desliguei o motor.
- Você ainda está bem infeliz, não é? - ele perguntou.
Eu balancei a cabeça, olhando para a floresta obscura sem ver nada.
- Você acha que um dia... que talvez... você vai superar?
Eu inalei lentamente, e depois deixei a respiração sair. - Não.
- Porque ele não era o melhor...
- Jacob, por favor - eu interrompí, implorando com um sussurro. - Será que podemos não
falar nisso, por favor? Eu não posso aguentar.
- Ok - ele respirou fundo. - Eu lamento ter dito alguma coisa.
- Não se sinta mal. Se as coisas fossem diferentes, seria bom finalmente poder falar sobre
isso com alguém.
Ele balançou a cabeça. - É, eu passei por dificuldades escondendo o meu segredo de você
por duas semanas. Deve ter sido um inferno pra você não poder falar sobre isso com ninguém.
- Um inferno - eu concordei.
Jacob sugou o ar com um som cortante. - Eles estão aqui. Vamos lá.
- Você tem certeza? - eu perguntei enquanto ele abria a sua porta. - Talvez eu não devesse
estar aqui.
- Eles vão saber lidar com isso - ele disse, e depois deu uma risada. - Quem é que tem medo
de um lobo grande e mal?
- Ha Há - eu disse. Mas eu saí da caminhonete, ma apressando pela frente pra ficar perto de
Jacob. Eu me lembrei rápido demais dos monstros gigantes da clareira.
As minhas mãos estavam tremendo como as de Jacob haviam estado antes, mas com medo
ao invés de raiva.
Jake pegou minha mão e a apertou. - Aqui vamos nós.

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