20 de junho de 2009

Capitulo 14- FAMÍLIA

14. FAMÍLIA


Eu me encolhi ao lado de Jacob, meus olhos examinando a floresta minuciosamente à

procura dos outros lobisomens. Quando eles apareceram entre as árvores, eles não eram como eu

esperava. Eu tinha a imagem dos lobos gravada em minha cabeça. Estes eram só quatro garotos

seminus realmente grandes.

Novamente, eles me lembraram irmãos quadrigêmeos. Algo na forma que se moveram,

quase sincronizados, para chegarem até nós, a maneira que todos tinham os mesmos músculos

grandes e redondos sob a mesma pele cor de cobre, o mesmo cabelo preto curto, e a maneira que

suas expressões mudavam exatamente ao mesmo tempo.

Eles começaram com curiosidade e cautela. Quando me viram ali, meio escondida atrás de

Jacob, os quatro se enfureceram no mesmo segundo. Sam continuava sendo o mais velho, mesmo

assim Jacob estava quase o alcançando. Sam não contava como um garoto de verdade. Seu rosto

parecia mais velho, não porque tinha rugas ou sinais de envelhecimento, e sim pela maturidade, a

paciência de sua expressão.

- O que você fez, Jacob? – ele demandou.

Um dos outros, o qual eu não reconheci – Jared ou Paul – se pôs na frente de Sam e falou

antes que Jacob pudesse se defender.

- Por que você não consegue simplesmente seguir as regras, Jacob? – ele gritou – agitando

os braços no ar. – Em que diabos você está pensando? Ela é mais importante que tudo – que toda

a tribo? Que as pessoas sendo mortas?

- Ela pode ajudar. – Jacob disse calmamente.

- Ajudar! – o garoto furioso gritou. Seus braços começaram a tremer. – Claro, é provável!

Tenho certeza de que adoradora de sanguessugas está doida para nos ajudar!

- Não fale assim dela! – respondeu Jacob, irritado pela crítica do garoto.

Um calafrio percorreu os ombros e a coluna vertebral do outro garoto.

- Paul! Se acalme! – Sam lhe ordenou.

Paul balançou a cabeça de um lado para o outro, não em sinal de desafio, mas como se ele

estivesse tentando se concentrar.

- Caramba, Paul – um dos outros garotos murmurou, provavelmente Jared – Controle-se.

Paul virou a cabeça para Jared, seus lábios se apertando em sinal de irritação. Depois voltou

seu olhar fulminante para minha direção. Jacob deu um passo à frente para se pôr na minha

frente.

Aí aconteceu.

- Certo, proteja ela! – Paul rugiu em afronta. Outro arrepio, uma convulsão, percorreu seu

corpo. Paul virou sua cabeça para trás, um verdadeiro rosnado surgiu dentre seus dentes.

- Paul! – Sam e Jacob gritaram ao mesmo tempo.

Paul pareceu cair para frente, movendo-se violentamente.

A meio caminho do chão, houve um barulho de rasgado, e o garoto explodiu.

Uma pele cinza escuro apareceu no garoto, transformando-se em uma forma cinco vezes

maior do que seu tamanho – uma figura peluda, abaixada, pronta para pular.

O lobo enrugou o focinho amostrando os dentes, e outro rosnado saiu de seu peito colossal.

Seus olhos negros e raivosos se cravaram em mim.

A meia passada, um forte arrepio passou pela coluna vertebral de Jacob, que saltou de

ponta-cabeça no ar vazio.

Com outro afiado som de rasgado, Jacob explodiu também. Ele explodiu sua pele –

pedacinhos pretos e brancos de roupa voaram pelo ares. Tudo ocorreu tão rápido que se eu

tivesse piscado, eu teria perdido a transformação inteira. Um segundo antes, Jacob saltava de

cabeça, e um segundo depois havia se transformado em um gigantesco lobo de cor marrom

avermelhado - tão enorme que eu não pude entender como aquela massa havia se ajustado de

alguma maneira dentro de Jacob – que se jogava contra a besta cinza.

Jacob chocou-se contra o ataque do outro Lobisomem de cabeça. Seus furiosos rosnados

ecoaram como trovões entre as árvores.

Os farrapos brancos e pretos – restos da roupa de Jacob – caíram no chão onde ele tinha

desaparecido.

- Jacob! – eu gritei de novo, indo para frente.

- Fique onde está, Bella. – Sam me ordenou.

Era difícil ouvi-lo diante dos rugidos de ambos os lobos, que se mordiam e arranhavam

buscando a garganta do rival com seus afiados dentes. Jacob parecia ganhar: era visivelmente

maior que o outro lobo, e também parecia muito mais forte. Ele lançou seu ombro de novo e de

novo no lobo cinza, jogando-o de volta para as árvores.

- Leve-a para casa da Emily – Sam gritou para os outros garotos, que estavam distraídos

assistindo a briga. Jacob empurrou o lobo cinza para fora do caminho com sucesso, e eles

estavam desaparecendo na floresta, mas o som de seus grunhidos ainda eram altos. Sam foi atrás

deles, tirando seus sapatos no caminho. Quando se lançou entre as árvores, ele estava tremendo

da cabeça aos pés.

Os grunhidos e estalos estavam ficando distantes. De repente, o som acabou e a estrada

ficou muito quieta.

Um dos garotos começou a rir.

Virei-me para olhá-lo fixamente, meus olhos arregalados e congelados, eu não podia nem

mesmo piscar para eles.

O garoto parecia estar rindo da minha expressão.

- Bem, isto não é algo que se vê todos os dias – ele riu silenciosamente. – Seu rosto

vagamente familiar – era mais magro que os outros... Embry Call.

- Eu vejo – o outro garoto, Jared, murmurou. – Todo dia.

- Aw, Paul não perde as estribeiras todo dia. – descordou Embry, sorrindo. – Talvez dois

entre três.

Jared se agachou para pegar algo branco no chão. E o segurou no alto na direção de Embry;

balançava em tiras flácidas na sua mão.

- Totalmente cortado em tiras. – disse Jared – Billy disse que era último par que podia lhe

comprar. Acho que Jacob terá que ir descalço a partir de agora.

- Este aqui sobreviveu – disse Embry, recolhendo um tênis branco – Jacob pode pular. – ele

acrescentou com uma risada.

Jared começou a recolher vários pedaços de tecido da sujeira.

- Pegue os sapatos de Sam, não é? O resto vai pro lixo.

Embry pegou os sapatos e depois correu para as árvores onde Sam havia desaparecido. Ele

voltou poucos segundos depois, com um par de calça Jeans pendurados no ombro. Jared recolheu

as sobras de roupas de Jacob e Paul e fez uma bola com elas. De repente, ele pareceu se lembrar

de mim.

Ele me olhou cuidadosamente, avaliando.

- Ei, você não irá desmaiar ou vomitar, ou algo assim? - Ele demandou.

- Acho que não. – eu ofeguei.

- Você não parece bem. É melhor se sentar.

- Certo. – eu murmurei. Pela segunda vez em uma manhã, ponho a cabeça nos meus

joelhos.

- Jake deveria ter nos avisado. – Embry reclamou.

- Ele não devia ter metido sua namorada nisso. O que ele esperava?

- Bem, o lobo foi revelado, agora. – Embry suspirou – Vá em frente, Jake.

Levantei a cabeça e olhei para os garotos que pareciam estar levando tudo isto muito

despreocupadamente.

- Vocês não estão preocupados com o que possa acontecer? – eu perguntei.

Embry piscou uma vez, surpreendido.

- Preocupados? Por quê?

- Eles podem machucar um ao outro!

Embry e Jared riram.

- Espero que Paul lhe dê uma mordida – disse Jared – Isso lhe dará uma lição.

Eu empalideci.

- Ah, certo. – discordou Embry – Você viu o Jake? Nem mesmo Sam pode entrar na fase

dessa forma, em pleno salto. Ao ver que Paul perdia o controle, quanto tempo ele levou pra

atacar, meio segundo? Esse garoto tem um dom.

- Paul luta a mais tempo. Aposto dez pratas que eles deixa uma marca.

- Apostado. Jake é talentoso. Paul não pode fazer nada.

Eles apertaram as mãos, sorrindo.

Tentei me acalmar ao ver que não estavam preocupados, mas não podia tirar da cabeça as

imagens brutais da luta dos lobisomens.

Meu estômago estava revirado, vazio e ácido, e a preocupação havia me dado dor de

cabeça.

- Vamos ver Emily. Você sabe que terá comida esperando. – Embry baixou seu olhar para

mim. – Se importa de dar um passeio?

- Sem problema. – eu asfixiei.

Jared ergueu uma sobrancelha.

- Acho melhor você dirigir, Embry. Parece que ela vai voltar a qualquer momento.

- Ótima idéia. Cadê as chaves? – Embry perguntou?

- Na ignição.

- Você vai aqui. – ele me disse alegremente, me levantando do chão com uma mão e me

pondo na cadeira. Depois estudou o espaço disponível – Você terá que ir atrás – ele disse a Jared.

- Isso é bom. Não tenho muito estômago. Não quero estar lá quando ela soprar.

- Eu aposto que ela é mais dura que isto. Ela anda com vampiros.

- Cinco pratas? – Jared propôs.

- Feito. Sinto-me culpado por tirar seu dinheiro assim.

Embry entrou e ligou o motor enquanto Jared pulava para a parte de trás. Quando fechou

sua porta, Embry me disse baixinho:

- Não vomite, certo? Só tenho uma nota de dez e se Paul conseguir cravar os dentes em

Jacob...

- Tudo bem - eu sussurrei.

Embry nos dirigiu de volta para a vila.

- Ei, como é que Jake passou por cima da proibição afinal?

- A... o que?

- Er, a ordem. Você sabe, pra não sair falando tudo. Como foi que ele te contou sobre isso?

- Oh, isso - eu disse, lembrando de Jacob se engasgando tentando me contar a verdade na

noite passada. - Ele não me disse. Eu dei um chute certo.

Embry torceu os lábios, parecendo surpreso. - Hmm. Eu acho que isso também funciona.

- Pra onde estamos indo? - eu perguntei.

- Para a casa de Emily. Ela é namorada de Sam... não, noiva, agora, eu acho. Eles vão nos

encontrar lá depois que Sam der uma lição neles pelo que acabou de acontecer. E depois que Paul

e Jake arranjarem algumas roupas, se é que Paul ainda tem alguma sobrando.

- Emily sabe sobre...?

- É. E ei, não encare ela. Isso irrita o Sam.

Eu fiz uma carranca pra ele. - E porque eu encararia ela?

Embry pareceu desconfortável. - Como você acabou de ver, andar por aí com lobisomens

tem seus riscos. - Ele mudou de assunto rapidamente. - Ei, você tá legal sobre aquela coisa toda

do bebedor de sangue de cabelo preto da clareira? Ela não parecia ser seu amigo, mas... - Embry

levantou os ombros.

- Não, ele não era meu amigo.

- Isso é bom. Nós não queríamos começar nada, quebrar o acordo, sabe.

- Oh, é, Jake me contou sobre o acordo uma vez, há muito tempo. Porque matar Laurent ia

quebrar o acordo?

- Laurent - ele repetiu, bufando, como se ele achasse engraçado que um vampiro tivesse

nome. - Bem, tecnicamente, nós estávamos no terrenos dos Cullen. Nós não temos permissão pra

matar nenhum deles, os Cullen, pelo menos, fora da nossa terra - a não ser que eles quebrem o

acordo antes. Nós não sabíamos se aquele de cabelo preto era um parente deles ou alguma coisa

assim. Parecia que você o conhecia.

- O que é que eles teriam que fazer pra quebra o acordo?

- Morder um humano. Jake não estava muito contente com a idéia de deixar isso ir tão

longe.

- Oh. Umm, obrigada. Eu fico feliz que vocês não esperaram.

- O prazer foi nosso. - Parecia que ele estava querendo dizer isso no sentido literal.

Embry dirigiu através da casa mais á oeste na estrada antes de fazer uma curva apertada

numa estrada de terra.

- A sua caminhonete é lenta - ele notou.

- Desculpe.

No fim dessa rua havia uma casa pequena que um dia já havia sido cinza. Havia apenas uma

janela apertada do lado de uma porta pintada de azul, mas havia uma caixa embaixo da janela

que estava cheia de margaridas laranjas e amarelas, dando ao lugar todo uma aparência alegre.

Embry abriu a porta da caminhonete e inalou. - Mmm. Emily está cozinhando.

Jared pulou da carroceria da caminhonete e foi caminhando na direção da porta, mas Embry

parou ele com uma mão no peito. Ele olhou pra mim significantemente, e limpou a garganta.

- Eu não estou com a minha carteira aqui - Jared disse.

- Tudo bem. Eu não vou esquecer.

Eles passaram por cima do único degrau e entraram na casa sem bater na porta. Eu segui os

dois timidamente depois.

A sala da frente, como na casa de Billy, era em grande parte a cozinha. Uma mulher jovem

com a pele cor de cobre e com um cabelo cor de corvo longo, liso, estava de pé no balcão perto

da pia, tirando muffins grandes de uma bandeja e os colocando num prato de papel. Por um

segundo, eu me perguntei se o motivo de Embry pra que eu não encarasse era porque essa

garota era tão linda.

E então ela perguntou. - Vocês estão com fome? - com uma voz melódica, e ela se virou pra

nos encarar de frente, um sorriso na metade do rosto.

O lado direito do rosto dela estava marcado da linha do cabelo até o queixo com três linha

finas, vermelhas, numa cor vívida apesar delas já terem sarado há muito tempo. Uma das linhas

havia puxado pra baixo um canto do seu olho com formato de amêndoa, e a outra havia virado o

canto direita da sua boca como numa careta permanente.

Agradecida pelo aviso de Embry, eu me virei rapidamente pra olhar para os muffins na mão

dela. O cheiro deles era maravilhoso - como amoras frescas.

- Oh - Emily disse, surpresa. - Quem é essa?

Eu olhei pra cima, tentando me concentrar em olhar para a parte esquerda do rosto dela.

- Bella Swan - Jared disse pra ela, levantando os ombros. Aparentemente eu já fui o tópico

de uma conversa antes. - Quem mais?

- Deixe que Jacob arrume um jeito pra contornar isso - Emily murmurou.

Ela me encarou, e nenhuma das duas partes do seu rosto uma vez lindo era amigável. -

Então, você é a garota vampira.

Eu me enrijeci. - Sim. Você é a garota lobisomem?

Ela sorriu, e Embry e Jared também. O lado esquerdo do rosto dela se amenizou.

- Eu acho que sou. - Ela se virou para Jared. - Onde está Sam?

- Bella, er, surpreendeu Paul essa manhã.

Emily rolou seu olho bom. - Ah, Paul - ela suspirou. - Você acha que eles vão demorar? Eu ia

começar a fazer os ovos.

- Não se preocupe - Embry disse a ela. - Se eles se atrasarem, nós não vamos deixar nada

se desperdiçar.

Emily gargalhou, e então abriu a geladeira. - Sem dúvida - ela concordou. - Bella, você está

com fome? Vá em frente e se sirva com um muffin.

- Obrigada. - Eu peguei um do prato e comecei a mordiscar pelas beiras. Estava delicioso, e

caiu bem no meu estômago delicado. Embry pegou o seu terceiro e enfiou inteiro na boca.

- Deixe algum pros seus irmãos - Emily castigou ele, batendo na cabeça dele com uma

colher de pau. A palavra me surpreendeu, mas parecia não ser nada para os outros.

- Porco - Jared comentou.

Eu me inclinei no balcão e observei eles três brincando como uma família. A cozinha de

Emily era um lugar amigável, brilhante com armários brancos e madeira pálida no chão. Na

pequena mesa redonda, um vaso chinês azul e branco estava lotado de flores selvagens. Embry e

Jared pareciam completamente á vontade aqui.

Emily estava misturando uma quantidade enorme de ovos, várias dúzias, em uma grande

tigela amarela. Ela tinha levantado as mangas da sua camisa cor de lavanda, e eu podia ver que

as cicatrizes se estendiam por todo o seu braço e sua mão direita. Andar por aí com lobisomens

tinha seus riscos, assim como Embry havia dito.

A porta da frente se abriu, e Sam passou por ela.

- Emily - ele disse, e tanto amor transbordava da voz dele que eu me senti envergonhada,

uma intrusa, enquanto observada ele atravessar a sala com uma passada e pegar o rosto dela

entre suas mãos grandes. Ele se inclinou e beijou as cicatrizes escuras na bochecha direita dela

antes de beijar seus lábios.

- Ei, para com isso - Jared reclamou. - Eu estou comendo.

- Então cala a boca e come - Sam sugeriu, beijando a boca arruinada de Emily de novo.

- Ugh - Embry gemeu.

Isso era pior do que qualquer filme romântico; isso era tão real que cantava com a alegria e

o amor verdadeiro. Eu abaixei meu muffin e passei meus braços ao redor do meu peito vazio. Eu

olhei para as flores, tentando ignorar a paz dominante do momento, e a dor pulsante das minhas

feridas.

Eu fiquei agradecida pela distração quando Jacob e Paul entraram pela porta, e depois fiquei

chocada quando vi que eles estavam rindo. Enquanto eu olhava, Paul deu um murro no ombro de

Jacob e Jacob retribuiu com um soco nas costelas. Eles riram de novo. Os dois pareciam ainda

estar inteiros.

Jacob procurou pela sala, os olhos dele pararam quando ele me encontrou inclinada,

esquisita e fora do lugar, no balcão perto do fim da cozinha.

- Ei, Bells - ele me cumprimentou alegremente. Ele pegou dois muffins enquanto passava

pela cozinha pra vim ficar do meu lado. - Desculpa por antes - ele murmurou por baixo do fôlego.

- Como é que você tá?

- Não se preocupe, eu estou bem. Bons muffins. - Eu peguei o meu de volta e comecei a

mordiscar de novo. Meu peito se sentiu melhor assim que Jacob estava ao meu lado.

- Oh, cara! - Jared gemeu, nos interrompendo.

Eu olhei pra cima e Embry estava examinando uma linha cor de rosa que estava

desaparecendo no antebraço de Paul. Embry estava sorrindo, exultante.

- Quinze dólares - ele declarou.

- Você fez aquilo? - eu cochichei pra Jacob, me lembrando da aposta.

- Eu mal toquei nele. Ele vai estar perfeito no por do sol.

- No por do sol? - Eu olhei para a linha no braço de Paul. Estranho, mas ela parecia já estar

lá a semanas.

- Coisa de lobo - ele cochichou.

Eu balancei a cabeça, tentando não achar estranho.

- Você está bem? - eu perguntei pra ele por baixo do fôlego.

- Nenhum arranhão. - A expressão dele era de zombaria.

- Ei, caras - Sam disse numa voz alta, interrompendo todas as conversas que estavam

acontecendo na pequena sala.

Emily estava no fogão, mexendo a mistura de ovos numa frigideira grande, mas Sam ainda

estava com uma mão tocando a parte de baixo das suas costas, um gesto inconsciente. - Jacob

tem uma informação pra nós.

Paul não parecia surpreso. Jacob já devia ter explicado isso pra ele e pra Sam. Ou... eles já

haviam ouvido os seus pensamentos.

- Eu sei o que a ruiva quer - Jacob dirigiu suas palavras pra Jared e Embry. - Era isso que eu

estava tentando te contar. - Ele chutou a perna da cadeira onde Paul havia se sentado.

- E? - Jared perguntou.

O rosto de Jacob ficou sério. - Ela está querendo vingar o seu parceiro, só que o parceiro

dela não é o sanguessuga de cabelos pretos que nós matamos. Os Cullen mataram o parceiro dela

no ano passado, e agora ela está atrás de Bella.

Isso não era novidade pra mim, mas eu tremí.

Jared, Embry e Emily olharam pra mim com as bocas abertas de surpresa.

- Ela é só uma garota - Embry protestou.

- Eu não disse que fazia sentido. Mas é por isso que a sugadora de sangue está querendo

passar por nós. Ela está a caminho de Forks.

Eles continuaram a olhar pra mim, ainda com as bocas abertas, por um longo momento. Eu

abaixei a cabeça.

- Excelente - Jared finalmente disse, um sorriso começando a puxar os cantos da sua boca

pra cima. - Nós temos um isca.

Com uma velocidade formidável, Jacob agarrou uma lata aberta em cima do balcão e a

lançou na cabeça de Jared. A mão de Jared se levantou mais rápido do que eu julgaria possível, e

afastou a lata pouco antes que ela atingisse o seu rosto.

- Bella não é isca.

- Você sabe o que eu quero dizer - Jared disse sem nenhuma vergonha.

- Então nós vamos mudar os nossos padrões - Sam disse, ignorando a discussão. - Nós

vamos tentar deixar alguns buracos, e ver se ela cai nessa. Nós vamos ter que nos separar, e eu

não gosto disso. Mas se ela realmente estiver atrás de Bella, ela provavelmente não vai tentar tirar

vantagem dos nossos números divididos.

- Quil deve estar perto de se juntar a nós - Embry murmurou. - Então nós seremos capazes

de nos separar igualmente.

Todo mundo olhou pra baixo. Eu olhei para o rosto de Jacob, e ele estava sem esperança,

como estava ontem á tarde, do lado de fora da casa dele.

Não importava o quanto eles parecessem estar confortáveis com os seus destinos, aqui

nessa cozinha feliz, nenhum desses lobisomens queria esse mesmo destino para o amigo.

- Bem, não vamos contar com isso - Sam disse numa voz baixa, e então continuou no seu

volume normal.

- Paul, Jared e Embry vão ficar no perímetro exterior, e Jacob e eu vamos ficar com o

interior. Nós vamos nós juntar quando agarrarmos ela.

Eu reparei que Emily não ficou particularmente satisfeita por Sam ter ficado no grupo menor.

A preocupação dela me fez olhar pra Jacob, preocupada também.

Sam viu meu olhar. - Jacob acha que seria bom você passar o máximo de tempo aqui em La

Push. Ela não vai saber onde te encontrar assim tão facilmente, só na duvida.

- E quanto á Charlie? - eu quis saber.

- A maré de março ainda está aí - Jacob disse. - Eu acho que Billy e Harry vão conseguir

manter Charlie aqui quando ele não estiver no trabalho.

- Espere - Sam disse, segurando uma mão pra cima. O olhar dele foi pra Emily e depois

voltou pra mim. - Isso é o que Jacob acha melhor, mas você precisa decidir sozinha. Você devia

pensar os riscos de ambas as situações muito seriamente. Você viu essa manhã o quanto as coisas

podem ficar perigosas com facilidade por aqui, como podem sair de controle rapidamente. Se você

escolher ficar conosco, eu não posso te dar garantias sobre a sua segurança.

- Eu não vou machucar ela - Jacob murmurou, olhando pra baixo.

Sam agiu como se não tivesse ouvido ele falar. - Se houvesse outro lugar onde você posse

se sentir segura...

Eu mordi meu lábio. Onde mais eu podia ir sem colocar mais ninguém em risco? Eu recuei

de novo da idéia de trazer Renée pra dentro disso - colocando ela pra dentro do alvo onde eu

estava... - Eu não quero levar Victoria pra nenhum outro lugar - eu sussurrei.

Sam balançou a cabeça. - Isso é verdade. É melhor deixar ela aqui, onde nós podemos

acabar com isso.

Eu vacilei. Eu não queria Jacob ou nenhum dos outros tentando acabar com Victória. Eu

olhei para o rosto de Jake; ele estava relaxado, quase o mesmo do qual eu me lembrava antes

dessa coisa de lobo, e extremamente despreocupado com a idéia de caçar vampiros.

- Você vai ser cuidadoso, certo? - eu perguntei, com um caroço audível na minha garganta.

Os garotos explodiram de vaias de brincadeira. Todos riram de mim - exceto Emily. Ela

encontrou meus olhos, e eu de repente consegui enxergar a simetria por baixo da sua

deformidade. O rosto dela ainda era lindo, e vivo com uma preocupação ainda mais penetrante do

que a minha. Eu tive que desviar o olhar, antes que o amor por trás das suas preocupações

fizessem o meu peito doer de novo.

- A comida tá pronta - ela anunciou, a conversa sobre estratégias virou história. Os rapazes

correram ao redor da mesa, que parecia pequena e prestes a cair por causa deles, e devoraram a

panela de tamanho gigante de ovos que Emily havia colocado na frente deles em tempo recorde.

Emily comeu inclinada no balcão como eu, evitando a confusão da mesa, e olhou pra eles com

olhos aficionados. A expressão dela deixava bem claro que essa era a sua família.

No fim das contas, isso não era exatamente o que eu esperava de um bando de lobisomens.

Eu passei o dia em La Push, em grande parte na casa de Billy. Ele deixou mensagens no

telefone de Charlie e na delegacia, e Charlie apareceu quase na hora do jantar com duas pizzas.

Foi bom que ele tenha trazido duas grandes; Jacob comeu uma inteira sozinho.

Eu vi Charlie olhando pra nós dois com olhos suspeitos a noite inteira, especialmente para o

Jacob muito mudado. Ele perguntou sobre o cabelo; Jacob levantou os ombros e disse que isso

era mais conveniente.

Eu sabia que assim que Charlie e eu fossemos pra casa, Jacob ia se mandar - ele ia sair por

aí como lobo, como ele havia feito em pequenos intervalos durante o dia inteiro.

Ele e os seus irmãos meio que mantinham uma ronda constante, procurando por algum sinal

de que Victória havia voltado. Mas desde que eles a caçaram nas piscinas termais ontem á noite -

caçado ela até meio caminho do Canadá, de acordo com Jacob - ela continuava desaparecida.

Eu não tinha a mínima esperança que ela fosse simplesmente desistir. Eu não tinha esse tipo

de sorte.

Jacob me acompanhou até a caminhonete depois do jantar e ficou grudado na janela,

esperando que Charlie fosse embora primeiro.

- Não tenha medo essa noite - Jacob disse enquanto Charlie fingia estar tendo problemas

com o cinto de segurança. - Nós vamos estar de olho lá, observando.

- Eu não vou estar preocupada comigo mesma - eu prometí.

- Você é boba. Caçar vampiros é divertido. É a melhor parte dessa bagunça toda.

Eu balancei minha cabeça. - Se eu sou boba, então você está perigosamente desequilibrado.

Ele gargalhou. - Descanse um pouco, Bella, querida. Você parece exausta.

- Eu vou tentar.

Charlie tocou a buzina impaciente.

- Te vejo amanhã - Jacob disse. - Venha assim que acordar.

- Eu vou.

Charlie me seguiu até em casa. Eu prestei pouca atenção aos faróis no meu espelho

retrovisor. Ao invés disso, eu imaginei onde Sam e Jared e Embry e Paul haviam ido, na sua

caçada de hoje á noite. Eu imaginei se Jacob já havia se juntado a eles.

Quando nós chegamos em casa, eu corri para as escadas, mas Charlie estava bem atrás de

mim.

- O que está acontecendo, Bella? - ele quis saber antes que eu conseguisse escapar. - Eu

pensei que Jacob fizesse parte de uma gangue e que vocês estavam brigando.

- Fizemos as pazes.

- E a gangue?

- Eu não sei, quem consegue entender os garotos adolescentes? Eles são um mistério. Mas

eu conheci Sam Uley e sua noiva, Emily. Pra mim eles pareceram bem legais. - Eu levantei os

ombros. - Deve ter sido tudo um mal-entendido.

O rosto dele mudou. - Eu não sabia que ele e Emily haviam tornado oficial. Isso é bom.

Pobre garota.

- Você sabe o que aconteceu com ela?

- Espancada por um urso, no norte, durante a temporada de defeso dos salmões, um

acidente horrível. Faz mais de um ano agora. Eu ouvi dizer que Sam ficou bem perturbado com a

coisa toda.

- Isso é horrível - eu ecoei. Mais de um ano atrás. Eu aposto que isso havia acontecido

quando só havia um lobisomem em La Push. Eu tremi ao pensar em como Sam deve se sentir toda

vez que olha para o rosto de Emily.

Naquela noite eu fiquei acordada por muito tempo tentando pensar no dia de hoje. Eu

pensei no meu jantar com Billy, Jacob e Charlie, na longa tarde na casa dos Black, esperando

ansiosamente ter notícias de Jacob, na cozinha de Emily, o horror da briga de lobisomens, a

conversa com Jacob na praia.

Eu pensei no que Jacob havia dito cedo nessa manhã, sobre hipocrisia.

Eu pensei nisso por um longo momento. Eu não gostava de pensar que era uma hipócrita, só

que qual era a vantagem de mentir pra mim mesma?

Eu me curvei numa bola muito apertada. Não, Edward não era um assassino. Mesmo em seu

passado obscuro, pelo menos ele nunca foi assassino de inocentes.

Mas e se ele tivesse sido? E se, durante o tempo que eu não o conheci, ele tivesse sido

exatamente igual a qualquer outro vampiro? E se houvessem pessoas desaparecendo nas

florestas, como agora? Isso teria me mantido afastada dele?

Eu balancei minha cabeça tristemente. O amor é irracional, eu lembrei pra mim mesma.

Quanto mais você ama alguém, menos sentido as coisas fazem.

Eu me virei e tentei pensar em outra coisa - em pensei em Jacob e seus irmãos, correndo na

escuridão. Eu peguei no sono imaginando os lobos, invisíveis na noite, me protegendo do perigo.

Quando eu sonhei, eu estava na floresta de novo, mas eu não estava vagando. Eu estava

segurando a mão assustada de Emily enquanto nós encarávamos as sombras e esperávamos

ansiosamente que os nossos lobisomens voltassem pra casa.

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