22 de maio de 2009

10. A CAMPINA

Jacob não ligou. Da primeira vez que eu liguei, Billy atendeu e disse que Jacob ainda estava na cama. Eu fiquei curiosa, checando pra ter certeza de que Billy havia levado ele ao médico. Billy disse que tinha, mas, por alguma razão eu não comprei isso, eu não acreditei nele. Eu liguei de novo, várias vezes por dia, pelos dois dias seguintes, mas nem tinha ninguém lá. No sábado, eu decidi ir visitá-lo, que se danasse o convite. Mas a pequena casa vermelha estava vazia. Isso me assustou - será que Jacob estava tão doente que teve que ser internado no hospital? Eu parei no hospital no caminho de volta pra casa, mas a enfermeira na mesa da frente me disse que nenhum Jacob ou Billy esteve lá. Eu fiz Charlie ligar pra Harry Clearwater assim que ele chegou em casa do trabalho. Eu esperei, ansiosa, enquanto Charlie tagarelava com o seu velho amigo; a conversa pareceu durar uma eternidade sem que Jacob fosse mencionado. Parecia que Harry havia estado no hospital... foi fazer algum tipo de teste no coração. A testa de Charlie ficou toda enrugada, mas Harry fez piada com ele, mudando de assunto, até que Charlie estava sorrindo de novo. Só aí Charlie perguntou sobre Jacob, e agora o lado dele da conversa não me dava muito a entender, só um monte de Hmmms e Ééééé. Eu batuquei meus dedos no balcão ao lado dele até que ele colocou a mão dele em cima da minha pra me fazer parar. Finalmente, Charlie desligou o telefone e se virou pra mim. - Harry disse que houveram problemas com as linhas telefônicas, e que foi por isso que você não conseguiu falar com eles. Billy levou Jacob para o médico de lá, e parece que ele está com Mononucleose. Ele está muito cansado, e Billy está proibindo as visitas - ele informou. - Nada de visitas? - eu perguntei sem acreditar. Charlie ergueu uma sobrancelha. - Agora não comece a ser incômoda, Bells. Billy sabe o que é melhor pra Jake. Ele vai estar de pé em breve. Seja paciente. Eu não quis forçar a barra. Charlie estava muito preocupado com Harry. Esse claramente era um problema mais sério - não era certo incomodá-lo com os meus probleminhas. Ao invés disso, eu fui lá pra cima e liguei o meu computador. Eu encontrei um site médico on line e digitei “mononucleose” na caixinha de buscas. A única coisa que eu sabia sobre Mononucleose era que você podia pegar beijando, que claramente não era o caso de Jake. Eu li os sintomas rapidamente - a febre ele definitivamente tinha, mas e quanto ao resto? Nenhum horrível inchaço na garganta, sem exaustão, sem dores de cabeça, pelo menos não até antes de ele chegar em casa depois do cinema; ele disse que se sentia “absolutamente normal”. Será que isso tudo apareceu tão rápido? O artigo fazia parecer que os inchaços apareciam primeiro. Eu olhei para a tela do computador e me perguntei porque, exatamente, eu estava fazendo isso. Porque eu me sentia tão... tão suspeita, como se eu não acreditasse na história de Billy? Porque Billy iria mentir pra Harry? Eu estava sendo boba, provavelmente. Eu só estava preocupada, e, pra ser honesta, eu estava com medo por não estar sendo permitida de visitar Jacob - isso me deixou nervosa. Eu deslizei pelo resto do artigo, procurando por mais informações. Eu parei quando cheguei na parte que dizia que a mono podia durar mais de um mês. Um mês? Minha boca se abriu. Billy não podia proibir as visitas por tanto tempo. É claro que não. Jake ficaria louco se ficasse numa cama esse tempo todo sem falar com ninguém. Do que é que Billy estava com medo, afinal? O artigo dizia que a pessoa como Mono devia evitar atividades físicas, mas não dizia nada sobre visitas. A doença não era tão contagiosa. Eu daria a Billy uma semana, eu decidí, antes de forçar a barra. Uma semana era uma generosidade. Uma semana era muito tempo. Na quarta, eu já não tinha certeza se sobreviveria até o sábado. Quando eu decidi que deixaria Billy e Jacob a sós por uma semana, eu não acreditava realmente que Jacob fosse seguir as regras de Billy. Todos os dias quando eu voltava pra casa da escola, eu corria pra o telefone pra checar as mensagens. Nunca havia nenhuma. Eu traí três vezes tentando ligar pra ele, mas as linhas telefônicas ainda não estavam funcionando. Eu ficava em casa por tempo demais, e sozinha demais. Sem Jacob, minha adrenalina e minhas distrações, e tudo mais que eu havia reprimido começaram a me deixar impaciente. Os sonhos ficaram piores de novo. Eu não conseguia mais ver o fim se aproximando. O horrível vazio - metade do tempo na floresta, metade no tempo no mar de grama onde a casa branca não existia mais. As vezes Sam Uley estava lá na floresta, me olhando de novo. Eu não prestava atenção nele - não havia nenhum conforto na presença dele; ela não fazia eu me sentir menos sozinha. Ela não me fez parar de gritar até acordar, noite após noite. O buraco no meu peito estava pior que nunca. Eu achava que estava começando a controlálo, mas eu me pegava me curvando, dia após dia, agarrando os meus dois lados, e sufocando por ar. Eu não estava lidando bem com isso sozinha. Eu fiquei aliviada além das medidas, quando me acordei de manhã - gritando, é claro - e me lembrei de que era sábado. Hoje eu podia ligar pra Jacob. E se as linhas telefônicas ainda não estivessem funcionando, então eu iria á La Push. De um jeito ou de outro, hoje seria melhor do que a minha última semana de solidão. Eu disquei, e então esperei sem elevar as minhas expectativas. Eu fui pega fora de guarda quando Billy atendeu no segundo toque. - Alô? - Oh, ei, o telefone está funcionando de novo! Oi, Billy. É Bella. Eu só estou ligando pra saber como Jacob está. Ele já pode receber visitas? Eu estava pensando em passar por aí. - Eu lamento, Bella - Billy interrompeu, e eu me perguntei se ele estava assistindo TV; ele parecia distraído. - Ele não está aqui. - Oh - isso me levou um segundo. - Ele está se sentindo melhor, então? - É - Billy hesitou por um instante longo demais. - Acontece que no fim ele não estava com Mononucleose. Era só algum outro vírus. - Oh. Então... onde ele está? - Ele está dando a alguns amigos uma carona até Port Angeles - eu acho que eles vão pegar uma sessão dupla ou alguma coisa assim. Ele vai ficar fora o dia inteiro. - Bem, isso é um alívio. Eu estava tão preocupada. Eu me alegro que ele tenha se sentido bem o suficiente pra sair. - A minha voz parecia horrivelmente falsa enquanto eu tagarelava. Jacob estava melhor, mas não bem o suficiente pra me ligar. Ele havia saído com os amigos. Eu estava sozinha em casa, sentindo mais falta dele a cada hora. Eu estava sozinha, preocupada, enfadada... perfurada - e agora também estava desolada ao descobrir que uma semana de distância não teve o mesmo efeito nele. - Tem algo em particular que você queira? - Billy perguntou educadamente. - Não, na verdade não. - Bem, eu digo pra ele que você ligou - Billy prometeu. - Tchau, Bella. Eu fiquei parada um momento com o telefone ainda na minha mão. Jacob deve ter mudado de idéia, assim como eu temia. Ele ia seguir o meu conselho e ia parar de perder tempo com uma pessoa que não podia retornar os seus sentimentos. Eu senti o sangue fugindo do meu rosto. - Há algo errado? - Charlie me perguntou enquanto descia as escadas. - Não - eu menti desligando o telefone. - Billy disse que Jacob está se sentindo melhor. Não era mono. Isso é bom. - Ele está vindo aqui, ou você está indo pra lá? - Charlie perguntou ausentemente enquanto começava a vasculhar na geladeira. - Nenhum dos dois - eu admiti. - Ele saiu com uns amigos. O tom da minha voz finalmente chamou a atenção de Charlie. Ele olhou pra mim com olhos alarmados de repente, as mãos dele congelaram num pacote de queijo fatiado. - Não é um pouco cedo demais pra almoçar? - eu perguntei tão levemente quanto pude, tentando distraí-lo. - Não, eu só vou empacotar alguma coisa pra levar para o rio... - Oh, vai pescar hoje? - Bem, Harry ligou... e não está chovendo - Ele estava criando uma pilha de comida no balcão enquanto falava. De repente ele olhou pra cima de novo, como se tivesse acabado de se dar conta de alguma coisa. - Diga, você quer que eu fique aqui com você, já que Jake saiu? - Está tudo bem, pai - eu disse trabalhando pra soar diferente. - Os peixes são melhor fisgados quando o tempo está bom. Ele olhou pra mim, a indecisão estava clara no rosto dele. Eu sabia que ele estava se preocupando, com medo de me deixar sozinha, no caso de eu ficar um “palerma” de novo. - Sério, pai. Eu acho que vou ligar pra Jéssica - eu lorotei rapidamente. Eu preferia ficar sozinha do que com ele me vigiando o dia inteiro. - Nós temos um teste de Cálculo pra estudar. Eu podia usar a ajuda dela. - Essa parte era verdade. Mas eu teria que conseguir me virar sozinha. - Essa é uma boa idéia. Você tem passado tanto tempo com Jacob, seus outros amigos devem estar pensando que você os esqueceu. Eu sorri e balancei a cabeça como se me importasse com o que os meus outros amigos pensavam. Charlie começou a se virar, mas se virou de volta com uma expressão preocupada. - Ei, você vai estudar aqui ou na casa de Jess, certo? - Claro, onde mais? - Bem, é só que eu quero que você tome o cuidado de ficar fora da floresta, como eu já te disse antes. Eu levei um minuto pra entender, de tão distraída que estava. - Mais problemas com o urso? Charlie balançou a cabeça, fazendo uma careta. - Nós temos um mochileiro desaparecido, os patrulheiros encontraram o acampamento dele essa manhã, mas não havia sinal dele. Haviam algumas pegadas muito grandes de animal... é claro que eles apareceram mais cedo, sentindo o cheiro da comida... De qualquer forma, eles estão colocando armadilhas pra eles agora. - Oh - eu disse vagamente. Eu não estava realmente ouvindo os avisos dele; eu estava muito mais aborrecida com a situação com Jacob do que com a possibilidade de ser comida por um urso. Eu estava feliz que Charlie estava com pressa. Ele não esperou até que eu ligasse pra Jéssica, assim eu não tive que cumprir essa promessa. Eu passei pelas ações de pegar meus livros e colocá-los na mochila; isso provavelmente foi demais, e se ele não estivesse com pressa de se mandar, isso poderia ter feito ele suspeitar. Eu estava tão ocupada parecendo ocupada que o meu dia ferozmente vazio não realmente bateu em mim até que eu o vi indo embora. Eu só precisei olhar durante uns dois minutos para o telefone silencioso da cozinha pra decidir que não ia passar o dia em casa. Eu considerei minhas opções. Eu não ia ligar pra Jéssica. Até onde eu podia dizer, Jéssica havia passado para o lado negro. Eu podia dirigir até La Push e pegar a minha moto - uma opção muito tentadora, se não fosse por um pequeno problema: quem era que ia me levar para o pronto socorro se eu precisasse ir pra lá depois? Ou... Eu já estava com o nosso mapa e com o compasso na minha caminhonete. Eu tinha certeza que havia entendido o processo o suficiente até agora pra não me perder. Talvez eu pudesse eliminar duas linhas hoje, nos colocando á frente na nossa agenda pra quando quer que Jacob resolvesse me honrar com a sua presença de novo. Eu me recusei a pensar em quanto tempo isso poderia durar. Ou se não duraria pra sempre. Eu senti uma leve pontada de culpa enquanto me dava conta de como Charlie se sentiria em relação a isso, mas eu a ignorei. Eu simplesmente não podia ficar em casa hoje de novo. Alguns minutos depois eu estava na familiar estrada de poeira que não levava a nenhum lugar em particular. Eu deixei as janelas abertas e dirigi o mais rápido que pude para a saúde da minha caminhonete, tentando aproveitar o vento no meu rosto. Estava nublado, mas quase seco - um dia muito bom, pra Forks. Começar me levou mais tempo do que levaria pra Jacob. Depois que eu estacionei no lugar de sempre, eu tive que passar uns bons quinze minutos estudando cuidadosamente a pequena agulha do compasso e as marcas do mapa agora bastante usado. Quando eu estava razoavelmente certa de que estava seguindo a linha certa na teia, eu me embrenhei na mata. A floresta estava cheia de vida hoje, todas as pequenas criaturas estavam aproveitando a secura momentânea. De alguma forma, porém, mesmo com os pássaros cantando e fazendo barulho, os insetos zumbindo alto na minha cabeça, e até a ocasional corrida de um rato do mato entre os arbustos, a floresta parecia mais assustadora hoje; me lembrava do meu pesadelo mais recente. Eu sabia que era só porque eu estava sozinha, sentindo falta do assobio livre de Jacob e do som de outro par de pés pisando no chão molhado. A sensação de inquietude foi crescendo ficava mais forte quanto mais fundo eu me enfiava na floresta. Respirar começou a ficar mais difícil - não por causa da exaustão, mas sim porque eu estava tendo problemas com o estúpido buraco no meu peito de novo. Eu apertei meus braços com força ao redor do tórax e tentei banir a dor dos meus pensamentos. Eu quase dei a volta, mas eu odiava ter que jogar fora todo o esforço que já havia feito. O ritmo dos meus passos começou a entorpecer a minha mente e a minha dor. A minha respiração ficava uniforme eventualmente, e eu estava feliz por não ter desistido. Eu estava ficando melhor nesse negócio de caminhar pelas matas; eu podia notar que estava mais rápida. Eu não me dei conta de o quanto eu estava sendo eficiente. Eu achava que já havia andado milhas e ainda nem havia começado a contá-las. E então, com uma rapidez que me desorientou, eu entrei por um arco que era feito com o tronco de duas árvores - passando pelas samambaias que chegavam á altura do peito - passando para a clareira. Era o mesmo lugar, instantaneamente eu tinha certeza. Eu nunca havia visto outra clareira tão simétrica. Ela era perfeitamente redonda como se alguém tivesse intencionalmente criado o círculo sem falhas, arrancando as árvores mas sem deixar evidências dessa violência nas ondas de grama. Á leste, eu podia ouvir o rio borbulhando silenciosamente. O lugar não era nem um pouco tão fascinante sem a luz do sol, mas ainda era muito bonito e sereno. Não era a época certa para as flores selvagens; o chão estava grosso com a grama alta que balançava com a brisa leve como se fossem ondas num lago. Era o mesmo lugar... mas não parecia que eu encontraria lá o que eu estava procurando. A decepção foi quase tão instantânea quanto o reconhecimento. Eu afundei onde estava, me ajoelhando lá na beira da clareira, começando a asfixiar. De que adiantava seguir em frente? Não havia nada lá. Nada além de memórias que eu queria ter trazido á tona quando eu quisesse, se um dia eu fosse capaz de lidar com a dor que elas trariam - a dor que me pegou agora, me deixou fria. Não havia nada de especial nesse lugar sobre ele. Eu não tinha certeza absoluta do que esperava sentir aqui, mas a clareira estava vazia de atmosfera, vazia de tudo, exatamente como todas as coisas. Assim como os meus pesadelos. Minha cabeça rodopiou confusa. Pelo menos eu tinha vindo sozinha. Eu senti uma onda de agradecimento quando me dei conta disso. Se eu tivesse descoberto a clareira com Jacob... bem, não ia ter jeito de disfarçar o abismo no qual eu estava enclausurada agora. Como era que eu ia explicar o fato de estar me fazendo em pedacinhos, o jeito como eu me curvava numa bola pra evitar que o buraco vazio me partisse em duas? Era muito melhor que eu não tivesse uma platéia. E eu também não teria que explicar pra ninguém porque estava com tanta pressa de ir embora. Jacob teria presumido, depois de tanto trabalho pra encontrar esse lugar estúpido, que eu ia querer passar mais alguns segundos lá. Mas eu já estava tentando encontrar forças pra ficar de pé de novo, me forçando a sair daquela bola pra poder escapar. Havia muita dor nesse lugar vazio pra eu suportar - eu ia me arrastando se precisasse. Que sorte que eu estava sozinha! Sozinha. Eu repeti a palavra com grande satisfação enquanto me esforçava pra ficar de pé apesar da dor. Precisamente nesse momento, uma figura saiu de dentro das árvores ao norte, á uns trinta passos de distância. Uma fascinante desordem de emoções passou por mim em um segundo. A primeira foi surpresa; eu estava distante de qualquer trilha aqui, e não esperava companhia. Então, enquanto meus olhos se focavam na figura imóvel, vendo a incrível rigidez, a pele pálida, uma onda de esperança penetrante passou por mim. Eu a suprimi viciosamente, lutando contra a agonia igualmente afiada enquanto meus olhos continuavam pra olhar o rosto embaixo do cabelo preto, que não era o que eu estava esperando. A próxima foi medo; esse não era o rosto pela qual eu vivia aflita, mas ele estava suficientemente perto de mim pra que eu soubesse que aquele homem não era nenhum mochileiro. E finalmente, no fim, reconhecimento. - Laurent! - eu falei com um surpreso prazer. Era uma resposta irracional. Eu provavelmente devia ter parado no medo. Laurent fazia parte do grupo de James quando eu o conheci. Ele não esteva envolvido na caçada que se seguiu - a caçada na qual eu era a presa - mas isso foi só porque ele estava com medo; eu era protegida por um grupo maior do que o dele. Teria sido diferente se esse não fosse o caso - ele não tinha nada contra, naquela época, a idéia de me fazer de refeição. É claro, ele devia ter mudado, porque ele foi para o Alaska pra viver com outro grupo civilizado lá, outra família que se recusava a beber sangue de humanos por razões éticas. Outra família como os... eu não conseguia me fazer pensar no nome. Sim, sentir medo faria mais sentido, mas o que eu sentia era uma dominante satisfação. A clareira era um lugar mágico de novo. Uma magia mais negra do que a que eu estava esperando, com certeza, mas mágica do mesmo jeito. Aqui estava a conexão que eu buscava. A prova, mesmo que remota, de que - em algum lugar no mesmo mundo que eu - ele existia. Era impossível o quanto Laurent parecia exatamente o mesmo. Eu acho que era muito bobo e humano esperar que as coisas mudassem tanto em um ano. Mas havia uma coisa... eu não conseguia identificar o que era direito. - Bella? - ele perguntou, parecendo mais pasmo do que eu me sentia. - Você lembra - eu sorrí. Era ridículo que eu estivesse tão feliz porque um vampiro lembrava meu nome. Ele sorriu. - Eu não esperava te ver por aqui. - Ele andou na minha direção, com a expressão divertida. - Isso não é o contrário? Eu vivo aqui. Eu pensei que você tinha ido para o Alaska. Ele parou a uns dez passos de distância, inclinando a cabeça para o lado. O rosto dele era o rosto mais bonito que eu via pelo que pareceu ser uma eternidade. Eu estudei o rosto dele com um ganancioso senso estranho de alívio. Ele era uma pessoa para a qual eu não precisava fingir - uma pessoa que já sabia de tudo que eu podia dizer. - Você está certa - ele concordou. - Eu fui para o Alaska. Ainda assim, eu não esperava... Quando eu encontrei a casa dos Cullen vazia, eu pensei que eles haviam se mudado. - Oh. - Eu mordi meu lábio quando o nome fez as beiras em carne viva da minha ferida doerem. Eu levei um segundo pra me recompor. Laurent esperou com olhos curiosos. - Eles se mudaram - eu finalmente consegui dizê-lo. - Hmm - ele murmurou. - Eu estou surpreso que eles tenham te deixado pra trás. Você não era uma espécie de animal de estimação deles? - os olhos dele estavam inocentes como se não tivessem a intenção de ofender. Eu dei um sorriso torto. - Alguma coisa assim. - Hmm - ele disse, pensativo de novo. Nesse exato momento, eu percebi o porque que ele parecia igual - igual demais. Depois que Carlisle nos disse que Laurent havia ficado com a família de Tânia, eu comecei a imaginá-lo, nas raras ocasiões em que pensava nele, com os mesmos olhos dourados que os... Cullen - eu forcei o nome a sair, estremecendo - tinham. Que os vampiros bons tinham. Eu dei um passou involuntário pra trás, e os seus curiosos, olhos vermelho escuros seguiram o meu movimento. - Eles te visitam frequentemente? - ele perguntou, ainda casual, mas o peso dele se inclinou na minha direção. - Minta - a linda voz aveludada sussurrou ansiosamente na minha memória. Eu me assustei com o som da voz dele, mas isso não devia ter me surpreendido. Eu não estava me submetendo ao maior perigo imaginável? A moto parecia um bando de gatos bonzinhos comparada a isso. Eu fiz o que a voz me disse pra fazer. - De vez em quando - eu tentei fazer minha voz ficar leve, relaxada. - O tempo parece mais longo pra mim, eu imagino. Você sabe como eles podem ser distraídos... - eu estava começando a tagarelar. Eu tive que me esforçar pra calar a boca. - Hmm - ele disse de novo. - A casa cheirava como se estivesse vazia já ha algum tempo... - Você precisa mentir melhor do que isso, Bella - a voz disse com urgência. Eu tentei. - Eu vou ter que dizer a Carlisle que você esteve aqui. Ele vai ficar triste por ter perdido a sua visita. - Eu fingi estar pensando por um segundo. - Mas eu provavelmente não devia mencionar isso pra... Edward, eu acho - eu mal consegui dizer o nome dele, e isso fez a minha expressão se contorcer, arruinando o meu blefe. - Ele tem um temperamento forte... bem, eu tenho certeza de que você lembra. Ele ainda está nervoso com aquela coisa de James. - Eu revirei os olhos e abanei displicentemente com uma mão, como se isso fosse uma história antiga, mas havia uma pontada de histeria na minha voz. Eu me perguntei se ele poderia reconhecer o que isso era. - Ele está mesmo? - Laurent perguntou prazerosamente... e ceticamente. Eu mantive minha resposta curta, pra que assim minha voz não deletasse o meu pânico. - Mm-hmm. Laurent deu um passo casual para o lado, olhando ao seu redor na pequena clareira. Eu não deixei de reparar que o seu passo o trouxe pra mais perto de mim. Na minha cabeça, a voz respondeu com um rosnado baixo. - Então como estão as coisas em Denali? Carlisle disse que você tinha ido ficar com Tânia? - minha voz estava alta demais. A questão fez ele parar. - Eu gosto muito de Tânia - ele meditou. - E da sua irmã Irina ainda mais... eu nunca havia ficado tanto tempo em um só lugar, e eu aproveitei as vantagens, as novidades de tudo. Mas as restrições eram difíceis... Eu estou surpreso que eles tenham conseguido agüentar por tanto tempo - ele sorriu pra mim conspiradoramente. - As vezes eu trapaceio. Eu não consegui engolir. Os meus pés começaram a ir pra trás, mas eu fiquei congelada quando seus olhos vermelhos olharam pra baixo pra captar o movimento. - Oh - eu disse com uma voz fraca. - Jasper tem problemas com isso também. - Não se mova - a voz sussurrou. Eu tentei fazer o que ele instruía. Era muito difícil; o instinto de me mandar era quase incontrolável. - Mesmo? - Laurent pareceu interessado. - Foi por isso que eles foram embora? - Não - eu respondi honestamente. - Jasper é mais cuidadoso em casa. - Sim - Laurent concordou. - Eu sou também. O passo á frente que ele deu agora foi de propósito. - Victória encontrou você? - eu perguntei, sem fôlego, desesperada pra distraí-lo. Essa foi a primeira pergunta que me veio á mente, e eu me arrependi de ter dito as palavras assim que ela saíram. Victória, que havia me caçado com James, e depois desaparecido, não era alguém em quem eu queria pensar nesse momento em particular. Mas a pergunta parou ele. - Sim - ele disse, hesitando no passo. - Na verdade eu vim aqui como um favor pra ela. - Ele fez uma cara. - Ela não vai ficar feliz com isso. - Com o que? - eu disse ansiosamente, o convidando a continuar. Ele estava olhando para as árvores, pra longe de mim. Eu tomei vantagem na distração dele, dando um passo furtivo pra trás. Ele olhou de volta pra mim e sorriu - a expressão fez ele parecer um anjo de cabelos pretos. - Eu matar você - ele respondeu com um ronronar sedutor. Eu vacilei em outro passo pra trás. O rosnado frenético na minha cabeça tornava difícil escutar. - Ela queria salvar essa parte pra si própria - ele continuou, alegremente. - Ela está meio... aborrecida com você, Bella? - Comigo? - eu esguichei. Ele balançou a cabeça e gargalhou. - Eu sei, aprece um pouco atrasado pra mim também. Mas James era o parceiro dela, e o seu Edward o matou. Mesmo aí, á beira da morte, o nome dele rasgou as paredes não cicatrizadas da minha ferida como se a estivesse serrando. Laurent não estava consciente da minha reação. - Ela achou mais apropriado matar você do que Edward, um troco justo, parceiro por parceiro. Ela me pediu pra ficar de olho na terra deles, por assim dizer. Eu não podia imaginar que seria tão fácil te pegar. Então talvez o plano dela falhe, aparentemente não era a vingança que ela havia imaginado, já que você não deve ser tão importante pra ele já que ele te deixou aqui desprotegida. Outro golpe, outra lágrima no meu peito. O peso de Laurent se moveu levemente, e eu dei outro passo pra trás. Ele fez uma careta. - Eu acho que ela vai ficar zangada, do mesmo jeito. - Então porque não esperar por ela? - eu gaguejei. Um sorriso maquiavélico transformou o rosto dele. - Bem, você me pegou num mal momento, Bella. Eu não vim pra esse lugar por causa da missão de Victória, eu estava caçando. Eu estou com muita sede, e o seu cheiro é... simplesmente de dar água na boca. Laurent olhou para mim com aprovação, como se ele estivesse falando sério quando me cumprimentou. - Ameace ele - a linda voz da ilusão ordenou, a voz dele estava desorientada de medo. - Ele vai saber que foi você - eu sussurrei obedientemente. - Você não vai se safar dessa. - E porque não? - o sorriso de Laurent cresceu. Ele olhou ao redor para a pequena abertura das árvores. - O cheiro vai ser lavado na próxima chuva. Ninguém vai encontrar seu corpo, você simplesmente terá desaparecido, como tantos, tantos outros humanos. Não vão haver motivos pra Edward pensar em mim, se ele se importar o suficiente pra investigar. Não é nada pessoal, Bella, eu te asseguro. Só sede. - Implore - minha alucinação me implorou. - Por favor - eu asfixiei. Laurent balançou a cabeça, seu rosto estava gentil. - Veja dessa forma, Bella. Você tem muita sorte que fui eu quem te encontrou. - Eu tenho? - eu murmurei, arriscando outro passo pra trás. Laurent seguiu, leve e gracioso. - Sim - ele me assegurou. - Eu serei bem rápido. Você não vai sentir nada, eu prometo. Oh, eu vou mentir pra Victória sobre isso mais tarde, naturalmente, só pra aplacar ela. Mas se você soubesse o que ela tinha planejado pra você, Bella... - ele balançou a cabeça com um movimento lento, quase com desgosto. - Eu juro que você estaria me agradecendo. Eu olhei pra ele horrorizada. Ele fungou a brisa que soprava o meu cabelo na direção dele. - De dar água na boca - ele repetiu, inalando profundamente. Eu fiquei tensa pra sair dali, meus olhos piscando enquanto eu tentava me afastar, e o som do rosnado enfurecido de Edward ecoava no fundo da minha cabeça. O nome dele escapou pelas paredes que eu havia construído pra pará-lo. Edward, Edward, Edward. Eu ia morrer. Não devia importar se eu pensasse nele agora. Edward, eu te amo. Pelos meus olhos apertados, eu ví Laurent parar no meio do ato de inalar e virar a cabeça rapidamente para a esquerda. Eu estava com medo de tirar os olhos dele, de seguir a direção do seu olhar, apesar de que ele já não precisava mais de nenhum truque ou nenhuma distração pra me pegar. Eu estava muito surpresa pra me sentir aliviada quando ele começou a se afastar de mim. - Eu não acredito nisso - ele disse, a voz dele estava tão baixa que eu quase não a ouvia. Então eu tive que olhar. Meus olhos vasculharam a clareira, procurando pela distração que havia estendido a minha vida em mais alguns segundos. No início eu não ví nada, e o meu olhar voltou pra Laurent. Ele estava se afastando com mais velocidade agora, os olhos dele fixos na floresta. Então eu vi; uma enorme figura preta saiu das árvores, quieta como uma sombra, e perseguiu de propósito na direção do vampiro. Era enorme - alto como uma casa, só que mais grosso, muito mais musculoso. O longo focinho fez uma careta, revelando uma longa fileira de dentes afiados como adagas. Um horrível rosnado saiu pelos seus dentes, rompendo pela clareira como o barulho de um trovão prolongado. O urso. Só que aquilo não era um urso de jeito nenhum. Mesmo assim, aquele enorme monstro preto tinha que ser a criatura que andava causando o alarme. De longe, qualquer um presumiria se tratar de um urso. O que mais poderia ter uma estrutura tão vasta, tão poderosa? Eu desejei ter sido sortuda o suficiente pra vê-lo de longe. Ao invés disso, ele caminhava silenciosamente na grama a menos de dez pés de onde eu estava. - Não se mexa nenhum centímetro - a voz de Edward sussurrou. Eu olhei para a criatura monstruosa, minha mente borbulhando enquanto eu pensava num nome pra dar pra ela. Havia uma aparência canina bastante distinta no formato dele, no jeito como se mexia. Eu só podia pensar numa possibilidade, travada de horror como estava. Eu nunca tinha imaginado que um lobo podia ficar tão grande. Outro rosnado saiu da sua garganta, e eu me encolhi com o som. Laurent estava tentando voltar para a beira onde ficavam as árvores, e, por baixo do terror que me congelava, a confusão passou por mim. Porque Laurent estava fugindo? Com certeza, o lobo era de um tamanho monstruoso, mas era só um animal. Por que razão um vampiro teria medo de um animal? E Laurent estava com medo. Os olhos dele estavam esbugalhados de horror, como os meus. Como se isso respondesse a minha pergunta, de repente o lobo do tamanho de um elefante não estava mais sozinho. Saindo dos dois lados da clareira, outras duas bestas gigantes se arrastaram pra dentro da clareira. Uma era de um cinza escuro, o outro marrom, mas nenhum era tão grande quanto o primeiro. O lobo cinza saiu das árvores a apenas alguns centímetros de mim, com os olhos grudados em Laurent. Antes mesmo que eu pudesse reagir, mais dois outros lobos os seguiram, alinhados como um V, como gansos voando para o sul. Isso significava que o ultimo monstro marrom que entrou na clareira estava perto o suficiente pra eu tocá-lo. Eu dei um suspiro involuntário e pulei pra trás - que foi a coisa mais estúpida que eu podia ter feito. Eu congelei de novo, esperando que os lobos se virassem pra mim, a presa muito mais fraca e vulnerável. Eu desejei brevemente que Laurent começasse a destruir o grupo de lobos - isso devia ser fácil pra ele. Eu achei que, entre as duas escolhas á minha frente, ser comida por lobos era certamente a pior opção. O lobo mais próximo de mim, o marrom avermelhado, virou a cabeça levemente com o som do meu suspiro. Os olhos do lobo eram escuros, quase pretos. Ele olhou pra mim uma fração de segundo, seus olhos profundos pareceram inteligentes demais pra um animal selvagem. Ele me encarou, eu pensei em Jacob de repente- de novo, com gratidão. Pelo menos eu tinha vindo aqui sozinha, pra essa clareira encantada cheia de monstros negros. Pelo menos Jacob não ia morrer também. Pelo menos eu não carregaria a morte dele nas costas. Então outro rosnado baixo do líder fez a cabeça do lobo se virar, na direção de Laurent. Laurent estava olhando pra o monstruoso bando de lobos monstruosos com um inexplicável olhar de choque e medo. Primeiro eu não consegui entender. Mas eu fiquei atordoada quando, sem nenhum aviso, ele se virou e desapareceu entre as árvores. Ele fugiu. Os lobos foram atrás dele em um segundo, se espalhando pela grama com passadas poderosas, rosnando e fazer estalos tão altos que eu levantei minhas mãos instintivamente pra cobrir meus ouvidos. O som desapareceu com surpreendente velocidade assim que eles desapareceram na mata. E então eu estava sozinha de novo. Meus joelhos tremerem embaixo de mim, e eu caí em cima das minhas mãos, soluços se construindo na minha garganta. Eu sabia que tinha que ir embora, e tinha que ir agora. Por quanto tempo os lobos iam caçar Laurent antes de voltarem por mim? Ou Laurent ia se virar contra eles? Seria ele quem voltaria me procurando? Porém, primeiramente eu não conseguia me mexer; meus braços e pernas estavam tremendo, e eu não sabia como voltar a ficar de pé. Minha mente não conseguia superar o medo, o horror ou a confusão. Eu não entendia o que havia acabado de testemunhar. Um vampiro não devia fugir de cachorros crescidos daquele jeito. Que mal os dentes dele poderiam fazer á sua pele de granito? E os lobos devem ter dado á Laurent um longo espaço. Mesmo que o tamanho extraordinário deles os tenha ensinado a não temer nada, ainda não faziam nenhum sentido que eles o perseguissem. Eu duvidava que a pele de mármore gelado dele cheirasse como comida. Porque eles iam passar alguma coisa com sangue morno e fraca como eu pra perseguir Laurent? Eu não conseguia entender o sentido disso. Uma brisa fria passou pela clareira, balançando a grama como se alguma coisa estivesse em cima dela. Eu fiquei de pé, me afastando mesmo que o vento estivesse passando por mim sem me causar danos. Tremendo de pânico, eu me virei e corri em linha reta entre as árvores. As horas seguintes foram de agonia. Me levou um tempo três vezes maior pra escapar das árvores do que eu tinha levado pra chegar até a clareira. No início eu não prestei atenção em pra onde estava indo, já que eu estava só focada na minha fuga. Na hora que eu recompus o suficiente pra me lembrar do compasso, eu já estava no meio da floresta não familiar e ameaçadora. Minhas mãos estavam tremendo tão violentamente que eu tive que o colocar no chão lamacento pra poder usá-lo direito. A cada minuto eu parava pra colocar o compasso no chão e checar se eu ainda estava indo para o Nordeste, escutando - quando os sons não estavam sendo escondidos pelos meus passos frenéticos - os baixos sons de coisas que eu não via se movendo entre as folhas. O chamado de uns pássaros me fizeram pular pra trás e cair num monte de jovens madeiras derrubadas, arranhando meus braços e sujando meu cabelo com seiva. A pressa repentina de um esquilo me fez tão alto que meus ouvidos chegaram a doer. Finalmente eu encontrei uma abertura nas árvores á frente. Eu entrei na estrada e caminhei uma milha ou algo assim pra chegar onde eu havia deixado a minha caminhonete. Mesmo exausta como eu estava, eu ainda corrí até encontrá-la. Até a hora que eu me joguei dentro do carro, eu já estava soluçando de novo. Eu rapidamente joguei as duas coisas que estava segurando no chão antes que cavar no meu bolso pra encontrar minhas chaves. O ronco do motor foi reconfortante e são. Ele me ajudou a afastar as lágrimas enquanto eu corria o mais rápido que a minha caminhonete permitia na estrada principal. Eu estava mais calma, mas ainda estava um desastre quando cheguei em casa. A viatura de Charlie estava na garagem - eu não tinha me dado conta do quanto era tarde. O céu já estava cinzento. - Bella? - Charlie perguntou quando eu batí a porta atrás de mim e rapidamente tranquei com a chave. - É, sou eu. - Minha voz não estava uniforme. - Onde você estava? - ele trovejou, aparecendo pela porta da cozinha com uma cara suspeita. Eu hesitei. Ele provavelmente havia ligado para os Stanley. Era melhor eu contar a verdade. - Eu fiz uma caminhada - eu admiti. Os olhos dele se apertaram. - O que aconteceu com a casa de Jéssica? - Eu não estava a fim de estudar Cálculo hoje. Charlie cruzou os braços no peito. - Eu pensei que havia te pedido pra ficar fora da floresta. - É, eu sei. Não se preocupe, eu não vou fazer de novo - eu tremi. Charlie pareceu realmente olhar pra mim pelo primeira vez. Eu me lembrei que havia passado algum tempo no chão da floresta hoje; eu devia estar uma bagunça. - O que aconteceu? - Charlie quis saber. De novo, eu decidi que a verdade, ou pelo menos parte dela, era a melhor opção. Eu estava nervosa demais pra fingir que havia passado um dia comum com a fauna e a flora. - Eu vi o urso. - Eu tentei dizer isso calmamente, mas minha voz estava alta e tremendo. - No entanto, não é um urso, é alguma espécie de lobo. E haviam cinco deles. Um grande e preto, e um cinza, um marrom avermelhado... Os olhos de Charlie cresceram de horror. Ele veio rapidamente pra cima de mim e segurou a parte de cima dos meus braços. - Você está bem? Minha cabeça balançou com um fraco aceno. - Me conte o que aconteceu. - Eles não prestaram muita atenção em mim. Mas depois que eles foram embora, eu fugí e caí muito no chão. Ele soltou os meus ombros e passou os braços ao meu redor. Por um longo momento ele não disse nada. - Lobos - ele murmurou. - O que? - Os patrulheiros disseram que eram pegadas diferentes das de ursos, mas lobos não ficam tão grandes... - Esses eram enormes. - Quantos você disse que viu? - Cinco. Charlie balançou a cabeça, fazendo uma careta de ansiedade. Ele finalmente falou num tom que não permitia nenhuma discussão. - Chega de caminhadas. - Sem problemas - eu prometí ferventemente. Charlie ligou para a delegacia pra contar o que eu havia visto. Eu menti um pouco sobre o local exato onde tinha visto os lobos - dizendo que havia estado na trilha que levava ao norte. Eu não queria que o meu pai soubesse o quanto eu havia entrado na floresta sem que ele quisesse, e, mais importante, eu não queria ninguém mais andando por onde Laurent ainda podia estar procurando por mim. Esse pensamento me deixou enjoada. - Você está com fome? - ele perguntou quando desligou o telefone. Eu balancei a cabeça, apesar de que eu devia estar faminta. Eu não tinha comido nada o dia inteiro. - Só cansada - eu disse pra ele. Eu me virei para as escadas. - Ei - Charlie disse numa voz repentinamente suspeita de novo. - Você não disse que Jacob tinha saído durante o dia inteiro? - Foi o que Billy disse - eu falei, confusa pela pergunta dele. Ele estudou a minha expressão por um minuto e pareceu satisfeito com o que encontrou lá. - Huh. - Porque? - eu quis saber. Parecia que ele estava querendo dizer que eu estive mentindo pra ele essa manhã. Sobre algo mais do que estar estudando com Jéssica. - Bem, é só que quando eu fiz buscar Harry, eu ví Jacob na frente de uma loja de lá com uns amigos. Eu acenei pra ele, mas ele... bem, acho que ele não me viu. Eu acho que ele estava discutindo com os amigos. Ele parecia estranho, como se alguma coisa estivesse aborrecendo ele. E... diferente. É como se você pudesse ver o garoto enquanto ele cresce! Ele está maior a cada vez que eu o vejo. - Billy disse que Jake e os amigos tinham ido ao cinema em Port Angeles. Eles provavelmente estavam esperando alguém encontrá-los lá. - Oh - Charlie balançou a cabeça e voltou para a cozinha. Eu fiquei no corredor, pensando em Jacob discutindo com os amigos. Eu me perguntei se ele havia confrontado Embry sobre o assunto com Sam. Talvez esse fosse o motivo pelo qual ele me ignorou hoje - se isso significava que ele teria a oportunidade de acertar as coisas com Embry, eu ficava feliz. Eu parei pra ver se a casa estava trancada de novo antes de subir. Era uma coisa idiota de se fazer. Que diferença uma porta ia fazer para os monstros que eu vi hoje? Eu imaginei que a maçaneta só ia atrasar os lobos, já que eles não tinham polegares. E se Laurent viesse... Ou... Victoria. Eu deitei na minha cama, mas eu estava tremendo demais pra pensar em dormir. Eu me curvei e virei uma bola embaixo da minha colcha, e encarei os horríveis fatos. Não havia nada que eu pudesse fazer. Não haviam precauções que eu pudesse tomar. Não havia lugar onde eu pudesse me esconder. Não havia ninguém que pudesse me ajudar. Eu me dei conta, com uma sensação de náusea no meu estômago, que a situação ainda era pior que isso. Porque todos esses fatos se aplicavam a Charlie também. Meu pai, dormindo a um quarto de distância de mim, era só o centro do coração do alvo que estava centrado em mim. O meu cheiro os levariam até lá, eu estando lá ou não. Os tremores me balançaram até que os meus dentes estavam se batendo. Pra me acalmar, eu fantasiei o impossível: eu imaginei os grandes lobos pegando Laurent nas matas e massacrando o indestrutível imortal do jeito como eles fariam a uma pessoa normal. Apesar do absurdo da visão, a idéia me confortou. Se os lobos pegassem ele, então ele não poderia contar a Victoria que eu estava sozinha. Se ele não voltasse, talvez ela pensasse que os Cullen ainda estavam me protegendo. Se apenas os lobos pudessem derrotá-lo... Meus vampiros bons não voltariam nunca mais; como era bom pensar que o outro tipo também poderia desaparecer. Eu fechei meus olhos com força e esperei pra ficar inconsciente - quase ansiosa que o meu pesadelo começasse. Era melhor do que aquele lindo rosto pálido que sorria pra mim por tás das minhas pálpebras. Na minha imaginação, os olhos de Victória eram pretos por causa da sede, brilhantes com a antecipação, e os lábios dela se curvavam pra trás mostrando os dentes dela com prazer. O cabelo vermelho dela era brilhante como fogo; ele se espalhava caóticamente ao redor do seu rosto selvagem. As palavras de Laurent se repetiram na minha cabeça. Se você soubesse o que ela planejou pra você... Eu pressionei meu punho na boca pra não gritar.

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