20 de maio de 2009

1° Capitulo De Lua Nova - "FESTA"

Eu tinha 99% de certeza de que estava sonhando.


As razões para eu estar tão certa disso eram que, em primeiro lugar, eu estava em pé em

um brilhante raio de luz solar – o tipo de sol intenso e ofuscante que nunca brilhava em minha

atual chuvosa cidade natal em Forks, Washington – e segundo, eu estava olhando para minha avó

Marie. Vovó tinha morrido seis anos atrás, então essa foi minha evidência concreta que comprovou

a teoria do sonho.

Vovó não tinha mudado muito, seu rosto parecia o mesmo que eu lembrava. A pele era

macia e tinha um aspecto murcho, se dobrava em mil rugas finas debaixo das quais se agarrava

suavemente o osso. Como um pêssego seco, mas aureolada por um espesso bolo de cabelos

brancos de fisionomia similar a uma nuvem.

Nossos lábios – os dela franzidos em uma grande quantidade de rugas – estendidos num

mesmo meio sorriso de surpresa ao mesmo tempo. Aparentemente, ela não esperava me ver

também.

Eu estava a ponto de fazer uma pergunta; Eu tinha tantas – O que ela estava fazendo aqui

em meu sonho? Aonde ela esteve nos últimos seis anos? Vovô estava bem? Eles haviam se

encontrado onde quer que eles estivessem? – mas ela abriu a boca no mesmo tempo que eu,

então eu parei para deixá-la falar primeiro. Ela parou também, e então ambas sorrimos um pouco

sem jeito.

- Bella?

Não foi ela quem havia dito meu nome, por isso nós duas nos viramos para ver quem havia

se juntado a nossa pequena reunião. Na verdade, eu não precisava olhar para saber. Era uma voz

que eu teria reconhecido em qualquer lugar, e à qual eu também havia respondido, para saber se

estava dormindo ou acordada...ou até mesmo morta, eu tinha quase certeza. A voz que

atravessava o fogo – ou, com menos dramatismo, andava na lama diariamente pelo frio e a

incessante chuva.

Edward.

Embora eu sempre fosse louca para vê-lo – consciente ou não – e estava quase certa de que

se tratava de um sonho, entrei em pânico à medida que Edward se aproximava de nós,

caminhando abaixo da deslumbrante luz do sol.

Me apavorei porque vovó não sabia que eu estava apaixonada por um vampiro – ninguém

sabia – e de que forma eu iria explicar os brilhantes raios de sol quebrando-se sobre sua pele em

milhares de pedacinhos de arco-íris, como se ele fosse feito de cristal ou diamante?

Bem, vovó, só para o caso de você ter notado que meu namorado brilha. É só algo que ele

faz quando está no sol. Mas não se preocupe com isso...

O que ele estava fazendo? A única razão para que viva em Forks, é que é o lugar mais

chuvoso do mundo, ele podia sair à luz do dia sem expor o segredo de sua família. Mesmo assim,

ele estava vindo na minha direção com seu andar bem gracioso e despreocupado - com o mais

bonito sorriso em seu rosto angelical – como se eu estivesse sozinha.

Nesse momento, desejei não ser a exceção de seu misterioso dom. Em geral, agradeceria

ser a única cujos pensamentos ele não podia ouvir com a mesma clareza como se eles fossem

falados em voz alta. Mas agora eu desejei que ele pudesse me ouvir também, então assim ele

poderia escutar o aviso que eu estava gritando em minha cabeça.

Lancei um olhar apavorado para vovó, e percebi que já era muito tarde.

Nesse instante, ela apenas se virou para me olhar de volta e seus olhos tão alarmados quanto os

meus.

Edward – ainda sorrindo daquela forma tão arrebatadora que fazia com que meu coração

acelerasse e parecesse a ponto de estourar no meu peito – passou seu braço em volta de meu

ombro e virou seu rosto para minha avó.

A expressão de vovó me surpreendeu. Em vez de horrorizada, ela me olhava timidamente,

como se esperando por uma repreensão. E ela estava parada numa posição bem estranha – um

braço se separou desajeitadamente do corpo, ela o esticou e o enrolou em volta do ar. Como se

estivesse abraçando alguém que eu não podia ver, alguém invisível...

Só então, quando olhei com mais atenção, notei a enorme armação dourada que rodeava a

figura da minha avó. Sem entender nada, ergui a mão que não estava em volta da cintura de

Edward e a aproximei para tocar minha avó. Ela repetiu exatamente o mesmo movimento, como

em um espelho. Mas onde nossos dedos deveriam ter se encontrado, não existia nada além do

vidro frio...

Com uma vertiginosa sacudida, o sonho abruptamente se transformou em um pesadelo.

Não havia nenhuma avó.

Aquela era eu. Era minha imagem refletida em um espelho. Era eu, velha, enrugada e

acabada.

Edward continuava ao meu lado sem se refletir no espelho, insuportavelmente encantador

em seus eternos dezessete anos.

Ele apertou seus lábios frios e perfeitos contra minha decrépita bochecha.

- Feliz aniversário. - ele sussurrou.

Acordei assustada – meus olhos a ponto de ficarem fora de órbita – e ofegante. Uma escura

luz cinza, a familiar luz de uma manhã nublada, tomou o lugar do ofuscante sol de meu sonho.

Só um sonho, eu disse a mim mesma. Foi só um sonho. Tomei ar e saltei da cama assim que

me recuperei do susto. O pequeno calendário no canto do relógio me informou que hoje era treze

de Setembro.

Só um sonho, mas profético, sem dúvida, ao menos em um sentido. Era o dia de meu

aniversário. Acabava de fazer dezoito anos oficialmente.

Eu temi esse dia durante meses.

Durante o perfeito verão – o verão mas feliz que já tive, o mais feliz que ninguém em lugar

nenhum poderia ter, e o verão mais chuvoso da história da Península Olympic – este infeliz dia se

espreitava de tocaia, preparado para pular.

E agora que por fim havia chegado era até pior do que eu temia que seria. Eu podia sentir:

estava mais velha. Cada dia eu envelhecia um pouco mais, porém isso era diferente e

notavelmente pior. Eu tinha dezoito anos.

E Edward nunca teria.

Quando fui escovar os dentes, quase me surpreendeu que o rosto do espelho não tivesse

mudado. Olhei para mim mesma à procura de algum sinal iminente de rugas na minha pele.

Contudo, não havia outras rugas além das em minha testa, e soube que seu relaxasse, elas

desapareceriam. Eu não podia. Minhas sobrancelhas haviam se franzido formando uma linha de

preocupação acima dos meus ansiosos olhos castanhos.

Foi só um sonho, lembrei a mim mais uma vez. Só um sonho, e também o meu pior

pesadelo.

Eu dispensei o café da manhã, querendo sair de casa o mais rápido possível. Não me

encontrava com ânimo de enfrentar meu pai e ter que passar uns minutos fingindo estar feliz. Eu

honestamente tentava ficar entusiasmada com os presentes que pedi para ele não me dar, mas

sentia que estava a ponto de chorar a cada vez que deveria sorrir.

Fiz um esforço para me distrair enquanto dirigia para a escola. A visão de vovó – eu não

deveria pensar nela como se fosse eu, era difícil de tirar da cabeça. Eu não podia sentir nada além

de desespero quando entrei no familiar estacionamento que se estendia por detrás do colégio

secundário de Forks e encontrei Edward imóvel, recostado em seu lustrado Volvo prateado como

um monumento de mármore dedicado a algum esquecido deus pagão da beleza. O sonho não

fazia sentido. E ele estava esperando por mim, igual a qualquer outro dia.

O desespero desapareceu momentaneamente e a maravilha tomou seu lugar. Mesmo depois

de ter passado quase a metade do ano com ele, não podia crer que merecia tanta sorte.

Sua irmã Alice estava ao seu lado, me esperando também.

É claro que Edward e Alice não eram parentes de verdade (Em Forks, a história que ocorria

era que todos os irmãos Cullen haviam sido adotados pelo doutor Carlisle e sua esposa Esme, já

que ambos tinham uma aparência claramente bem jovem para terem filhos adolescentes), mas

suas peles tinham o mesmo tom de palidez, seus olhos na mesma estranha tonalidade de

dourado, com as mesmas olheiras arroxeadas, ressaltadas abaixo deles. O rosto de Alice, igual ao

de Edward, era surpreendentemente bonito. Aos olhos de alguém – alguém como eu – estas

semelhanças revelavam o que eles eram.

A visão de Alice me esperando ali – seus olhos de cor amarelo escuro brilhavam de

excitação, e uma pequena caixa quadrada embrulhada em papel prateado em suas mãos – me fez

franzir as sobrancelhas. Eu havia lhe dito que não queria nada, nada, nem presentes e nem

nenhum outro tipo de atenção para o meu aniversário. Evidentemente, meus pedidos foram

ignorados.

Bati a porta de minha caminhonete Chevrolet 53 – uma chuva de respingos de ferrugem

voaram até a parte externa do pneu preto. Depois caminhei lentamente para onde eles me

aguardavam. Alice veio ao meu encontro; seu rosto travesso resplandecia abaixo do pontiagudo

cabelo negro.

- Feliz aniversário, Bella!

- Shhh! – eu sibilei enquanto olhava ao redor para ter certeza de que ninguém tivesse

ouvido. A última coisa que eu queria era qualquer tipo de comemoração do triste evento.

Ela me ignorou.

- Quando quer abrir seu presente? Agora ou mais tarde? – ela me perguntou entusiasmada

enquanto caminhávamos para onde Edward nos esperava.

- Sem presentes. – protestei em um murmúrio.

Ela finalmente pareceu ser da contar de qual era meu estado de ânimo.

- Certo...mais tarde, então. Gostou do álbum de fotografias que sua mãe lhe mandou? E a

câmera fotográfica de Charlie?

Eu suspirei. É claro que ela saberia quais seriam os meus presentes. Edward não era o único

membro da sua família com habilidades fora do comum. Alice "veria" o que meus pais tivessem

planejado assim que eles tivessem decidido.

- É. Eles são ótimos.

- Eu acho que essa é uma boa idéia. Só se vive o último ano escolar uma vez. Seria bom

documentar a experiência.

- Quantas vezes você cursou o último ano?

- Isso é diferente.

Nós nos aproximamos de Edward nessa hora, e ele levantou sua mão pra mim. Eu a segurei

ansiosamente, esquecendo, por um momento, meu mal-humor. A pele dele estava, como sempre,

macia, dura, e muito fria. Ele apertou meus dedos gentilmente. Eu olhei nos seus olhos de topázio

liquido, e meu coração se apertou de forma não tão gentil. Escutando as batidas do meu coração,

ele sorriu de novo.

Ele levantou sua mão livre e traçou a ponta de um dedo gelado nos meus lábios enquanto

falava. - Então, como foi discutido, eu não estou autorizado a te desejar feliz aniversário, está

correto?

- Sim. Está correto. - Eu não podia imitar a fluência da sua articulação perfeita e formal.

Era uma coisa que só podia ter saído do início do século.

- Só checando. - Ele passou a mão pelo seu cabelo bagunçado cor de bronze. - Você podia

ter mudado de idéia. A maioria das pessoas costuma gostar de coisas como aniversários e

presentes.

Alice sorriu, o som era todo prateado, como um carrilhão passando no vento. - É claro que

você vai gostar. Todo mundo deve ser legal com você e fazer tudo do seu jeito, Bella. O que

poderia dar tão errado?

A pergunta era retórica.

- Ficar mais velha. - Eu respondi do mesmo jeito, e minha voz não era tão uniforme quanto

eu havia planejado.

Ao meu lado, o sorriso de Edward se transformou numa linha dura.

- Dezoito não é muito velha. - Alice disse. - As mulheres não costumam esperar até os trinta

e nove até ficarem tristes com os aniversários?

- É mais que Edward. - Ele suspirou.

- Tecnicamente - ela disse, mantendo o tom suave. - Porém, é só um aninho. -

E eu acho... que se eu tivesse certeza do futuro que eu queria, certeza que eu passaria a

eternidade com Edward, e Alice, e com o resto dos Cullen (preferivelmente não sendo uma

velhinha enrugada)... Então um ano ou dois não faria muita diferença pra mim. Mas Edward era

mortalmente contra qualquer futuro em que eu fosse transformada. Qualquer futuro que me

fizesse como ele - que me deixasse imortal também.

Um impasse, era assim que ele chamava.

Pra ser honesta, eu não entendia o ponto de vista de Edward.

O que é tão maravilhoso na mortalidade? Ser vampira não parecia uma coisa tão horrível,

não do jeito como os Cullen diziam, de qualquer forma.

- A que hora você vai estar lá em casa? - Alice continuou, mudando de assunto. Pela

expressão dela, ela estava planejando fazer exatamente o tipo de coisa que eu estava tentando

evitar.

- Eu não sabia que tinha planos para ir lá.

- Oh, seja boazinha, Bella - ela reclamou. - Você não vai estragar toda a nossa diversão

desse jeito, vai?

- Eu achei que o meu aniversário era sobre o que eu quisesse.

- Eu vou pegar ela com Charlie logo depois da escola - Edward disse me ignorando

completamente.

- Eu tenho que trabalhar - eu protestei.

- Na verdade, não - Alice me disse presumidamente. - Eu já falei com a Sra. Newton sobre

isso, ela vai trocar o seu horário. Ela me pediu pra dizer 'Feliz aniversário'.

- Eu, eu não posso aparecer - eu gaguejei, me atrapalhando pra encontrar uma desculpa. -

Eu, bem, eu ainda não assisti Romeu e Julieta para a aula de Inglês.

Alice bufou. - Você tem Romeu e Julieta decorado.

- Mas o Sr. Berty disse que temos que ver a atuação pra realmente apreciarmos, foi assim

que Shakespeare tencionava apresentá-lo.

Edward rolou os olhos.

- Você já assistiu o filme - Alice acusou.

- Mas não na versão dos anos sessenta. O Sr. Berty disse que é a melhor. - Finalmente Alice

perdeu o sorriso presumido e me encarou.

- Isso pode ser fácil, ou pode ser difícil, Bella, mas de um jeito ou de outro.

Edward interrompeu a ameaça dela. - Relaxe, Alice. Se Bella quer assistir o filme, então ela

pode. É o aniversário dela.

- Isso aí - eu acrescentei.

- Eu vou levar ela por volta de sete - ele continuou. - Isso vai dar mais tempo pra você

arrumar tudo.

A risada de Alice reapareceu. - Parece bom. Te vejo de noite, Bella. Vai ser divertido, você

vai ver. - Ela sorriu largamente - o grande sorriso exibiu todos os dentes brilhantes, perfeitos -

então ela me deu um beijinho na bochecha e foi dançando até a sua primeira aula antes que eu

pudesse responder alguma coisa.

- Edward, por favor - eu comecei a implorar, mas ele pressionou um dedo frio nos meus

lábios.

- Vamos discutir isso mais tarde. Nós vamos nos atrasar para a aula. - Ninguém se

incomodou em olhar pra nós enquanto sentávamos nos nossos lugares de sempre no fundo da

sala (nós tínhamos quase todas as aulas juntos agora, é incrível os favores que Edward pode

conseguir com a administração feminina da escola). Edward e eu já estamos juntos a bastante

tempo pra não sermos mais motivo de fofoca. Nem Mike Newton se incomoda em continuar me

dando aqueles olhares mal-humorados que me faziam sentir um pouco culpada. Ele sorria agora, e

eu estava feliz por ele finalmente parecer estar percebendo que nós só poderíamos ser amigos.

Mike havia mudado durante o verão - o rosto dele estava menos arredondado, fazendo as

maçãs do seu rosto mais proeminentes, e ele estava usando o seu cabelo loiro de outro jeito; ao

invés de arrepiado, ele estava mais longo e com gel pra causar um efeito casualmente bagunçado.

Era fácil ver de onde a inspiração tinha saído - mas o estilo de Edward não era uma coisa que

podia alcançada através de uma imitação. Enquanto o dia progredia, eu considerei as

possibilidades de escapar do que quer que os Cullen estivessem planejando na casa deles hoje á

noite. Já era ruim o suficiente ter que celebrar com um humor tão ruim.

Mas, o pior, isso com certeza ia envolver atenção e presentes.

Atenção nunca é uma coisa boa, qualquer outra pessoa propensa a acidentes concordaria

comigo. Ninguém quer um canhão de luz na sua direção quando você está prestes a cair de cara.

Eu muito sugestivamente pedí - bem, na verdade eu ordenei - que ninguém me desse

presentes esse ano. Parece que Renée e Charlie não foram os únicos que decidiram ignorar isso.

Eu nunca tive muito dinheiro, e isso nunca me incomodou. Renée me criou com o salário de

uma professora de jardim de infância. Charlie também não estava ficando rico com o seu trabalho

- ele era o chefe de policia dessa pequenina cidade de Forks. O meu próprio fundo pessoal vinha

dos três dias por semana que eu trabalhava numa lojinha de suplementos esportivos da cidade.

Numa cidade tão pequena, eu tinha sorte por ainda ter um emprego. Cada centavo que eu

ganhava ia direto para os meus microscópicos fundos pra faculdade. (A faculdade era só o plano

B. Eu ainda tinha esperanças no plano A, mas Edward ainda era muito teimoso em relação a me

deixar humana).

Edward tinha muito dinheiro - eu nem queria pensar no quanto.

Dinheiro significava quase nada para Edward e o restante dos Cullen.

Era só uma coisa que acabava se acumulando quando você tem tempo ilimitado nas mãos e

uma irmã que tem uma misteriosa forma de prever as mudanças da bolsa de valores. Edward não

parecia entender a minha objeção para que ele não gastasse tanto dinheiro comigo - porque eu

não me sentia confortável quando ele me levava pra um restaurente caro em Seattle, ou porque

ele não podia me comprar um carro que alcançasse uma velocidade acima de cinqueta e cinco

milhas por hora, ou porque ele não podia pagar a minha faculdade (ele estava riculamente

entusiasmado com o plano B). Edward achava que eu estava sendo desnecessáriamente difícil.

Mas como eu podia deixar que ele me desse tantas coisas quando eu não tinha nada em

troca?

Ele, por alguma razão insondável, queria estar comigo.

Qualquer coisa que ele me desse além disso, só nos deixaria ainda menos balanceados.

Enquanto o dia passava, nem Edward nem Alice falou sobre o meu aniversário de novo, e eu

comecei a relaxar um pouco.

Nós sentamos na nossa mesa de almoço de costume.

Um estranho tipo de trégua existia naquela mesa. Nós três - Edward, Alice e eu - nos

sentavamos no cantinho no sul da mesa. Agora que os mais velhos e "assustadores" (no caso de

Emmett certamente) irmãos Cullen terem se formado, Alice e Edward não pareciam tão

intimidantes, e não nos sentávamos mais sozinhos.

Meus outros amigos, Mike e Jéssica (que estavam passando pela estranha fase pós-término de

namoro na amizade), Angela e Ben (cujo relacionamento sobreviveu ao verão), Eric, Conner, Tyler

e Lauren (apesar dessa última não contar na categoria da amizade) todos nos sentávamos na

mesma mesa, no outro lado da linha invisível.

Essa linha se dissolvia nos dias de sol, quando Edward e Alice sempre faltavam a escola, e aí a

conversa se estendia sem muito esforço pra me incluir também.

Edward e Alice não achavam esse pequeno ostracismo estranho ou ferino, como eu teria achado.

Eles praticamente nem reparavam.

As pessoas sempre se sentiam estranhamente doentes de tão á vontade que ficavam perto

dos Cullen, quase com medo por alguma razão que ele não podiam explicar.

Eu era rara excessão a essa regra. Ás vezes Edward se incomodava por eu me sentir tão

confortável ao lado dele. Ele achava que era um risco á minha saúde - uma opinião que eu

rejeitava veementemente toda vez que ele tocava nela.

A tarde passou rapidamente. A aula acabou e Edward me acompanhou até a minha

caminhonete como sempre fazia. Mas dessa vez, ele segurou a porta do passageiro aberta pra

mim. Alice deve ter levado o carro dele pra casa pra que eles pudessem me impedir de fugir.

Eu cruzei meus braços e não me movi pra sair da chuva. - É meu aniversário, eu não posso

dirigir?

- Eu estou fingindo que não é seu aniversário, assim como você deseja.

- Se não é meu aniversário, então eu não preciso ir á sua casa hoje á noite...

- Tudo bem. - Ele fechou a porta do passageiro e passou por mim para ir para o lado do

motorista. - Feliz aniversário.

- Shh - eu calei ele sem muita vontade. Eu entrei pela porta aberta, esperando que ele

tivesse aceitado o outro pedido.

Edward mexia no rádio enquanto eu dirigia, balançando a cabeça em desaprovação.

- Seu rádio tem uma recepção horrível.

Eu fiz uma careta. Eu odiava quando ele mexia com a minha caminhonete.

A caminhonete era ótima, tinha personalidade.

- Você quer um som legal? Dirija o seu prórpio carro. - Eu já estava nervosa com os planos

de Alice, com o meu humor negro ainda por cima, que as palavras saíram mais afiadas do que eu

planejei. Eu mal conseguia ter um mal temperamento perto de Edward, e as minhas palavras

fizeram ele apertar os lábios pra não sorrir.

Quando eu parei na frente da casa de Charlie, ele se inclinou pra pegar meu rosto com as

duas mãos. Ele me segurou muito cuidadosamente, pressionando só a ponta dos dedos levemente

nas minhas têmporas, nas maçãs do meu rosto, minha mandíbula. Como se eu estivesse

especialmente quebrável. Que era exatamente o caso - comparado com ele, pelo menos.

- Você deveria estar de bom humor, hoje entre todos os outros dias - ele sussurrou. O doce

hálito dele varreu o meu rosto.

- E se eu não quiser estar de bom humor? - eu perguntei, minha respiração desigual.

Seus olhos dourados queimaram. - Que pena.

Minha cabeça já estava girando quando ele chegou mais pra perto e pressionou seus lábios

gelados nos meus.

Como ele pretendia, sem dúvida, eu esquecí das minhas preocupações, e me concentrei em

lembrar de inalar e exalar.

A boca dele permaneceu na minha, fria e suave e gentil, até que eu joguei meus braços no

pescoço dele e me joguei no beijo com um pouco de entusiasmo demais. Eu podia sentir os seus

lábios se curvando pra cima enquanto ele soltava meu rosto e se inclinava pra trás pra se livrar do

meu abraço.

Edward havia desenhado muitas linhas cuidadosas para o nosso relacionamento físico, com a

intenção de me manter viva.

Apesar de eu respeitar a necessidade de manter uma distância segura entre minha pele e

seus dentes afiados como navalha e cheios de veneno, eu sempre me esquecia de coisas sem

importância como essas quando ele me beijava.

- Seja boazinha, por favor - ele respirou na minha bochecha.

Ele pressionou seus lábios gentilmente nos meus mais uma vez e então se afastou, cruzando

meus braços no meu estômago.

Meu pulso estava estrondando nos meus ouvidos. Eu coloquei uma mão no meu coração. Ele

batia hiperativamente na minha palma.

- Você acha que um dia eu vou melhorar nisso? - eu imaginei, mais pra mim mesma. - Será

que um dia meu coração vai parar de querer sair do meu peito toda vez que você me toca?

- Eu realmente espero que não - ele disse, um pouco presumido.

Eu rolei meus olhos. - Vamos assistir os Capuleto e os Montague acabando uns com os

outros, certo?

- Seu pedido, minha ordem.

Edward se espalhou no sofá enquanto eu começava o filme, avançando nos créditos iniciais.

Quando eu me sentei no canto do sofá na frente dele, ele passou os braços pela minha

cintura e me puxou pro peito dele. Não era exatamente confortável como um sofá, já que o peito

dele era frio e duro - e perfeito - como uma escultura de gelo, mas era definitivamente preferível.

Ele puxou a velha manta do encosto do sofá e jogou por cima de mim pra que eu não congelasse

ao lado do corpo dele.

- Sabe, eu nunca tive muita paciência com Romeu - ele comentou enquanto o filme

começava.

- Qual é o problema com Romeu? - eu perguntei, um pouco ofendida. Romeu era um dos

meus personagens de ficção favoritos. Antes de conhecer Edward eu meio que tinha uma

quedinha por ele.

- Bem, pra começar, ele está apaixonado por essa tal de Rosaline, você não acha que isso o

torna um pouco inconstante? E depois, alguns minutos depois do casamento, ele mata o primo de

Julieta. Isso não é muito inteligente. Erro depois de erro. Será que ele poderia ter acabado com a

sua felicidade mais completamente?

Eu suspirei. - Você quer que eu assista isso sozinha?

- Não, na maior parte do tempo eu vou estar olhando você, de qualquer jeito. - Os dedos

dele traçaram linhas no meus braço, me deixando arrepiada. - Você vai chorar?

- Provavelmente - eu admití. - Se eu estiver prestando atenção.

- Então eu não vou te distrair. - Mas eu sentí os lábios dele no meu cabelo, muito distrativo.

O filme finalmente capturou meu interesse, em grande parte isso se deveu ao fato de

Edward estar citando as falas de Romeu no meu ouvido - a sua voz irresistível e aveludada fez a

voz do ator parecer fraca e rouca em comparação. E eu chorei, pra diversão dele, quando Julieta

acordou e viu seu novo marido morto.

- Eu admito, eu meio que invejo ele nessa parte. - Edward disse, enxugando as minhas

lágrimas com uma mecha de cabelo.

- Ela é muito bonita.

Ele fez um som de nojo. - Não é garota dele que eu invejo, é só a facilidade do suicídio - ele

esclareceu num tom de zombaria. - Vocês humanos morrem tão fácil! Tudo o que vocês têm que

fazer é só engolir um extrato de planta...

- Como é? - eu ofeguei.

- Foi uma coisa na qual eu tive que pensar uma vez, e eu sabia pela experiência de Carlisle

que não seria fácil. Eu nem tenho certeza de quantas vezes Carlisle tentou se matar no início...

depois que ele viu no que tinha se transformado... - A voz dele que havia ficado séria, ficou suave

de novo. - E ele claramente ainda está em perfeita saúde.

Eu me virei pra poder ler o rosto dele. - Do que é que você pensa que está falando? - eu

quis saber. - O que é que você quer dizer com, isso é uma coisa na qual eu tive que pensar uma

vez?

- Primavera passada, quando você foi... quase morta... - Ele parou pra respirar fundo,

lutando pra voltar ao seu tom de zombaria. - É claro que eu estava focado em te encontrar viva,

mas parte da minha mente estava fazendo planos contingentes. Como eu disse, não é tão fácil pra

mim quanto é pra um humano.

Por um segundo, a memória da minha viagem á Phoenix passou pela minha cabeça e me

deixou tonta. Eu podia ver tudo tão claramente - o sol que me deixava cega, as ondas de calor

que saiam do concreto enquanto eu corria enlouquecidamente pra encontra o vampiro sádico que

queria me torturar até a morte. James na sala dos espelhos com a minha mãe como refem - ou

pelo menos eu pensava. Eu não sabia que era tudo uma armação. Assim como James não sabia

que Edward estava correndo pra me salvar; Edward chegou a tempo, mas foi por bem pouco. Sem

pensar, eu passei o dedo na grande cicatriz na minha mão que estava sempre um pouco mais fria

que o resto da minha pele.

Eu balancei minha cabeça, como se isso pudesse levar pra longe todas as memórias ruins - e

tentei entender o que Edward estava dizendo. Meu estômago revirou desconfortávelmente. -

Planos contingentes? - eu repetí.

- Bem, eu não ia continuar vivendo sem você. - Ele rolou os olhos como se o fato fosse

infantilmente óbvio. - Mas eu não tinha certeza de como poderia fazer isso, eu sabia que Emmett e

Jasper nunca iam me ajudar... então eu pensei que poderia ir para a Itália e fazer alguma coisa

pra provocar os Volturi.

Eu não queria acreditar que ele estava falando sério, mas seus olhos dourados estavam

distantes, focados em algum lugar longínguo como se ele estivesse contemplando o fim da sua

vida. De repente eu estava furiosa.

- O que é Volturi? - eu quis saber.

- Os Volturi são uma família - ele explicou, seus olhos ainda distantes. - Uma família muito

velha e muito poderosa, da nossa espécie. Eles são a coisa mais próxima no nosso mundo da

família real, eu acho. Carlisle viveu brevemente com eles nos seus anos mais jovens, na Itália,

antes de se ascentar na América- você lembra da história?

- É claro que eu lembro.

Eu jamais esqueceria a primeira vez que fui a casa dele, a enorme mansão branca no meio

da floresta ao lado do rio, ou da sala onde Carlisle - Pai de Edward em muitas formas reais -

mantinha uma parede com pinturas que ilustravam a sua história pessoal. A tela mais vívida, com

as cores mais vivas de lá, a maior, era dos tempos de Carlisle na Itália. É claro que eu me

lembrava do calmo quarteto de homens, cada um com seu estranho rosto de serafim, pintados no

balcão mais alto tirando a atenção do restante das cores.

Apesar da pintura ser antiga, Carlisle - o anjo loiro - permanecia igual. E eu me lembreva dos

outros, as antigas companhias de Carlisle. Edward nunca usou o nome Volturi para o lindo trio,

dois de cabelos pretos e um branco-neve. Ele os havia chamado de Aro, Caius e Marcus, os

patronos noturnos das artes.

- De qualquer forma, você não deve irritar os Volturi - Edward continuou, interrompendo

meu revival. - Não a não ser que você queira morrer, ou o que quer que seja o que nós fazemos. -

A voz dele estava tão calma, que ele quase parecia entediado com o pensamento.

Minha raiva se transformou em horror. Eu peguei seu rosto de mármore entre minhas mãos

e segurei com muita força.

- Você não deve mais pensar nisso nunca, nunca, nunca mais! - eu disse. - Não importa o

que possa acontecer comigo, você não tem permissão pra se machucar!

- Eu nunca vou te colocar em risco de novo, então isso é inútil.

- Me colocar em risco! Eu pensei que já tínhamos estabelecido que a má sorte é minha

culpa! - eu estava ficando com mais raiva.

- Como é que você ousa pensar em uma coisa dessas? - a idéia de Edward deixando de

existir, mesmo eu estando morta, era impossivelmente dolorosa.

- O que você faria se a situação fosse contrária? - ele perguntou.

- Não é a mesma coisa.

Ele não pareceu ver a diferença. Ele gargalhou.

- E se alguma coisa acontecesse com você? - eu embranquecí com o pensamento.

- Você ia querer que eu me matasse?

Um traço de dor tocou seu rosto perfeito.

- Eu acho que entendo seu ponto de vista... um pouco - ele admitiu.

- Mas o que é que eu faria sem você? O que quer que você fazia antes de eu aparecer e

complicar a sua existância.

Ele suspirou. - Você faz parecer tão fácil.

- Devia ser. Eu não sou assim tão interessante.

Ele estava quase discutindo, mas então eu soltei o rosto dele. - Isso é inútil - ele me

lembrou. De repente ele se sentou ficando numa postura mais formal, me colocando de lado até

que não estávamos mais nos tocando.

- Charlie? - eu adivinhei.

Edward sorriu. Depois de um momento, eu ouví o som da viatura policial entrando na

garagem. Eu me inclinei e segurei a mão dele firmemente. Meu pai podia aguentar isso.

Charlie entrou com uma caixa de pizza nas mãos.

- Oi, crianças - ele sorriu pra mim. - Eu achei que você gostaria de uma folga da cozinha e

dos pratos e pelo seu aniversário. Com fome?

- Claro. Obrigada, Pai.

Charlie não comentou a aparente falta de apetite de Edward. Ele já estava acostumado em

ver Edward pulando o jantar.

- Você se incomoda se eu pegar Bella emprestada hoje á noite? - Edward perguntou quando

Charlie e eu havíamos terminado.

Eu olhei pra Charlie esperançosamente. Talvez ele tivesse algum conceito sobre aniversários

em casa, coisas de família, esse era o meu primeiro aniversário com ele, meu primeiro aniversário

desde que minha mãe, Renée, casou de novo e foi pra Flórida, por isso eu não sabia o que

esperar.

- Tudo bem, os Mariners vão jogar com os Sox hoje. - Charlie explicou e minha esperança

desapareceu. - Então eu não vou ser uma boa companhia... Aqui. - Ele levantou a câmera que me

deu por sugestão de Renée (porque eu precisaria de fotos pra encher meu livro de recordações), e

jogou pra mim.

Ele já devia saber, eu sempre tive problemas de coordenação. A câmera escorregou da

ponta dos meus dedos, e foi caindo no chão.

Edward a agarrou antes que ela se espatifasse na madeira.

- Bela pegada - Charlie reparou. - Se eles vão fazer alguma coisa divertida essa noite na casa

dos Cullen, Bella, você devia fotografar. Você sabe como sua mãe fica, ela vai querer ver as fotos

antes que você possa tirá-las.

- Boa idéia, Charlie - Edward disse, me passando a câmera.

Eu virei a câmera pra Edward, e tirei a primeira foto. - Funciona.

- Que bom. Ei, diga olá pra Alice por mim. Já faz algum tempo que ela não vem aqui - A

boca de Charlie caiu de um dos lados.

- São só três dias, pai - eu lembrei ele. Charlie estava louco por Alice. Ele se apegou na

primavera passada quando ela me ajudou na minha estranha convalescência; Charlie seria sempre

grato a ela por salvá-lo do horror de uma filha quase adulta precisando tomar banho.

- Eu digo a ela.

- OK. Divirtam-se crianças. - Obviamente estávamos sendo dispensados.

Charlie já estava indo em direção á sala e á TV.

Edward sorriu, triunfante, e pegou minha mão, me puxando pra fora da cozinha.

Quando chegamos na caminhonete, ele abriu a porta do passageiro pra mim de novo, e dessa vez

eu não discutí. Ainda era difícil encontrar o estranho retorno para a casa dele no escuro.

Edward dirigiu por Forks indo para o Norte, visivelmente vigiando o limite de velocidade

imposto pela minha Chevrolet pré-histórica.

O motor roncou ainda mais alto quando ele tentou andar a mais de cinquenta milhas.

- Vai com calma - eu avisei ele.

- Sabe o que você adoraria? Um pequeno Audi coupé. Bem quieto, muita força...

- Não há nada de errado com a minha caminhonete. E falando de coisas caras e sem

importância, se você sabe o que é bom pra você, você não gastou dinheiro com presentes de

aniversário.

- Nem um centavo - ele disse virtuosamente.

- Bom.

- Você pode me fazer um favor?

- Depende do que é.

Ele suspirou. Seu adorável rosto estava sério. - Bella, o último aniversário de verdade que

um de nós teve foi Emmett em 1935. Poupe-nos um pouco, e não seja tão difícil essa noite. Eles

estão todos muito excitados.

Sempre me surpreendia quando ele falava dessas coisas. - Tá certo, eu vou me comportar.

- Eu provavelmente devo te avisar...

- Por favor avise.

- Quando eu digo que estão todos excitados... eu quero dizer todos eles.

- Todo mundo? - eu asfixiei. - Eu pensei que Emmett e Rosalie estivessem na Africa. O resto

de Forks achava que os Cullen mais velhos haviam ido para a faculdade, em Dartmouth, mas eu

sabia a verdade.

- Emmett queria estar aqui.

- Mas... Rosalie?

- Eu sei, Bella. Mas não se preocupe, ela vai se comportar bem.

Eu não respondi. Como se eu não fosse me preocupar, assim tão fácil. Diferente de Alice, a

outra irmã "adotiva" de Edward, a loira e notável Rosalie, não gostava muito de mim. Na verdade,

o sentimento era um pouco mais forte que isso. Quando se tratava de Rosalie, eu era uma intrusa

que sabia o segredo da família.

Eu me sentia horrivelmente culpada pela presente situação, achando que a ausência de

Emmet e Rosalie fosse por minha culpa, mesmo não gostando muito de ver ela, de Emmett, o

irmão urso de Edward, eu sentia falta. Ele era de muitas formas, o irmão mais velho que eu

sempre quis ter... só que era muito, muito mais aterrorizante.

Edward decidiu mudar de assunto. - Então, se você não quer me deixar te comprar um Audi,

tem alguma coisa que você queira de aniversário?

As palavras saíram num sopro. - Eu sei o que eu quero.

Uma profunda carranca fez linhas na testa dele. Ele obviamente preferia ter ficado no

assunto de Rosalie.

Eu sentia que havíamos tido muito essa discussão hoje.

- Hoje não, Bella, por favor.

- Bem, talvez Alice me dê o que eu quero.

Edward rosnou - um som profundo de ameaça. - Esse não vai ser o seu último aniversário,

Bella - ele prometeu.

- Isso não é justo!

Eu achei ter ouvido seus dentes se cerrando.

Nós estávamos parando na frente da casa dele agora. Luzes claras brilhavam de todas as

janelas nos dois primeiros andares. Uma longa fila de lanternas Japonesas estava pendurada nos

arcos do portal da entrada, refletindo um leve brilho que vinha das enormes árvores que cercavam

a casa. Grandes vasos de flores - rosas cor de rosa - enchiam a larga escadaria que levava até a

porta.

Eu gemí.

Edward respirou fundo algumas vezes pra se acalmar também.

- Isso é uma festa - ele me lembrou. - Tente se divertir.

- Claro - eu murmurei.

Ele deu a volta para abrir minha porta, e me ofereceu sua mão.

- Eu tenho uma pergunta.

Ele esperou cautelosamente.

- Se eu revelar esse filme - eu disse, brincando com a câmera nas mãos - Você vai aparecer

nas fotos?

Edward começou a rir. Ele me ajudou a sair do carro, me levou pelas escadas, e ainda

estava rindo quando abriu a porta pra mim.

Eles estavam todos esperando na enorme sala de estar branca; quando eu entrei pela porta

eles me receberam com um enorme coro de "Feliz aniversário, Bella!” enquanto eu corava e

olhava pra baixo. Alice, eu acho, tinha cobrido todas as superfícies planas com velas cor de rosa e

dezenas de vasos de cristal com centenas de rosas. Havia uma mesa coberta com uma toalha

branca ao lado do grande piano de Edward, haviam um grande bolo cor de rosa sobre ela, mais

rosas, uma pilha de pratos de vidro, e uma pequena pilha de presentes cobertos com papel

prateado.

Era cem vezes pior do que eu havia imaginado.

Edward, sentindo meu estresse, passou uma braço encorajador pela minha cintura e deu um

beijo no topo da minha cabeça.

Os pais de Edward, Carlisle e Esme, impossívelmente jovens e amáveis como sempre, eram

os mais próximos da porta. Esme me abraçou cuidadosamente, seu cabelo macio, cor de caramelo

alisando minha bochecha quando ela deu um beijo na minha testa, e então Carlisle colocou seu

braço ao redor dos meus ombros.

- Desculpe por isso, Bella - ele meio que sussurrou. - Nós não pudemos deter Alice.

Rosalie e Emmett estavam atrás deles. Rosalie não sorriu, mas pelo menos não me encarou.

O rosto de Emmett estava envolvido num enorme sorriso. Já faziam meses que eu não os via; eu

tinha esquecido do quanto Rosalie era bonita - quase doía olhar pra ela. E Emmett sempre foi

tão... grande?

- Você não mudou nada - Emmett disse com falso desapontamento. - Eu esperava ver uma

diferença notável, mas aqui está você, com o rosto vermelho como sempre.

- Muito obrigada, Emmett - eu disse, ficando mais vermelha ainda.

Ele sorriu. - Eu tenho que sair rapidinho - ele piscou eminentemente pra Alice. - Não faça

nada engraçado até eu voltar.

- Eu vou tentar.

Alice soltou a mão de Jasper e se aproximou... todos os seus dentes brilhando na luz clara.

Jasper sorria também, mas continuou distante. Ele se encostou, alto e loiro, no pilar no início da

escadas.

- Durante os dias que havíamos passado juntos em Phoenix, eu achava que ele havia lidado

com a sua aversão á mim. Mas ele voltou a ser como sempre - me evitando o máximo possível -

no exato momento que se livrou da obrigação temporária de me proteger.

Eu sabia que não era pessoal, só precaução, e eu tentei não ser sensível demais em relação

á isso. Jasper que tinha mais problemas na convivência com os Cullen por causa da dieta do que

os outros; o cheiro do sangue humano era muito mais difícil pra ele resistir do que pros outros -

ele não estava tentando a tanto tempo.

- Hora de abrir os presentes - Alice declarou. Ela colocou sua mão gelada no meu cotovelo e

me guiou até a mesa com o bolo e os pacotes brilhantes.

Eu fiz minha melhor cara de mártir.

- Alice, eu sei que te disse que não queria nada.

- Mas eu não te ouví - ela me interrompeu, presumida. - Abra. - Ela pegou a câmera das

minhas mãos e a trocou por uma caixa enorme e prateada.

A caixa estava tão leve que parecia vazia. A etiqueta em cima dizia que era de Emmett,

Rosalie e Jasper. Envergonhada, eu rasguei o papel e olhei pra ver o que a caixa escondia.

Era algo elétrico, com um monte de números no nome. Eu abrí a caixa, esperando por uma

iluminação maior. Mas a caixa estava vazia.

- Um... Obrigada.

Rosalie realmente sorriu. Jasper gargalhou. - É um som para a sua caminhonete - ele

explicou. - Emmett está instalando agora mesmo pra que você não possa devolver.

Alice como sempre estava um passo á minha frente.

- Obrigada, Jasper, Rosalie - eu disse sorrindo, enquanto lembrava das reclamações de

Edward sobre o meu rádio esta tarde - tudo armação, aparentemente. - Obrigada, Emmett! - eu

disse mais alto.

Eu ouví a risada expansíva dele na minha caminhonete, e não pude evitar de rir também.

- Agora abra o meu e o de Edward - Alice disse, ela estava tão excitada que sua voz era só

um ruído alto de alegria. Ela segurou um quadrado achatado nas mãos.

Eu me virei pra encarar Edward. - Você prometeu.

Antes que ele pudesse responder, Emmett entrou por adentro. - Bem na hora! - ele disse

alegremente. Ele se empurrou atrás de Jasper, que também tinha chegado mais perto que de

costume pra dar uma boa olhada.

- Eu não gastei um centavo - Edward me assegurou. Ele tirou uma mecha de cabelo do meu

rosto, deixando minha pele com cócegas pelo seu toque.

Eu inalei profundamente e olhei pra Alice. - Dê pra mim. - Eu suspirei.

Emmett gargalhou deliciado.

Eu peguei o pequeno pacote, rolando meus olhos pra Edward enquanto colocava meu dedo

na boda do papel e o puxava por baixo da fita.

- Droga - eu murmurei quando o papel cortou meu dedo; eu o puxei pra examinar o estrago.

Uma pequena gota de sangue saia do pequeno corte.

Depois disso tudo aconteceu muito rápido.

- Não! - Edward rugiu.

Ele se jogou por cima de mim, me jogando por cima da mesa. Ela caiu, assim como eu,

derrubando o bolo, os presentes, as flores e os pratos. Tudo caiu numa bagunça de cristais

quebrados. Jasper se chocou contra Edward, e o som pareceu com o de um deslizamento de

pedras.

Houve outro barulho, um terrível rosnado que parecia ter saído de dentro do peito de Jasper.

Jasper tentou passar por Edward, mostrando seus dentes a apenas alguns centímetros do

rosto de Edward.

Emmett pegou Jasper por trás no outro segundo, prendendo ele no seu volumoso aperto de

aço, mas Jasper lutou com ele, seus olhos, selvagens, vazios, só se focavam em mim.

Depois do choque só ficou a dor. Eu caí no chão ao lado do piano, com meus braços jogados

pra trás instintivamente pra aparar a minha queda, jogando-os nos cacos de vidro quebrado.

Só agora eu sentia a dor queimando, pulsante, que corria desde o meu pulso até a dobra do

meu cotovelo.

Confusa e desorientada, eu olhei pra cima por causa do sangue pulsante que saía do meu

braço - e olhei para os olhos de seis vampiros repentinamente vorazes.

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