27 de junho de 2009

Capitulo 20 - Volterra

20. VOLTERRA


Nós começamos a subir a entrada íngreme, e a estrada ficou congestionada. Quando nós

chegamos mais alto, os carros estavam muito próximos uns dos outros então Alice não podia mais

atravessar entre eles como uma insana. Nós paramos uma fila atrás de um pequeno Peugeot.

- Alice - eu gemí. O relógio na torre parecia estar correndo mais rápido.

- É o único jeito de entrar - ela tentou me acalmar. Mas a voz dela estava muito tensa pra

confortar.

Os carros continuaram a andar pra frente, uma carro lentamente de cada vez. O sol brilhou

com força, parecendo que já estava no centro do céu.

Os carros entraram um a um na cidade. Enquanto nos aproximávamos, eu podia ver os

carros sendo estacionados de um dos lados da estrada e pessoas saindo pra fazer seu caminho a

pé. Primeiro eu achei que isso fosse só impaciencia - coisa que eu podia entender facilmente. Mas

depois nós entramos numa rua, e eu podia ver o estacionamento cheio, do lado de fora da cidade,

as multidões de pessoas entrando pelos portões. Ninguém estava tendo permissão pra entrar de

carro.

- Alice - eu sussurrei urgentemente.

- Eu sei - ela disse. O rosto dela parecia esculpido no gelo.

Não que eu estivesse olhando, e nós estavamos rastejando lentamente o suficiente pra que

eu visse, mas eu podia dizer que estava ventando muito.

As pessoas se aglomerando na direção do portão agarravam seus chapéus e tiravam os

cabelos da frente do rosto. Suas roupas estavam grudando em seus corpos. Eu também percebí

que a cor vermelha estava em todo lugar. Camisas vermelhas, chapéus vermelhos, bandeiras

vermelhas balançando como laços ao lado da ponte, balançando com o vento - enquanto eu

estava observando, uma brilhante echarpe escarlate que uma mulher havia amarrado na cabeça

foi levada numa rajada repentina. Ela balançou no ar em cima da mulher, se movendo como se

estivesse viva. A mulher tentou alcansar, pulando no ar, mas ela continuou subindo mais alto, uma

rastro de sangue nas paredes sombrias, ansiãs.

- Bella - Alice falou rapidamente numa voz feroz, lenta. - Eu não consigo ver aqui o que o

guarda vai decidir, se isso não funcionar, você vai ter que ir sozinha. Você vai ter que correr.

Continue perguntando pelo Palazzo dei Priori, e correndo na direção que eles te apontarem. Não

se perca.

- Palazzo dei Priori, Palazzo dei Priori - eu repeti o nome de novo e de novo, tentando

decorar.

- Ou 'a torre do relógio' se eles falarem Inglês. Eu vou dar a volta e tentar encontrar um

lugar vazio atrás da cidade onde eu posso pular os muros.

Eu balancei a cabeça. "Palazzo dei Priori".

- Edward vai estar embaixo da torre do relógio, ao norte da praça. La ha uma ruela estreita

na direita, e ele estará nas sombras lá. Você tem que atrair a atenção dele antes que ele saia para

o sol.

Eu balancei a cabeça furiosamente.

Alice estava perto do fim da fila. Um homem num uniforme azul marinho estava

direcionando a fluência do trânsito, afastando os carros do estacionamento vazio. Eles faziam uma

curva em U e tentavam encontrar uma vaga perto da estrada. E então era a vez de Alice.

O homem uniformizado acenou preguiçosamente, sem prestar atenção. Alice acelerou,

cercando ele e indo na direção do portão. Ele gritou alguma coisa pra nós, mas continuou no

lugar, acenando freneticamente pra evitar que o próximo carro seguisse o mal exemplo.

O homem no portão usava um uniforme combinando. Enquanto nos aproximamos dele, as

multidões de turistas passavam, enchendo as calçadas, olhando curiosamente para o Porshe

chamativo, brilhante.

O guarda pisou no meio da estrada. Alice fez um ângulo com o carro antes de pará-lo

completamente. O sol batia na minha janela, e ela estava numa sombra. Ela rapidamente alcançou

a parte de trás do banco e tirou alguma coisa de dentro da bolsa dela.

O guarda se aproximou do carro com uma expressão irritada, e deu umas batidinhas

raivosas na janela dela.

Ela abriu a janela até a metade, e eu observei ele olhar duas vezes quando viu o rosto atrás

do vidro.

- Eu lamento, apenas ônibus de excursões são permitidos na cidade hoje, senhorita - Ele

disse em Inglês, com um sotaque pesado. Ele parecia pedir desculpas, agora, como se desejasse

ter boas notícias pra dar pra uma mulher arrebatadoramente linda.

- É uma excursão - Alice disse, dando um sorriso sedutor. Ela colocou a mão pra fora da

janela, na luz do sol. Eu congelei, até que eu percebí que ela estava usando uma luva curtida, na

altura do cotovelo.

Ele pegou a mão dela, que ainda estava levantada pela batidinha na janela, e a colocou

dentro do carro. Ela colocou alguma coisa na palma dele, e dobrou os dedos dele em cima disso.

O rosto dele estava confuso quando ele tirou a mão e olhou para o grosso rolo de dinheiro

que ele agora segurava. A última nota era uma de mil dólares.

- Isso é uma piada? - ele murmurou.

O sorriso de Alice foi deslumbrante. - Só se você achar engraçado.

Ele olhou pra ela, com os olhos arregalados. Eu olhei nervosamente para o relógio se

mexendo. Se Edward continuasse com o seu plano, nós só tínhamos mais cinco minutos.

- Eu estou com um tantinho assim de pressa - ela assobiou, ainda sorrindo.

O guarda piscou duas vezes, e depois enfiou o dinheiro no seu casaco. Ele deu um passo pra

longe da janela e acenou pra nós. Nenhuma das pessoas passando por nós pareceu perceber a

grande mudança. Alice dirigiu para a cidade, e nós duas suspiramos aliviadas.

A rua era muito estreita, coberta com pedras da mesma cor enquanto as paredes de uma

cor canela que estava desaparecendo escureciam a rua com o seu tom de cor.

Paredes vermelhas decoravam as paredes, a apenas uns centímetros uma da outra, balançando

com o vento e assobiava pela estreita passagem.

Tudo estava lotado, e o trânsito dos pedestres atrapalhou o nosso progresso.

- Só um pouco mais á frente - Alice me encorajou; eu estava agarrando a maçaneta da

porta, preparada pra me jogar na rua assim que ela falasse a palavra.

Ela dirigiu fazendo rápidos avanços e dando paradas repentinas, e as pessoas na multidão

mostravam o punho pra nós e diziam palavras raivosas que eu estava feliz por não conseguir

entender.

Ela fez uma curva num pequeno espaço que não podia estar reservado para os carros; as

pessoas chocadas tinham que se espremer nas entradas das casas enquanto passavamos por elas.

Nós encontramos outra estrada no final. Os prédios eram mais altos aqui; eles se estendiam para

a frente então nenhum sol tocava o chão - as bandeiras balançando nas paredes dos dois lados

quase se encontravam. A multidão estava maior aqui do que nos outros lugares. Alice parou o

carro. Eu já tinha aberto a porta antes que estivéssemos completamente parados.

Ela apontou para onde a rua se alargava no caminho de uma abertura brilhante.

- Alí, nos estamos no lado sudoeste da praça. Corra diretamente até o outro lado, para a

direita da torre do relógio. Eu vou encontrar um caminho dando a volta.

A respiração dela se prendeu de repente, e quando ela falou de novo, a voz dela era um

assibio. - Eles estão em todo lugar?

Eu congelei no lugar, mas ela me empurrou do carro. - Esqueça eles. Você tem dois minutos.

Vai, Bella, vai! - ela gritou, saindo do carro enquanto falava.

Eu não parei pra ver Alice se misturar ás sombras. Eu não parei pra fechar a porta atrás de

mim. Eu empurrei uma mulher pesada pra fora do meu caminho e continuei correndo para a

frente, a cabeça abaixada, prestando pouca atenção em outra coisa que não fosse o caminho de

pedras embaixo dos meus pés.

Saindo da rua escura, eu fiquei cega pela claridade do sol batendo na praça principal. O

vento fez barulho passando por mim, jogando meus cabelos nos meus olhos e me cegando mais

ainda. Não era de se surpreender que eu não tivesse visto a parede de gente até que eu esbarrei

nela.

Não haviam nenhum caminho, nenhuma fenda entre os corpos pressionados juntos. Eu

empurrei eles furiosamente, lutando com as mãos que apareceram de volta.

Eu ouví exclamações de raiva e até mesmo de dor enquanto eu batalhava pra abrir meu

caminho, mas nenhuma delas em uma linguagem que eu compreendesse.

O rosto deles era um vulto de raiva e surpresa, cercados pelo vermelho sempre presente.

Uma mulher loura olhou zangada pra mim, e a echarpe vermelha amarrada no pescoço dela

parecia uma ferida grotesca. Uma criança, levantada no ombro de um homem pra ver por cima da

multidão, sorriu pra mim, os dentes dele escondidos embaixo de uma dentadura de plástico com

presas de vampiro.

A multidão passava ao meu redor, me virando na direção errada. Eu estava feliz pelo relógio

ser tão visível, ou eu nunca teria sido capaz de seguir o meu curso corretamente. Os dois

ponteiros do relógio estavam apontados pra cima para o sol impiedoso, e, apesar de eu me jogar

violentamente contra a multidão, eu sabia que era tarde demais. Eu não estava nem no meio do

caminho. Eu era uma humana estúpida e lenta, e todos nós íamos morrer por causa disso.

Eu esperava que Alice conseguisse. Eu esperava que ela me visse das sombras escuras e

soubesse que eu havia falhado, assim ela podia voltar pra casa pra Jasper. Eu escutei, por cima

das exclamações de raiva, tentando ouvir o som da descoberta: os cochichos, talvez os gritos,

quando Edward se mostrasse para alguém.

Mas ouve um espaço entre a multidão - eu podia ver um espaço vazio á frente. Eu empurrei

urgentemente em diração a ele, sem me dar conta até que eu machuquei minhas canelas nos

tijolos, de que era uma grande fonte quadrada, que ficava no centro da praça.

Eu estava preticamente chorando de alívio enquanto mergulhava minha perna por cima da

parede e corria pela água que ficava na altura do joelho. Ela respingava inteira em mim no meu

caminho pela fonte. Mesmo no sol, o vento era glacial, e o molhado na verdade faziam o frio doer.

Mas a fonte era muito larga; ela me ajudou a passar pelo centro da praça e um pouco mais

adiante em meros segundos.

Eu não parei quando alcancei a outra ponta - eu usei a parede baixa pra me impulsar, me

jogando em cima da multidão.

Agora eles se moviam prontamente pra me dar passagem, evitando a água gelada que

pingava das minhas roupas enquanto eu corria. Eu olhei para o relógio de novo.

Um barulho profundo, estrondoso invadiu a praça nesse momento. Ele fez as pedras

tremerem embaixo dos meus pés. As crianças choravam cobrindo os ouvidos. E eu comecei a

gritar enquanto corria.

- Edward! - eu gritei, sabendo que era inútil. A multidão falava alto demais, e minha voz

estava sem fôlego de exaustão. Mas eu não podia parar de gritar.

O relógio bateu de novo. Eu corrí por uma criança nos braços da mãe - o cabelo dele era

quase branco deslumbrante luz do sol. Um círculo homens altos, todos usando blazers vermelhos,

chamaram dando avisos quando eu esbarrei com eles. O relógio bateu de novo.

No outro lado dos homens de blazer, havia uma folga na multidão, um espaço entre os

passantes que andavam á toa ao meu redor. Meus olhos procuravam na estreita passagam escura

á direita do grande edifício quadrado embaixo da torre. Eu não conseguia ver o nível da rua -

ainda haviam muitas pessoas no caminho. O relógio bateu de novo.

Agora era difícil de ver. Sem a multidão pra parar o vento, ele batia no meu rosto e fazia

meus olhos arderem. Eu não tinha certeza de que essa era a razão por baixo das minhas lágrimas,

ou se eu estava chorando de derrota quando o relógio bateu novamente.

Uma pequena família de quatro era a que estava mais próxima da entrada da ruela. Duas

garotas usavam vestidos escarlates, com laços combinando presos atrás da cabeça. O pai não era

alto. Parecia que eu podia ver alguma coisa brilhando nas sombras, bem acima do ombro dele. Eu

corrí na direção deles, tentando ver através das lágrimas. O relógio bateu, e a garota menor

colocou as mãos nos ouvidos.

A garota maior, que ficava na altura da cintura da mãe, agarrou a perna da mãe e olhou

para a escuridão atrás deles.

Enquanto eu observava, ela cutucou o cotovelo da mãe e apontou para a escuridão atrás

deles.

O relógio bateu e eu estava muito perto agora.

Eu estava perto o suficiente pra ouvir a voz aguda dela. O pai dela olhou pra mim supreso

quando eu corrí na direção deles, gritando o nome de Edward de novo e de novo.

A garota mais velha deu uma risadinha e disse alguma coisa para a mãe, fazendo gestos

impacientes de novo na direção das sombras.

Eu me desviei do pai - ele tirou o bebê do meu caminho - e corrí na diração da brecha

luminosa atrás deles enquanto o relógio batia de novo.

- Edward, não! - mas minha voz estava perdida por causa do barulho das badaladas.

Eu podia vê-lo agora. E eu podia ver que ele não podia me ver.

Realmente era ele, nada de alucinações dessa vez. E eu me dei conta de que as minhas

alucinações eram mais falhas do que eu imaginava; elas nunca o fariam justiça.

Edward estava parado, imóvel como uma estátua, só a alguns passos do fim da ruela. Seus

olhos estavam fechados, os círculos embaixo deles eram de um roxo escuro, os braços estavam

relaxados ao lado dele, suas palmas viradas pra frente.

A expressão dele era muito tranquila, como se ele estivesse sonhando com coisas

agradáveis. A pele do seu peito de mármore estava nua - havia uma fina camada de tecido branco

sobre os seus pés. A luz refletindo da calçada da praça refletia fracamente na pele dele.

Eu nunca havia visto nada mais lindo - mesmo estando correndo, sem fôlego e gritando, eu

podia apreciar isso. E os últimos meses não significaram nada. E eu não me importava se ele não

me queria. Eu nunca iria querer nada além dele, não importava quanto tempo eu vivesse.

O relógio bateu, e ele deu um longo passo em direção á luz.

- Não! - eu gritei. - Edward, olhe pra mim!

Ele não estava ouvindo. Ele estava sorrindo muito levemente. Ele ergueu o pé pra dar o

próximo passo que o colocaria diretamente na direção do sol.

Eu me choquei com ele com tanta violência que a força teria me jogado no chão se os

braços dele não tivessem me pego e me segurado.

O impacto me deixou sem fôlego e fez minha cabeça pular pra trás.

Seus olhos se abriram lentamente enquanto o relógio badalava de novo.

Ele olhou pra mim com uma surpresa silenciosa.

- Incrível - ele disse, sua voz primorosa estava maravilhada, um pouco divertida. - Carlisle

estava certo.

- Edward - eu tentei asfixiar, mas minha voz não fazia som. - Você tem que voltar para as

sombras. Você precisa se mover!

Ele parecia contente. A mão dele alisava suavamente a minha bochecha. Ele não parecia

reparar que eu estava tentado forçá-lo pra trás. Pelo progresso que eu estava fazendo era melhor

estar empurrando uma parede. O relógio badalou de novo, mas ele não se mexeu.

Era muito estranho, até onde eu sabia nós dois estávamos em perigo mortal. Mesmo assim,

naquele instante, eu me sentia bem. Completa. Eu podia sentir meu coração disparado no meu

peito, o sangue pulsando quente e rápido nas minhas veias de novo. Meus pulmões estavam

cheios com o doce cheiro que vinha da pele dele. Era como se nunca houvesse existido um buraco

no meu peito. Ele estava perfeito - não curado, mas era como se ele nunca tivesse estado lá pra

começar.

- Não dá pra acreditar no quanto foi rápido. Eu não sentí nada, eles foram muito bons - ele

meditou, fechando os olhos de novo e pressionando os lábios no meu cabelo. A voz dele era como

mel e veludo. - Morte, que sugou o mel da tua respiração, não teve nenhum poder contra a tua

beleza - ele murmurou, e eu reconhecí a fala dita por Romeu na tumba.

O relógio deu sua última badalada - Você cheira exatamente igual - ele continuou. - Então

talvez isso seja o inferno. Eu não me importo. Eu fico com ele.

- Eu não estou morta - eu interrompí. - E nem você! Por favor, Edward, nós temos que nos

mover. Eles não podem estar muito longe.

Eu lutei nos braços dele, eles ergueu as sobrancelhas confuso.

- Como é isso? - ele perguntou educadamente.

- Nós não estamos mortos, ainda não! Mas nós temos que sair da luz antes que os Volturi...

A compreensão foi penetrando o rosto dele enquanto eu falava. Antes que eu pudesse

terminar de falar, ele de repente me arrastou da margem das sombras, me girando sem esforço

até que as minhas costas estivessem espremidas na parede de tijolos, e as costas dele estavam

viradas pra mim enquanto ele encarava a ruela. Os braços dele se abriram, me protegendo, na

minha frente.

Eu olhei por baixo dos braços dele pra ver duas figuras escuras que se destacavam na

escuridão.

- Saudações, cavalheiros - a voz de Edward estava calma e prazeirosa, na superfície. - Eu

não acho que estarei necessitando dos seus serviços hoje. Eu agradeceria muito, no entanto, se

vocês enviassem meus agradecimentos aos seus mestres.

- Vamos levar essa conversa para um local mais apropriado? - uma voz suave sussurrou

ameaçadoramente.

- Eu não acredito que isso vá ser necessário - a voz de Edward estava mais dura agora. - Eu

conheço as suas instruções, Felix. Eu não quebrei nenhuma das regras.

- Felix estava meramente tentando apontar a proximidade do sol - a outra sombra disse com

um tom suavizante.

Eles dois estavam ocultos em mantos cinzentos que alcançavam o chão e balançavam com o

vento. - Deixe-nos procurar um esconderijo melhor.

- Eu estarei bem atrás de vocês - Edward disse secamente. - Bella, porque você não volta

para a praça e aproveita o festival?

- Não, traga a garota - a primeira sombra disse, de alguma forma injetando um olhar

malicioso ao seu sussurro.

- Eu acho que não - A falsa civilidade havia desaparecido. A voz de Edward era plana e fria.

O peso dele se mudou um infinitésimo, e eu percebí que ele estava se preparando pra lutar.

- Não - eu só murmurei a palavra.

- Felix - a segunda sombra, mais razoável precaviu. - Aqui não. - Ele se virou pra Edward. -

Aro simplesmente gostaria de falar com você novamente, pra saber se você decidiu se juntar á

nossa força afinal.

- Certamente - Edward concordou. - Mas a garota fica livre.

- Eu temo que isso não seja possível - a educada sombra disse pesarosamente. - Nós temos

regras a obedecer.

- Então eu temo que serei incapaz de aceitar o convite de Aro, Demetri.

- Isso está bem - Felix ronronou. Meus olhos estavam se ajustando á figura profunda, e eu

conseguia ver que Felix era muito grande, alto e tinha os ombros largos. O tamanho dele me

lembrou de Emmett.

- Aro ficará decepcionado - Demetri suspirou.

- Eu tenho certeza de que ele sobreviverá ao desapontamento - Edward replicou.

Felix e Demetri se aproximaram em direção á ponta da ruela, se separando levemente pra

que se aproximassem de Edward pelos dois lados. Eles tinham a intenção de forçá-lo a entrar mais

na ruela, pra evitar uma cena. Nenhuma luz refletida entrou em contato com a pele deles; eles

estavam a salvo dentro de suas mantas.

Edward não se moveu um centímetro. Ele estava usando seu corpo pra me proteger.

Abruptamente, a cabeça de Edward se virou, na direção da escuridão da ruela ventosa, e

Demetri e Felix fizeram o mesmo, em resposta a um movimento muito súbito para os meus

sentidos.

- Vamos nos comportar, sim? - uma voz alegre sugeriu. - Têm damas presentes.

Alice caminhou lentamente para o lado de Edward, sua posição casual.

Não havia nenhum sinal de tensão escondida. Ela parecia tão pequena, tão frágil. Os

pequenos braços dela se movimentavam como os de uma criança.

Mesmo assim, tanto Demetri quanto Felix ficaram rígidos, suas mantas balançando

lentamente quando uma rajada de vento passou pela ruela. O rosto de Felix se azedou.

Aparentemente, eles não gostavam de números iguais.

- Nós não estamos sozinhos - ela lembrou eles.

Demetri olhou por cima do ombro. A alguns metros dentro da praça, a pequena família, com

as garotas com os vestidos vermelhos, estavam olhando pra nós. A mãe estava falando

urgentemente com o marido, os olhos dela em nós cinco. Ela desviou o olhar quando Demetri

olhou pra ela. O homem caminhou alguns centímetros pra dentro da praça e cutucou o ombro de

um dos homens com o blazer vermelho.

Demetri balançou a cabeça. - Por favor, Edward, sejamos razoáveis - ele disse.

- Vamos - Edward concordou. - E nós vamos embora silenciosamente agora, sem que

nenhum seja o mais esperto.

Demetri suspirou de frustração. - Pelo menos vamos discutir isso mais reservadamente.

Seis homens de vermelhos se juntaram á familia agora enquanto eles nos observavam

curiosamente. Eu estava muito consciente da postura protetora de Edward na minha frente, certa

de que era isso que estava causando o alarme deles. Eu queria gritar pra que eles corressem.

Os dentes de Edward se chocaram audivelmente. - Não.

Felix sorriu.

- Basta.

A voz era alta, cheia de pretensão, e veio de trás de nós.

Eu olhei por baixo do outro braço de Edward, pra ver uma pequena figura andando na nossa

direção. Pelo jeito que as formas se balançavam, eu podia dizer que era outro deles. Quem mais?

No começo, eu pensei que fosse um garotinho. O recém chegado era tão pequeno como

Alice, com um cabelo fino, de um marrom pálido cortado curto. O corpo embaixo da manta - que

era mais escura, quase preta - era magro e andrógeno. Mas o rosto era bonito demais pro ser de

um garoto. O rosto de olhos grandes, lábios cheios faria um anjo de Botticelli parecer um gárgula.

Mesmo por baixo das íris vermelhas.

O tamanho dela era tão insignificante se comparado á reação que ela causou que eu fiquei

confusa. Felix e Demetri relaxaram imediatamente, saindo de suas posturas defensívas pra se

misturar novamente ás sombras das paredes muito altas.

Edward também baixou os braços e relaxou da sua posição - mas em desistência.

- Jane - ele suspirou em reconhecimento e resignação.

Alice cruzou os braços na frente do peito, sua expressão impassiva.

- Sigam-me - Jane falou de novo, a voz infantil dela era monótona.

Ela deu as costas pra nós e se enfiou silenciosamente nas sombras.

Felix fez um gesto pra nós irmos na frente, sorrindo.

Alice seguiu a pequena Jane imediatamente. Edward passou os braços na minha cintura e

me puxou pra seguirmos ela.

A ruela fazia levemente um ângulo pra baixo enquanto se estreitava. Eu olhei pra ele com

perguntas frenéticas nos meus olhos, mas ele só balançou a cabeça. Apesar de eu não conseguir

ouvir os outros atrás de nós, eu tinha certeza de que eles estavam lá.

- Bem, Alice - Edwad disse conversionalmente enquanto caminhávamos. - Eu creio que não

devo ficar surpreso por te ver aqui.

- Foi meu erro - Alice respondeu no mesmo tom. - Era meu trabalho concertar as coisas.

- O que aconteceu? - a voz dele era educada, como se ele mal estivesse interessado. Eu

imaginei que isso se devia aos ouvidos escutando atrás de nós.

- É uma longa história. - Os olhos de Alice olharam pra mim e depois se desviaram. - Em

resumo, ela pulou do precipício, mas ela não estava tentando se matar. Bella anda praticando

esportes radicais ultimamente.

Eu corei e virei minha cabeça diretamente pra frente, olhando para a sombra escura que eu

nem conseguia mais enxergar. Eu podia imaginar o que ele estava ouvindo nos pensamentos de

Alice agora. Quase afogamentos, perseguições de vampiros, amigos lobisomens...

- Hm - Edward disse curtamente, e o tom casual da voz dele havia desaparecido.

Havia uma curva larga na ruela, ainda numa descida, então eu não havia visto o fim da rua

quadrado se aproximando até que nós nos aproximamos da parede plana, sem janelas. A pequena

chamada Jane não estava em nenhum lugar que eu pudesse ver.

Alice não hesitou, nem parou de andar enquanto se aproximava da parede de tijolos. Então

com uma graciosidade fácil, ela escorregou por um buraco aberto na rua.

Ele parecia com um ralo, aberto no ponto mais baixo da calçada. Eu não tinha reparado até

Alice desaparecer, mas a grade estava meio levantada. O buraco era pequeno, e escuro.

Eu empaquei.

- Está tudo bem, Bella - Edward disse numa voz baixa. - Alice vai te segurar.

Eu olhei para o buraco duvidosamente. Eu imaginei que ele teria ido primeiro, se Demetri e

Felix não estivessem esperando, sorrindo silenciosamente, atrás de nós.

Eu me abaixei, colocando as pernas pra dentro do buraco apertado.

- Alice? - eu sussurrei, com a voz tremendo.

- Eu estou bem aqui, Bella - ela me assegurou. A voz dela veio de muito longe lá embaixo

pra me encontrar.

Edward agarrou meus pulsos - as mãos dele pareciam pedras no inverno - ele me baixou na

escuridão.

- Pronta? - ele perguntou.

- Solte ela - Alice disse.

Eu fechei meus olhos pra não ver a escuridão, apertando eles aterrorizada, segurando minha

boca pra não gritar. Edward me deixou cair.

Foi silencioso e curto. O ar passou por mim só por meio segundo, e então, com um excesso

de raiva quando eu exalei, os braços de Alice me agarraram.

Eu ia ficar com marcas; os braços dela eram muito duros. Ela me colocou de pé.

Estava escurecido, mas não escuro lá embaixo. A luz que vinha do buraco providenciava um

brilho fraco, se refletindo no chão molhado nos meus pés. A luz desapareceu por um segundo, e

depois Edward era um leve brilho, um brilho branco ao meu lado. Ele colocou os braços ao meu

redor, me segurando bem perto do lado dele, e começou a me guiar rapidamente para a frente.

Eu entrelacei meus dois braços ao redor da cintura fria dele, e me atrapalhava e tropeçava no meu

caminho pela superfície de pedras que não era uniforme.

O barulho estridente da grade do buraco se fechando atrás de nós soou com um som

metálico.

A luz fraca das ruas se perdeu rapidamente na escuridão. O som de passos pesados ecoou

no espaço preto; eles pareciam muito largos, mas eu não podia ter certeza. Não houve outro som

além das batidas frenéticas do meu coração e dos meus pés nas pedras molhadas - com excessão

de um, quando um suspiro impaciente soou ao meu lado.

Edward me abraçava apertado. Ela passou sua mão livre na frente do seu corpo pra segurar

meu rosto também, o seu suave polegar estava traçando o cortorno dos meus lábios. De vez em

quando eu sentia o rosto dele pressionado no meu cabelo. Eu me dei conta de que essa seria a

última reunião que teriamos, e me agarrei a ele com mais força.

Por enquanto, eu me sentí como se ele me quisesse, e isso era o sufuciente pra aplacar o

horror do túnel subterrâneo e dos vampiros que perambulavam atrás de nós. Isso provavelmente

não passava de culpa - a mesma culpa que o compeliu a vir até aqui pra morrer quando ele achou

que era culpa dele que eu tivesse me matado.

Mas eu sentí os lábios dele se pressionando silenciosamente na minha testa, e eu não me

importei com qual era a motivação. Pelo menos eu podia estar com ele de novo antes de morrer.

Isso era melhor que uma vida longa.

Eu queria poder perguntá-lo exatamente o que ia acontecer agora. Eu queria

desesperadamente saber como nós íamos morrer - como se isso fizesse diferença, como se saber

fosse uma vantagem. Mas eu não podia falar, nem um cochicho, cercados do jeito que estávamos.

Os outros podiam ouvir tudo - cada respiração que eu dava, as batidas do meu coração.

O caminho embaixo dos nossos pés continuou a ir pra baixo, nos levando pra mais fundo no

chão, e me deixando claustrofóbica. Só a mão de Edward, alisando meu rosto, estava me

impedindo de gritar bem alto.

Eu não sabia dizer de onde a luz estava vindo, mas de repente tudo ficou cinza escuro ao

invés de preto. Nós estávamos num túnel baixo, arqueado. Longos rastros de uma umidade cor de

ébano desciam pelas paredes cinza, como se elas estivessem sangrando tinta.

Eu estava tremendo, e pensei que fosse de medo. Não foi até meus dentes começarem a

bater que eu percebí que estava com frio. Minhas roupas ainda estavam molhadas, e a

temperatura embaixo da cidade era invernal. Assim como a pele de Edward.

Ele percebeu isso ao mesmo tempo que eu, e se soltou de mim, segurando apenas minha

mão.

- N-n-não - eu tremí, jogando meus braços ao redor dele. Eu não me importava se eu

congelasse. Quem sabia quanto tempo ainda teríamos?

As mãos geladas dele esfregaram o meu braço, tentando me manter aquecida com a fricção.

Nós nos apressamos pelo túnel, ou pareceu que nós estávamos apressados só pra mim.

Meu progresso lento irritou alguém - eu acho que Felix - e eu ouvia ele suspirar

profundamente de vez em quando.

No fim do túnel havia uma grade - as barras de ferro eram enferrujadas, mas tão grossas

quanto os meus braços. Uma pequena porta feita de barras mais finas, entrelaçadas, estava

aberta.

Edward se abaixou pra passar e se apressou numa sala de pedra maior, mais iluminada. As

grades se fecharam com um cling, seguido pelo barulho da maçaneta sendo trancada. Eu estava

com medo demais pra olhar atrás de mim.

Do outro lado da sala havia uma porta pesada, de madeira. Ela era muito grossa - eu podia

dizer porque, ela também, estava aberta.

Nós passamos pela porta, e eu olhei ao redor pela minha surpresa, relaxando

automaticamente.

Ao meu lado, Edward ficou tenso, a mandíbula dele se apertou.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

DeiXe Seu cOmentáRio!!